terça-feira, outubro 10, 2006












SÓS

Fora de mim distante, num mundo vago,
Eu me procuro atento e não me olho,
A confusão que provocaria seria eterna, louca,
E se eu me encontrasse, fosse como fosse:
Um mendigo inerte, recostado na parede,,
Um louco poeta embriagado, recitando versos,
Um doido varrido, ligeiro, desterrado,
Eu, calmamente, gritaria pelo meu nome.
E sem olhar alguém que em mim se encoste,
E direi: amigo, eis a mim, a tua morada.
É insuportável a dor de se estar sozinho,
Vendo no delírio o melhor e mais fiel amigo.
Estarrecido com os vôos arriscados de minha alma,
Me acomodarei, com o corpo em extremo cansaço,
E só depois, fugidio estranho, olharei em mim.
Que não seja o intento nem o gesto, calmo,
Que me irão me conduzir, julgar-me o mesmo,
Pois não sou eu quem fala, baixo, ao meu ouvido,
Assim teria de vez perdido todos os sentidos,
A fala, a voz, o olfato o cheiro, a pele, o afago,
A boca, o gosto e o beijo, a visão, o lume,
A audição, as falas que insistentemente ouço.
Partir-se é como partir de si, voar a ermo,
E o que eu procuro ensandecidamente, eu,
Pode não ocupar o mesmo espaço comigo.
Pode ser apenas, entre tantos, um bom amigo.
Ai, meus tempos de extrema solidão,
Quando orava e ouvia minha oração,
Quando eu comia e fazia a minha digestão,
Quando eu bebia e sentia a água fria,
Descendo por minha boca, e eu sabia,
De tudo o que fazia, que tudo que fazia,
Era por mim, de mim, com mais ninguém.

naeno:091006

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TERESINA

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