quinta-feira, novembro 30, 2006


ANDO

Eu ando assim, a procurar no chão papéis de bala,
Imaginando qual deles tirastes o néctar que bebestes.
Eu ando assim, como um espantalho
Que só manda a roupa larga quando o vento lhe sopra,
Como uma formiga a catar migalhas
Por debaixo de tua mesa.
Eu ando assim, meio trôpego
Cruzando as pernas sem o menor pudor,
De que apareçam meus fundos,
O que tenho escondido e nem sei o mundo.
Pisando os chinelos, medindo errado
O tamanho das passadas.
Me apoiando em muros, pra sentir
A concretude do mundo, que não mais acredito.
Abordando as pessoas, procurando pelo lugar
Que ainda agora passei, e não te encontrei.
Eu ando assim, desconfiado que o universo,
E o Paulo Coelho conspiram contra mim.
Meio zonzo, do grogue de água, da fonte luminosa,
Eu ando agora assim, no presente,
E há um passado, que também piso nele,
Com a mesma desenvoltura já dita,
Um pé pra fora outro pra dentro.
Eu ando assim, meio e inteiro perdido,
Numa cidade que não se vê nem de baixo nem de cima.
Eu ando assim pra traz, e para frente
E vou ao mesmo lugar até a fundar o tempo
E deixar o número da sandália cravado na areia.
naenorocha

MILAGRE

Se da simplicidade de uma rosa
fazem surgirem amores,
homens desmsoronarem, diante da formosa,
e se iluminaresm olhos em cores,
o que não poderia virmos a ver
se todos os corações do mundo
fossem enxertados de doces sementes delas,
e vissemos brotarem flores o tempo inteiro.
Ninguém poderia queixar-se
a nada ter para ofertarem,
pois por apenas um gesto simples,
como meter a mão sob a camisa
retirava-se do seu jardim secreto
uma Bromélia, uma Paroara ainda orvalhadas,
e nas convenções de guerra
os gestos que se demonstravam
era uma mão pegar do peito
puxar do ápice do galho refeito, a flor,
espargindo aroma por toda a ONU,
entre os Árabes já convencidos
de que o amor é bem mais simples
que os alardes da discórdia
e tudo, pela rosa do arado do coração.

FALSO

Falas de uma verdade
E eu a chamo mentira
E os teus lábios tremem
Quando assim te atiro,
A minha verdade,
Que é a tua mentira.
Quando dizes, mentira,
Eu digo: verdade, que é mentira,
E tu, que já por natureza
És um desvario, uma ilusão das retinas,
Dizes verdade.Mas repito, mentira.
Verdade...
Mentira....
naenorocha


A FLOR ERRADA

A flor que me destes, entre dentes,
Eu a trouxe pouco comigo,
Dei-a a um amigo,
Com outros intentos com que me entregastes.
Eu sei que não é amor
Este sentimento que os teus olhos não mostram,
E a flor era só uma gratidão,
Ou outro sentimento, engano
E eu não quero mais me iludir.
Da flor eu quero tudo,
De ti, até como amigo,serei reticente,
Porque quando não se ama,
E se sé apenas amigo,
Os mesmos gestos, com que cativas
Um amor, a tua vida, também farás a um amigo.
Por isso a flor, perdeu-se já a estas horas,
Passa de mão em mão,
E ainda não terá encontrado,
Quem a ela ame de verdade.
E eu não posso querer-te como amigo,

E nem mais como amor, te quero comigo.
naenorocha

AMOR VERDADEIRO

Se o amor é verdadeiro
Todas as palavras ditas terão sido verdade,
Todo gesto sublime não terá sido uma caridade
E todas as manhãs bonitas terão mesmo tido
Aquela claridade dos olhos, comparadas.
Um amor verdadeiro não se inventa,
E não se inventa os gestos da cara inteira,
Que se demonstra e se entrega
Qual presa cercada,
São todas visíveis as verdades,
De um amor verdadeiro.
Um amor verdadeiro
Espera por derradeiro
Por saber que é sempre o primeiro
Entre tantos, um mundo que se mostra inteiro,
O que levará o beijo,
e todo o aconchego, de verdade
.
naenorocha

quarta-feira, novembro 29, 2006


MEU OLHAR

Meu olhar é preciso como um gira-sol
Que o como um vigia do dia, reparador,
Acompanha atentamente os movimentos do sol,
É ágil em seus movimentos, um predador,

Que não deixa sua presa movimentar-se sem,
Que outro movimento da mesma intensidade faça,
E olha e fixa-se e nunca se distrai, e nem,
Deixa-o solto ou fora do alcance do laço.

Meu olhar é como um tigre caçador
Que se lança já de manhãzinha à caça
E que quando ver uma lebre andar à toa
Dá-se num pulo devasto, um olhar que laça

Meu olhar é o de um vaqueiro na caatinga
Atrás do gado fora dos extremos da fazenda,
Que não se presta a ouvir só o badalo zunindo,
Não pestaneja, e se tudo veja, à caça é mais atento
.
naenorocha

SONHO

Às vezes basta abrir os braços num gesto estreito,
E já sinto trazendo a mim a natureza inteira
E o seu cheiro e tudo que é saudade verdadeira,
Trago ao meu colo, e envolvo dela, a campineira.

Porque tudo que é sonho que pernoitei na vida,
Foi bem do seu lado, dormindo ali comigo,
E nunca o seu cheiro mudou, nem o acolhimento amigo,
Da natureza, tudo o que diz seu nome é meu abrigo.

Quem com a meninice convivida com capins e tempos,
Um dia se esquece do balançar da touceira de capim,
Qual os cabelos de uma mulher exposta ao vento
E não se chora ou se consola, por trazê-la no pensamento?
naenorocha

DOIS LUGARES

Meus olhos ficam nestas florestas densas,
Minhas mãos, nas fechaduras das portas,
Pra que se alguém um dia achar-me, pense
Se obrigará tentar pelos lugares, em corte.

