quarta-feira, outubro 04, 2006

- Uma mulher que atravessava o dia até pisar na noite. Que aquietava em si o desejo comum de mudar o rumo, a tendência dos dias, das horas. Uma mulher indesejada do seu tempo. Foi, por suas mãos, gerada a conveniência, pelo seu ventre talhada a coragem, a persistência, gêmeas de um mesmo parto. Essa mulher cobiçava um mundo que não conhecia. O que se lhe mostrava, cheio de mazelas, vícios; de discriminadores, e repetidores das mesmas palavras e gestos, textuais, disso ela não gostava. Como odiava o canto repetido das horas marcadas, sem ocorrências, sem acontecimentos favoráveis ao que aspirava. Essa mulher atravessou milênios, buscando um momento. E num momento viu todo o tempo passado. Desgastou-se, dividiu-se, ampliou-se para os que, como ela, sonhavam igual. O seu momento oportuno foi lançar-se, sem pressentimentos de que iriam ruir tantos sonhos acumulados, tantos intentos malogrados, porque ela, em outro espaço, noutro útero, renascida, prosseguiria com a mesma luta e objetivos de antes. E assim foi. Um dia, um rebento, contado novamente, surgiu da aurora. Um ser virtual, uma mulher igual, com diferenças distorcidas, uma aguerrida, uma idealista, por um novo mundo. O mundo prosseguia a sua velhice esperada, a sua caduquice chata, e ela o entendia, o considerava fraco. Como aos homens de pouca vontade que por todo o tempo em que se dedicara à causa de todos, ironicamente, nem ajudada, nem destacada, nem cobiçada foi. Uma guerreira renasce de si própria; se auto-gesta, e se alimenta do que cria em si de desejável, gostoso, bom e salutar. Uma guerreira geralmente luta só, por si só, em benefício de todos. Essa mulher ironicamente não nutria por ninguém nenhum ressentimento, apenas a mágoa da indiferença. Para ela, todos estavam acostumados, e já até preferiam viver e morrer nas condições a que estavam submetidos. Mas ela não. Uma mulher não se furta à vantagem de ser mulher. Na condição de fragilidade com que lhe viam ela sempre fora a mais forte e audaz. Por ela, mudanças favoráveis aconteceram, mesmo levando um milênio do tempo caduco, a quem ela desrespeitava e nunca acatara a sua condição de imutabilidade. Essa mulher notável foi e é, a generosidade da esperança; a esperança da generosidade; a condição de como o sol nasce, cresce e morre. Essa mulher regou todos os jardins, limpou todas as casas, aconselhou todos os filhos, todos os parceiros e todos os iguais. Essa mulher pôs no mundo uma roupa limpa e o deixou perfumado para galgar a sedução dos homens. O mundo, para ela, era vítima do tempo ancião, dos predadores humanos, dos arranques dos poderosos, das preces erradamente endereçadas. Para essa virtuosa, o mundo era eximido de tudo. Era apenas um espaço físico, com um fim prenunciado, e que, a duras penas, se mantinha prosseguindo. Essa mulher julgava as intenções impensadas, os gestos dos que se indignam alucinados, sem nenhuma intenção de melhorá-lo; fazer por ele qualquer ação favorável. Essa mulher adorava o mundo e detestava o tempo; porque o tempo sempre teve condições em proporcionar mudanças para melhor, o mundo. O mundo se eximira pela condição de matéria bruta, palpável, furável, modelável, findável. Para ela, o tempo, cognominado senhor de todas as coisas, era responsável direto pelos danos observados pelos seus olhos de mãe. Essa mulher reatravessa o dia até pisar na noite e, agora, com a desilusão comum dos que tentam e dormem sem conseguir o sonho, ela se fixa na lua, tão distante, brilhando no centro do forro escuro, pontilhado de estrelas, e a ela entrega o seu olhar, suas lágrimas e seu desespero por não ter conseguido o seu intento, que era a garantia de vida melhor, esperança, dignidade, saúde e pão para todos os famintos e desnecessário aos olhos do mundo velho e caduco.
variações______

Um comentário:

Naeno disse...

Eu escrevi isto decicado a todas as mães do mundo, responsáveis diretos pelas conquistas obtidas por todos, a custo de conselhos, dedicação integral e choro.

TERESINA

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