Não quero dizer que és tu quem olhas,
Nem me atrever um sonho só mais ocultar,
Apenas me atrevo a dizer que as horas,
Serão acrescidas, porque são dois os lugares.

Um onde eu possa estar perdido, no matagal,
E outro onde em qualquer casa possa estar,
Como posso ter contido no teu peito, tal
Como uma artéria sumida, difícil se tocar.

Nunca tive pensamentos tão claros, e vejo
Agora com mais precisão, posse me enxergar,
Duas saudades e uma só distância, um beijo

Uma lágrima que inunda dois corações a pulsarem.
naenorocha

terça-feira, novembro 28, 2006


ESPERANAÇA

Todos os dias milhares de mulheres
Renovam nossas esperanças de que mude o mundo.
Delas nascem a esperança;
E o mundo se renasce pelo nascimento.
E o nascimento renasce a esperança.
E a esperança nasce das mulheres.
Que são como botões de primavera;
Se abrem e deixam se ver novas cores,
Novas fragrâncias, e cores diferentes.
E renascem por todos os dias,
Como por todas as primaveras.
Galhos cortados se refazem,
Muito mais amplos e mais abertos,
Como a esperança que se anuncia,
O renascimento do sonho.
Maternidade e boa vontade das mulheres.
Todos os dias, as nossas esperanças
Em chegarem os novos ao mundo velho,
Se renovam, por elas.
Conchas que ao mundo, se abrem,
E mais outras esperanças gritam,
Como já prenunciado o desafio,
O tanto que esperamos neles,

Por nossa felicidade.
naenorocha

PALAVRA

Uma palavra dita na exatidão do tempo e certa,
Fazem igualar-se no mesmo nível do chão,
As montanhas mais elevadas, é a mesma fé,
Que não só no coração se cabe, vale uma ação.
Uma palavra bem dita, precisa no seu sentido,
Dita com a convicção absoluta de que é aquilo,
Faz com que os mares retrocedam investidos,
As ondas rastrearem, quietarem seus tombadilhos.
Uma palavra vale por um gesto que se faz,
Com a precisão dos olhos rentes à outros,
E assim se falam, e a palavra não é silêncio, mas
A mais deliciosa e firme e não se ouve pouco.
Uma palavra dita, e feito o gesto, ao mesmo valor,
Remove até as cabeças, ditas pensadoras,
Depõe dos tronos os reis, e se vai portador,
Do decreto que os depôs, a palavra abolidora.
naenorocha

DEPOIMENTO

Sabedor que a morte é a maior das ilusões,
Me viro inteiro agora para a vida,
Essa que se diz existente, e pulsante.
Tentando tirar dela segredos que se decore,
Que pra ele mesma sirvam cormo ornamento,
Porque os indumentos se vê,
Embora a face, e os olhos que tanto dizem
Fiquem ainda como enigma, a se descobrir um dia.
Embora que seja em última hora,
Da boca dela algo haverei de ouvir.
Um relato histórico, daqueles momentos presos,
Dos dias em que me detinha em cárcere
Incomunicável com o dia, sem ter noção do tempo.
Privando-me de ver as flores, o que mais gosto,
Quando ainda coberta de orvalhos,
Se abriam como a rirem pra me agradar.
Tive da natureza, sem contar as gentes,
O conforto pra todos esses dias,
Os que me via livre das algemas apertadas,
Os que se abriam amplos diante dos meus olhos.
Saberei da vida, sei por muito custo,
Se ao que nos destinamos é tê-la, ver e viver,
Porque foi ausente, por tempos que eu mais conto,
Do que presente, se dela tive, ou vi, foi mais
Um passado ou um futuro, que não se conta.
naenorocha

segunda-feira, novembro 27, 2006



SOMBRA

Quem, entre todos que a mim olham,
me veem como sou de fato, um assombro.
Que encorajado sem ver nada, bate o meu ombro,
e diz tratar-se das minhas invenções.
O fato de eu estar perdido, pesa,
mas não sou eu quem não se encontra,
não esse que ao seus olhos conta,
como matéria pura, que faz sombra,
existe, ou por aqui já esteve
outro igual a mim, que não era eu,
um vestígio, talvez uma ilusão dos olhos,
pois nestes terrenos nunca pisei meus pés.
Sou este ausente, o que se sente, miserável e mentiroso,
tambem sou, o que desvia os olhares bem inencionados das pessoas,
que se viram a procurarem em mim,
marcas de outro passado, de onde não vim,
e afirmo ser, tudo como eu, enfim,
um nada que se mostra agora,
e ninguém percebe, ou se dar conta,
de que fui invandido por uma grande onda,
também de um oceano inexistente.
Sofro de um mal recorrente,
e de saber, tudo sobre essa criatura,
que não é uma caricatura,
sou eu em pele e ossos,
que deixa sombra por onde passa,
mas fica só um rastro,
o do que não vejo e é minha companhia,
aonde eu vou, até se eu entrar o céu.
naenorocha

O amor quando vai,
Só leva a mala, deixa a cuia.

PALAVRAS

Palavras são ditas pra não recorrermos
Aos gestos, que são palavras guardadas,
Que quando saem são passarinhos
Arrebentando a gaiola, fugindo.
Palavras são ditas para dizerem,[
E nem sempre bastam, basta em dizer,
O que não se fazem entender
Por que os gestos por si, dizem mais.
Palavras foram feitas para serem veladas,
E só aqui e ali, um murmúrio, já é demais,
Os gestos ferem mais que as palavras,
Estas sobra ou espessa navalha.
Eu me contento em falar-me
De dentro pra dentro e me contento,
Ninguém me ouve, nenhuma palavra,
Que alguém confunda ser a ele dirigida.
E com o mundo costumo agir da mesma forma,
Da mesma forma, as palavras são,
Tem o mesmo tamanho, a mesma dimensão
No repercutir, enganar, serem mal entendidas.

naenorocha

OBSERVANDO

Observemos, cada coisa, uma, a seu lugar,
Existe na flor um efêmero tempo que se cumpre inteiro,
Tem o seu cheiro, sua beleza, e quem a olhar,
Com os olhos fiéis, não vê o que ela tem dentro,
Fora verá, esta beleza extrema; em cada flor que se olhe,
E de tão diferentes, o cheiro já, nos contenta.
O homem então, que em tudo difere, fora,
Dentro é o mesmo, afora os sentimentos
Suas marcas que o tempo lhe impôs,
Mas todos são da mesma essência iguais,
Mas tão distintos, em gestos, planos, cor
Amor, força, destino, e caminhos.
Não devemos comparar as coisas,
Devemos apenas vê-las.
Assim não incorremos no erro
De abstraídos, sermos a diferença vista,
Pois ao adentrar-mos, sequer tentarmos,
Nossos olhos perdem a noção de tudo,
Assim, ficamos mudos, sem nada para falarmos.
Cada coisa é uma outra,

E cada outra é, naturalmente, desigual.
naenorocha

domingo, novembro 26, 2006


SOMOS

Éramos dois donos dos mesmos sonhos,
Éramos de nossa mesma luta diária,
Éramos de amor, uma grande colônia,
Que se refazia nas noites por mãos solidárias.

Éramos de pão e vinho, de um Deus que se doara,
Éramos como a flor e o espinho, ali chegados,
Eram nossas dores partidas ao meio, choradas,
Eram nossas as mesmas lágrimas, que nossos olhos molhavam.

Éramos como mãos seguras no mesmo cabo,
A força depreendida, o que realizávamos,
Do estampido amor, dínamo, do tempo arado,
Fomos os plantadores dos primeiros ramos.

Fomos até hoje crepúsculo, e manhã nascente,
Somos complacentes das dores que passam os outros,
Somos com a faca e bainha, que se cabem,
A não deixar espaço, e somos o ferro e o couro.
naenorocha

INGRATIDÃO

Beira de cais, naquela tarde,
teu rastro infindo na estrada,
eu estava tão sozinho,
mesmo antes de acontecer,
o tão triste até um dia
coisa que eu nunca gostei.

Lembra que tudo era poeira,
lembra que tudo era saudade,
eu estava com o teu cheiro
e abraçado ao desespero,
e tentava tantas vezes
me esconder prá me ausentar.

Quando o inverno chegava
e o verão terminava,
não te deixei sozinha.
E quando a vida arruinava,
eu chorava dobravo
por você e por mim.

Quando a bandinha passava,
você segurava, com fé, minha mão.
Ah eu duvido que alguém,
tenha feito até hoje, tal ingratidão.


MEU AMOR

A minha amada é como uma flor colhida,
no instante ainda de abrir-se o botão,
é ela a virgem mil vezes pedida,
que se guarda inteira a dar-se na mão.

É a minha amada desses jardins floridos,
a rosa mais terna que os olhos destacam,
ainda de longe ao vê-la linda, erguida,
que por não merecerem ninguém a cata.

É o meu amor, o luar aberto todo,
ventos que anunciam chuvas ao sertão,
colheita madura, que candura o rosto
de quem esperou colher cachos com a mão.

É omeu amor o namoro eterno e úncico,
que a rosa mantém honesto, com o beija-flor,
o canto mais belo do sabiá, um anúncio,
de que a noite vem, e próximo se aninhou.
naenorocha


QUANDO VOLTARES

Quando te espero amor, vejo a cada dia,
Como se fosse o primeiro, o que tu chegarás,
Pois depois de vinda, em meus braços caída,
Serão os dias depois, outros, que vamos contemplar.

E será assim, por que de outros não me lembro,
Não que em mim deixaram, marcas, ou lamento,
No dia de hoje te espero, e quero dele todo o tempo,
Para na tua espera prepare-te, um templo.

Os que virão depois perpetuarão este agora,
E só ai vou perceber, chegar juntinho à flora,
E guardar-te as rosas mais bonitas da aurora,
As que ainda pingam orvalhos de outrora.

Quanto te espero amor, espero aliviar-me disto,
Desta dor direta no meu coração, tão triste,
Destas luas brancas que em mim resistem,
A negar o que projetei a respeito dos dias
.
naenorocha

NÃO SEI

Não sei a cor do perdão,
Nem do sacrifício da mágoa,
Coisas que por minha vida,
Passaram e eu nem notei.
Só sei quando choram por mim
Quando sinto o pingo frio
Da lágrima pelo meu rosto
Assim a minha vida inteira,
Sinto por isso só um desgosto,
De não ser igual a tantos
Que tantos sentem e se iludem
Que os dias são sempre de sol
Que não virão densas nuvens.
Eu sei das marcas da queda,
E dos lugares por onde já fui,
Tanto que ao olhar revejo,
No meu corpo sangue, e fujo,
Não como quem galopa solto,
Deixando a carga na encosta,
Minhas intenções nessas horas,
É dar-me a trégua merecida.
Não sei quem chora por mim,
Ou quem tão inocente me condena,
Só sei que vendo nos rostos,
Dá-me desgosto, dá-me pena.
Não sei que por essas dores,
Já foi necessário perdoar alguém.
naenorocha

sábado, novembro 25, 2006


O MEU MUNDO

O meu mundo não se iguala aos de outras pessoas,
É um mundo caricato, pintado e retocado por mãos de amadores,
É um cubículo em sua entrada, de próximas paredes que ressoam,
Qualquer palavra saída, qualquer gemido inncontido, de minha boca.

Não é um mundo onde se façam experiências em cobaias,
Meu mundo por pouco não sobra e a miniatura de mim cabe,
É de um entra e sai de mim mesmo, e às vezes me rebato,
Ficando dentro o que se escora, saindo o que já se acaba.

É um mundo de línguas múltiplas, a da enfermidade da alma,
A dos lamentos que já me acostumei a repeti-los, do passado,
E a língua dos homens que eu entendo, e que as vezes me falta,
Dizer, puro, verdadeiro, aonde dói muito e onde dói mais.

Não é um mundo que se vá, por procura de aventuras,
Por que lá só existe eu, a única e provável criatura,
O resto são pedaços dele, que por má sorte, desventura,
Rompeu com o resto de outros mundos de outras alturas
.
naenorocha


É E NÃO

Tudo o que parece ser, não é.
O que não parece ser, é o que é.
Como um mergulho que se faz na alma,
E se volta extasiado, tal um peixe
Que foi além, abaixo de onde não podia,
E retorna a superfície com a s guelras inflamadas,
Que não pode ver e nem trazer nada.
O que é, se toca, se tira e nos toca em suas formas.
Concreta como a vida, que não e abstração da alma,
É um ser que pulsa, e finda aos nosso olhos.
Há uma diferença explícita entre uma árvore,
E sua sombra acolhedora, em pleno ermo,
A árvore, que se toca e se serve do que dá,
Cria a sombra que se vê e se serve
Para o mesmo alívio de nossas aventuras.
A árvore cobre, a sombra acolhe aberta,
Assim as duas, sombra e copa, são

Algo que se toca e se ver, seres despertos
.
naenorocha

É FERRO E É FOGO

Tento traduzir a litania
dos pássaros
mas não ouço palavras,
que os possa transcrever,
as palavras ardem
e tiram toda a pureza.
O que é do vento,
eternamente esvai-se
e ninguém segura,
ou entende o seu passar.
Cantos de esperas,
e adulterados gestos,
que vão dar em nada.
E preces de esforços,
inquietam-me os lábios,
que ainda não chegaram a nada,
qual ladrão fugitivo,
ou um turbilhão de águas
sem direção,
a rasurarem a pauta do poema.
naenororhca

NO ESPELHO

Como num espelho aqui de vês,
Como os mesmos guardados dentes,
Como os mesmos expostos lábios,
Com a mesma cara e rugas e veios
Como num lago aqui te vês,
Com a mesma vaidade de sempre,
Como o mesma beleza invisível,
Com a mesma profundidade no ventre,
E nada de mais, além de tua imagem destorcida,
Nem o espelho nem o lado,
Te farão ser o que não és,
Pois o que és em essência,
Está guardado e nem mesmo sabes o que é.
Se te conforta o que plaina
Nas superfícies espelhadas,
Levas que muito bem guardas,
E as expõe como se tu fosse,
Porém poucos, ou alguém pra te agradar
Dirá és belo, como ninguém será,
E assim te entronizarás como mais um Deus,
Vaiodoso, Narciso, que nunca viu-se mostrar.

PICASSO

Quem observa a invenção de Picasso,
Ver linhas, curvas, traços, compasso
Sente a ligadura de pontos, a largura,
Do corpo desproporcional e ver algo
Incomum na terra, tenha paz e tenha guerra,
Ele como que escancara o consciente,
Mostrando à vista o inconsciente,
Pelos homens tão temido, uma aquarela.
Quem ler Picasso ver a genialidade
Comum dos gênios e sente a dimensão farta,
Do juízo agoniado de um ser numa outra idade,
A idade da razão soterrada a comoção,
Ou a comoção manifesta ao coração,
Como se não fosse ele, mas dele toda a razão.
Quem determina o caminho
Por onde se esvai o nanquim é Picasso,
E por se saber, foi o que foi, é o que é
Um gênio que ainda não foi enterra,
Posto que ainda não morrei, e
Certamente nunca morrerá.
naenorocha

RAIZ

Hoje eu acordei mais vivo
como em raras vezes acontece comigo,
sinto meus pés se assentam no chão
com a firmesa de uma árvore
de raizes profundas.
E tiro desse sentimento incomum,
a seiva, os nutrientes que
que mr proporcionam a mim ligado,
projetado, em minha continuidade,
terra abaixo.
Sinto que existe um homem
a respirar tirar do vento a vida,
a recolher margaridas, comer,
dormir sonhar,
e outro já dentro da terra,
com raizes, e ligamentos de cano
que também por lá respiram,
por lá se movimentam,
enquanto o corpo à superfície,
anda e dà-se ao erro de vez por outra
repetir-se, interiormente,
hoje eu acordei vendo a vida
do homem, que se projeta,
e também se introspecta,
dentro de sí e do chão.
naenorocha

EU SONHO

Também sei sonhar,
Há algo no sonho que anima a alma,
Mas não sei inventar o sonho,
Talvez seja própria alma que faça
Para que o corpo se mobilize
E se afaste em vôos como ela gosta
Ver e sentir o mundo
E bem do profundo de nós,
Nos arrebate e nos leve ao sonho
Sonhar não é coisa do corpo,
O qual tem medo de se projetar,
Até para ver se cruzarem
Pessoas com diferentes gestos
E impulsionamento do corpo.
Mas não sei acordar,
O sonho é o melhor ninho
Pra uma alma como a minha
.
A depender de mim,
Da vontade, não do meu corpo,
Eu me entregaria definitivamente ao sonho,
O mundo dos sonhos é o melhor dos mundos,
Não é um mundo da gente,
É um prazer, uma boa acolhida que se sente,
Mas ainda o corpo é quente,
Para em definitivo se entregar,
Ao sonho, de se ficar.

naenorocha

sexta-feira, novembro 24, 2006


QUEM

Quem projetou esta manhã, quem rebuscou,
Do escuro que se perpetuava, suas entranhas,
Quem criou esta manhã, a todos determinou,
Seus nomes, e que se a chamem estranha.
Os arroubos de alegria e gestos entre os homens,
Se faz exato, pela beleza, de costume esperada,
E o que se vê, um plasma apartado de sua cor,
Um gesto de quem procedente, foi malogrado,
E não trouxe ao espelho a ver o que se afigurava.
Uma manhã por certo, destoa, do ocaso barrento,
Se aproxima mais, no entanto não é fim, uma farra,
Que só quem dela exauriu-se teve este tormento.
Quem concebeu esta manhã, o fez por ver,
Dos seus olhos opacos a visão mais distorcida,
Do que pede o homem, clemente, a viver,
E estampou-se o tempo errado já no seu começo
.
naenorocha

UM GESTO

Basta um gesto teu, por descuidado que seja,
Eu já me abeiro a ti, e colado ao teu ouvido,
Me declaro apaixonado, como se ainda esteja,
A começar uma aventura, uma outra recaída.
Amor não me canso do teu amor, e sem notar,
Já de minha boca saem palavras, aquelas lindas,
De quem com zelo, e certeza que o amor não finda.
Repete, várias vezes, e quanto mais digo mais afina,
A minha voz proposital, o meu amor que determina.
Qual o louco que tendo à mão a pérola procurada,
Dá-se a mostrar, deixa-la em lugar fácil ao outros,
Qual o homem em sua sanidade, tendo já encontrada,
A felicidade plena da vida, diz-se infeliz, outro louco.
Ao teu primeiro gesto, uma palavra de lábios,
Já me prostro em teus pés como diante de altar,
E no meu consciente vago, procuro saber dos sábios,
Que diriam a uma deusa, ternuras de lhe encantar
.
naenorocha

EU COM MEU AMOR

Eu não gosto de andar sozinho
e ando sempre com o meu amor;
porque quando vou sozinho,
por nada, fico disperso,
e assim me escapam aos olhos,
o que na natureza tem de belo.
E tudo eu olho no percurso inteiro,
paro para ouvir o cando dos pássaros,
fico pra traz propositadamente,
pra ver o andar moroso do meu amor.
Não gosto de estar sozinho,
gosto da companhia do meu amor.
Pois se fico só de me dou à monotonia,
prendo-me às nuvens em seu andar,
que nem se sente,
e assim as acompanham meus olhos cadentes,
rumo onde elas vão,
sempre ao mesmo ponto,
e olho as aves coloridas passarem,
o vento fuflando as copas dos ipês,
e tudo eu gosto de olhar e me dou,
e fico mais alerta com a companhia
que vou,preferencialmente,
sempre, a do meu amor.
naenorocha

TRISTEZA

Quem menos der por minha tristeza
A levará, na cotação do dia triste,
Sem qualquer tipo de ônus, nem menos
Nem mais, e ainda dou por garantia,
Tratar-se de uma enrustida dor, que dói
Um coração em desespero, que se destrói.
Quem se habilita a conduzir até dentro de si,
O que já está por muito tempo em mim
Um vago, uma descrença em tudo o que vê,
Uma presença determinada, a me querer,
Mas que com certeza se habituará a outro,
Quem mais afagos lhe faça, que eu,
E a saiba amar do jeito que eu não soube,
Uma tristeza que surgiu de mim, agora,
Como um rebento fora do seu tempo
E que arde, e dói de forma a não render
Nada além de lágrimas, e mais, sofrer.
Quem levaria ao porto e despachasse agora,
Rumo a algum lugar a não se saber aonde,
Porque pouco importa o seu destino longe,
Ou perto. Desejo-a livre de mim
Que não soube cuida-la com o empenho,
Que ela merecia; e que talvez seja por isso
Que ela é soberba, uma trama, e desliza.
naenorocha

NÃO, SÓ

Não me dou com os coitados fracassados,
Que fazem da vida o que os nocauteou,
Não me prendo aos que falam de si,
Por que pobre de mim, quando ficam sós.
Não brigo por palavras que nunca foram ditas,
Fica a encargo da consciência de quem julga
Novo o tempo, que já se apodrece e rui,
E a esse inválido atribuem seus reveses.
Não sinto a menor afinidade com o começo,
Se é pro fim que caminhamos soltos, ermos,
Se no final as contas apresentarão resultados,
Manipulados por quem se diz criador.
Não ando como quem por tudo chora,
Nem gosto da companhia daqueles,
Que por tudo riem frouxamente,
A esses sou um bárbaro inclemente,
E pela minha sentença, quando anuncio,
Se tremem e se entregam, como mentirosos.
O mal que faz a dor é doer,
O o sacrifício do menino crescer,
E o ventre não suportar e se derramar,
Surgindo um novo ser medroso, mentiroso.
naenorocha

quinta-feira, novembro 23, 2006



NÃO SEI

Eu que tantas vezes chorei, tantas vezes ri,
Eu que tantas vezes sem saber, o fiz
Sem saber o porque da lágrima,
E só me derramava em mim, calmamente.
Eu que tantas vezes chorei
E tantas vezes achei que chorei mais que ri.
E se isso for verdadeiro, menos olhei
E mais eu vi.
Por que o mundo é infecto e cheira mal,
Ás alturas em que se está, vê-se um final,
Que não nos agrada ir, antes ficar.
Quantas vezes chorei por alguém chorar,
Quantas vezes estanquei meu choro,
Ao ouvir alguém cantar.
Mas o fétido mundo,
Também produz um barulho,
Que só os surdos pra suportarem.
Por isso chorei em demasia,
Pois as pessoas que eu sabia chorarem,
Por ver lágrimas em seus olhos,
A essas fui solidário, e me derramei.
E eu que tantas vezes chorei e tantas vezes ri,
Não ri mais do que chorei,
Nem chorei mais do que ri, de mim,
Sabedor do mundo, do seu querer profundo
Que a gente chore muito mais.
naenorocha

AMENIDADES

Se as vezes vejo riso nas flores,
E se por vezes afirmo as águas chorarem,
Não confirmarei a quem a sério leve,
E me enquiste, a mostrar a pena,
Direi que falo e em tudo isso minto,
É só porque eu vejo nisto um jeito
De mostrar aos homens insensatos,
A beleza das águas, a candura das flores.

Se vivo em mentira, dizer ouvira,
Da boca de Deus sentenças absurdas,
Anjos que me abordam nas noites escuras.
Não é que eu tenha visto, Deus,
Que nenhum ser foi dada, tal esplendor,
Também os anjos, que são invenção,
Digo para que os homens, sabedores de tudo,
Em reverência a Deus, e sua divindade,
E aos arcanjos símbolos de toda bondade,
De que é necessário conter-se em seus hábitos,
Planos sem sentidos. E abraçar a vida,
Com seus disparates
.

naenorocha

AMOR NOTURNO

Há um amor que não me deixa,
Que nem sonhe mais com outra coisa,
Que habita todo o meu ser
E eu não queria outra escolha.
Se é dele que eu gosto,
E me dou a pensar nele, tempo inteiro
E ele assim se alastrou,
Como um rio que sobe
Por sobre os lajedos.
Ai esse amor não tem nome,
Por que amor o seu nome não é,
Por enquanto o chamo vulto,
Encarnação de uma mulher,
Que nas noites mais frias,
Comigo se deita e aquece a minh’alma,
E nas noites tão quentes,
Ela dá-se em cuidados,
E procura um ventilado,
Um orifício qualquer, por onde o vento entre.
Ai, esse amor viciou-se
E todas as noites os espero,
Como espero cauteloso, a vinda da primavera,
Porque ele traz flores, adornos, e beijos,
Esse amor que me beija,
A minha vida fareja,

E eu me entrego, caça.
naenorocha


MUDANÇA

Como um vasto campo, nesta estação, sem nada
Assim meus olhos surpresos vêem agora,
A campina que nas primaveras de outrora,
Refletia o melhor da vida, as flores, alagadas.

E o que terá havido que o tempo não conta,
A vez de outras campinhas de outros lugares,
Verdejarem enquanto a essa se desmonta,
Pra virar um deserto onde só se ver barro.

Permutam as estações, umas suaves, outras não
Umas que trazem alegria e festa, outras estéreis
Uma que se enchem de flores, como era a vez desta.
Mas em se perpetuar assim, esta, a vida muda a razão.

Ah, primaveras de outros tempos, e que ninguém tocou
Quem se atreveria sequer pensar, mudar, o absoluto,
O tempo que tão astuto, faz de si o que se notou,

A forma, o jeito, como ele faz, isso nunca se revelou.
naenorocha

quarta-feira, novembro 22, 2006


PRIMAVERA

Quando a Primavera chegar,
Eu vou querer estar vivo,
Para ver se as flores renascerão do mesmo jeito,
E as árvores se vestirão de um verde igual
E se eu tenha alguém a quem entregar rosas.

E ver nos olhares que se apaixonam
Se é o mesmo amor que os incendeia
Quando a primavera mudar o tempo,
Quero ver se tempo terá outra tendência,
Se não preferirão rosas verdes, e cinzentas,
E árvores de caule vermelho e folhas amarelas.
Se a ordem do tempo, não se desdobrará
Em mais um mandamento, e vários fatos.
Quando na próxima primavera
Eu estiver sozinho, estarei acompanhado,
Quando eu estiver com alguém estarei largado.
Ou para contrariar todas as previsões,
Que se fez, a Primareva vir,
Igual, com o mesmo clima, o mesmo aroma,
Com as rosas absolutas, iguais.
As árvores frondosas cantando,
A canção da Primavera.

naenorocha

PIANO

Na sala principal da casa da direita, jaz um piano,
Em quem ninguém toca,
Nem a displicente mariposa nele toca,
Pra não dizer que nada, absoluto, lhe toca,
Toca-lhe a flanela leve, até por seus teclados.
Do que vale um piano inerte, fechado,
Como se houvesse dentro alguém calado,
No ponto já de seguir o cortejo.
No meu quintal resistem dois ipês antigos,
Que já nasceram como gêmeos, irmãos parecidos,
Qando é noite que o vento afoito balança sua fronte,
Eu ouço, do ranger dos galhos a mais suave melodia.
Por isso não vejo a necessidade de um piano
Em minha sala, as teclas se grudariam,
Porque eu não toco,
E pra que serve um piano que não toca.

naenorocha

JOÃO PAULO II

Quem seria capaz de repetir o acto,
De uma noite densa reinventar o claro,
E de um caos profundo, num amor tão caro,
Dá como obreiro do Divino amor, e amar.

Amar na intensidade do primeiro amor sentido,
O amor nunca remido, posto que só o bem criou,
Só o bem plantou, e ma mesma intenção desmedido,
Deu-se inteiro, vasto corpo, do cosmos inteiro, feitor.

Quem se atreveria com perigos agora mais evidentes,
Atrofiar as horas, acalmar o vento, refazer o temo?
Qual o humilde, e tudo podendo, os clamores sente,
E refaz o mundo no mesmo modelo e as gentes,

Deixa constrangido, frente ao amor sentido, puro
E não se abateu de sua fragilidade, e quis e fez,
Uma outra história, um movo tempo, para o futuro,
Se pensar o passado, se fazer no presente, que esse refez.

Um rei que do seu trono desceu, e não sentou-se
E fez do mundo uma casa maior e mais promissora
Que perdoou setenta vezes sete, e até mais perdoou,
Por ter atinado: os decretos de Deus não são dez, nem dois
AMOR

Amor, fala-me de tua boca: o amor que dizes ter
Por mim, é da mesma intensidade, nem menos nem mais,
Que o meu que se revelou primeiro e contigo fui ter,
Porque meu medo é que eu não fosse ainda estas atras.

Que este amor, que também juras pior mim sentir,
Será capaz de agora mesmo sair e ir buscar,
E ir catar alguma estrela, a que eu mais preferir,
E me entregar, como se dá uma flor, e me beijar.

Me assegura, porque depois de tanto andar,
Procurar, agora que achei, fiquei inseguro
Se tu também te lançarias sair a procurar
Um amor como o meu, só por verdade, pura.

Me diz se o que me moveu o tempo todo,
Esta ilusão-verdade, sentes e já te acomodas
Bem sob os meus lençóis, me amas a teu modo,
Que eu desejaria fosse como o meu se mostra.

naenorocha

terça-feira, novembro 21, 2006


AMOR QUE NÃO SE NEGA

Este amor que não tem fim, desde o começo fez-se
Com a admiração, carência, dor e muito jeito,
Um labor como talhar uma pedra o dia inteiro,
Como se dar sem desdobras, e sempre refez-se.

Este amor que não tem nome, o chamo amor.
Este amor que se perdeu, achei-o perto da flor.
Este amor que ninguém sentia, eu tenho o sabor.
Este amor que não se engana, a mim não enganou.

Este amor chamado eterno, o desejo sempre terno.
Este amor chamado gente, é uma dor que a gente sente.
Este amor chamado gozo, dele desejo, de perto
Sua compaixão, sua compreensão, sua marca presente.

Este amor que não se chama dor, dói vez em quando.
Este amor que não se abandona, deixa uma saudade.
Este amor que não se presta, presta a mim que o amo.
Este amor que não se ilude, às vezes me deixa acordado.
naenorocha








FUGITIVOS
pequena cena dos fugitivos da segunda guerra


A uma altura que dava para ver nossos olhos,
Dois ou três aviões franceses zuniam lentos,
Em direção a oeste, translúcido em pleno arrebol,
No chão, ogivas explodiam, do nada, com o tempo.

O som das explosões e o barulho dos motores,
Foram se diminuindo, como se algum tipo de trégua,
Nos fosse dada, a convencer-nos, até, por hoje,
Enquanto o tempo dado passava, não cessavam as dores.

Chegamos a um colina aberta por casas escondidas,
Entre vegetação recém cobertas, frutíferas em flor,
Olhando para traz tivemos a última visão da perdida,
Belgrado, a cidade branca, numa alameda de torpor.

Passamos por casas de camponeses brancas e baixas,
Alucinados, porque não sabíamos se eram eles desejosos,
Também de nossa morte, e o que trazíamos em caixas,

Despejamos como se pesassem como carga sobre nós.
naenorocha

PIRACEMA

O invisível, como se supõe haver sob a nebulosa,
Nadam como em desterro, loucos, sem sentido,
Peixes que se lançam, contrariamente ao rio,
De todos os modos lançam-se bocas amorosas.

Ninguém de certo explica, o esforço, será de puro amor,
Será porque nas profundezas das águas derradeiras,
Eles se confundem, e não vêem bem a quem beijam,
E se dão a desafiar contra a correnteza, de amor e dor.

Lá nos baixões finais, começo do escorredoro,
Em lagos que cada um escolhe, como se fossem leitos,
Eles se dão, na proporcional volúpia, do desejo vindouro
E se amam à exaustão, e voltam, sem ver os filhos feitos.

Um homem teria a capacidade de atrever-se por um amor,
Andar contra a própria vida, correr o risco do risco,
Se nem ao menos cantam a poesia, nem se dão neste torpor,
Quando muito amam, dizem, mas não provam o sacrifício
.
naenorocha

MÊS DE MAIO

Sol do mês de maio, a se derramar,
como chuva de ouro sobre a floresta.
Em fios de águas, caindo a cantar..
Luz, canto de pássaros, aroma, festa...

Sol do mês de maio, comigo a reviver,
troncos virtuosos, no tempo, amortecidos..
- Quem me dera poder agora renascer
Meus lindos sonhos, distantes, prdidos.

Sol do mês de maio, o vão todo a colorir,
os angicos, os paus d'arcos da alta serra,
de suas copas, flores, cores a resistirem
o todo virgem, imutável, da terra.

Sol do mês de maio, de lume esbanjador,
De pedrarias, e lagos tão reluzentes,
chileiram beijos, e atormentam os amores,
Em lábios lúbricos, apaixonados e quentes.
naenorocha

NÃO FIZ

Tanto fiz, que não fiz,
e neste instante o que vale
é o que não fiz.
Não por não haver feito,
eu fiz,
mas fiz o que não quiz,
e neste momento
o que eu mais queria
foi o que não quiz.
Tanto fis que desfiz,
e a esta altura,
o que eu queria
era refazer o que desfiz,
ou nem ter feito, como quiz.
naenorocha
DIVAGAÇÕES

A vida não é só o que fala não,
ela vai além de onde corre a mão,
a vida é um rio aberto, é um delta
a percorrer todos os veios do coração.
A vida é uma corrente de ar,
que se atormenta, a tempestade,
a correr solta pelos alveolos do pulmão.
E a vida não é só isso não,
a vida é quem conduz a mão,
a triscar, reticente, o medo sente,
de ferir voluntário, a própria razão.
A vida não é tão simples não,
ela plaina quem nem avião,
e dista aos nossos olhos, num instante,
que se tira de sobre ela a atenção.
E tantos cuidados são,
que ela requer e boa direção,
bem mais que aptidão para o volante,
a vida eixige, ao frrear, ao estacionar,
muita prudência e precisão.
A vida é como dizem não,
a vida nunca morre não,
a vida nem sequer os olhos fecha,
e sai de um claro para um clarão.
E a vida nunca se ausenta não,
a vida não te deixa de mão,
quanto mais vazio, a gente se sente,
mais ela pulsa renitente,
e bate o martelo, e conta muito,
até que se comece o leilão.
naenorocha

segunda-feira, novembro 20, 2006


FALTA

No meu choro o que predomina não só a saudade...
Pura e simples, saudade é algo bom quando se tem,
é quando se nos mostra quão descuidosos fomos num passado.

No meu choro o que vertem são puras tristezas, penas.
Penas que ainda hoje cumpro, e não tão leve qual passarinho,
A pena que sobre mim se incorre é a de não ter olhado,
Cuidado bem de um amor, que agora, de esquecido de mim, Causa-me isto, saudade, dor e pena. Um rosário pesado.
Longe de mim, talvez já da vida olvido, onde ela estará,
Nalgum lugar daqui, da terra, com outro que a faz chorar,
Porque o amor verdadeiro que vi, forte comigo, e será
Que ela em suplantando a dor de perder-me ficou-se lá.
Lá onde eu menos queria ou pensaria pra mim, um amor,
Que ainda hoje chora e admite ser merecedor da ruína,
Se pelo menos ao vê-la, embora já noutro aspecto, dou

Ainda, de mim tudo o que ele quisesse, pra tê-la minha.
naenorocha

TEMPO

Por hoje nada mais farei.
Vou deixar que passe ainda mais um pouco o tempo.
O tempo, quando demora ou quando se vê de fora o seu caminhar lento,
Não é o tempo, é uma forma de tempo, que se descobre ao acaso, nem sabendo.
Que o tempo pode ser de sua essência o espaço, ou pode ser o cansaço de nossa alma lenta.
Tempo invariavelmente é lâmina, cinzel que esculpe as horas, os momentos,
É o ruflar das palhas das palmeiras quando empurradas para onde não querem andar,
Ou uma medição besta que se calcula, medindo de cabeça, quem passa mais ligeiro,
O tempo é uma besteira, o tempo que se dá.
O tempo arredio, pai de todos os outros,
É de uma pesada carga, passa por cima.
Pra ele não existem estorvos,
Vai-se como vai distantes, dando vôos rasantes, tal o pretume do Corvo.

Tempo de amar é tempo bom, tempo de rir é tempo afável, tempo plantar é tempo propício,
Tempo de tempo é uma carga, um sacrifício, por onde vai, ficam orifícios.
Por onde passou, deixou apenas o vazio, nada fica, nenhum sinal que se guarde,
Tudo por ele é puxado como o azogue puxa os cascalhos de ferro por sobre a areia.
Tempo, há que se pensar no tempo, como Tempo e tempo.
Tempo de ir e voltar,O que se volta não é tempo, tempo é só o de levar.
O outro é como um espaço
Entre o fazer e o desmanchar, é como marcar caminhos: uns curvos, outros alinhados.
Quem escolhe rumar nos retos com a mesma impulsão do outro e escolheu o outro,
Certamente chegará primeiro.
Mas não ao gozo, nem à realização, nem à casa,
Nem onde se esconde o amor.
Apenas se pisa no ermo, no lugar absoluto,
Por onde o Tempo, por tempos, passou e já varreu tudo.
naenorocha



O MEU OLHAR, MEU OLHAR
BATEU NO TEU
ao meu parceiro Climério Fereira

O meu olhar é preciso como um gira-sol
Que acompanha o sol, que vai aonde ele vai.
Meu olhar é típico de um gavião campeiro,
Que se lança inteiro e agarra e se vai.
Meu olhar é calmo como um dia sem vento,
Não se movimenta, pra nenhum lugar,
Meu olhar é morto por te ver em tempo,
De retomar a vida, ligeiro te olhar.
Assim, meu olhar é teu, e ao que ele se lança
Como presa astuta, rapina absoluta,
É pra te trazer, luzes de outros cantos,
Para clarear mais que a minha vida, a vida tua.
Meu olhar quando bate no teu, se sente,
O meu olhar quando se afasta do teu se ausenta,
E fica no posto de espera, e como se fosse um ente,

Não um olho, se põe a busca do teu loucamente.
naenorocha


DOR

No baixo vale cercado pelas colinas,
As casas brancas de um lugar que jamais vira,
Ficavam quase escondidas com um mar acima,
Feito de nuvens que aquelas horas nisso se vira.

As janelas todas estavam escancaradas,
Como se nenhum intruso, bicho, os espreitasse,
E a confiança que tinham era no tempo, borrasca,
O mar aflito que lhes cobriam, e tudo naufragasse.

Por traz de alguma parede sem se poder identificar,
Uma voz de mulher que sussurrava, deu-se a gritar,
Falava mais com gestos, e assim não se explicava,
O transe, a dor, porque a pobre estava a chorar?

O seu lamento estridente, insípido e histérico,
Me fez pensar em tudo que estava já afogara,
Ou que recente perdera algo que amava, esférico,
O mundo que assolado pelas águas, se acabara.

Pensei num filho morto, a dor maior que uma mulher
Resiste. E assim só faz, com os ouvidos de Deus,
E ela se deu à essa dor intensa, e chorava e gritava,
Se escorria no chão, como água a buscar um veio.

naenorocha

domingo, novembro 19, 2006


CÁ DENTRO

Talvez todos tenham razão...
pode ser que em cada ser habite outro
e que ainda podem ser esses, mesmo irmãos,
do mesmo sangue E se nutram de um tirar, e o outro por.
E que tudo issso pode-se ainda ver
não só com os seres, ditos homens.
pode uma flor caber em si, e haver,
dentro, vivendo, do mundo, outro que se some,
Mora no beija-flor outro que prefere,
a rosa como ninfefa e não o cravo,
o outro beija, demoradamente e quer,
o beijo da lua de boca acocidada.
Dentro do coração, um outro pulsa inquieto,
e há no mesmo extremo outro que bate lento,
como pode vir invisível dentro do vento,
um outro que anda puxado mais quieto.
Admito que todos tenham razão,
quando dizem cabem viver em quietude,
dentro de cada coisa outra que não
se distinque, aos olhos nem ao coração.
Pode o mar conter outro igual, oculto
que cujas águs nunca vieram à tona,
e que seu poder é o de puxar as ondas
enquando o que se ver é o absoluto.
Pode habitar uma alma a outra, mais calma e bela,
que quando a vida caminha boa, pode-se dizer: é ela
que vendo a outra ausenta-se, troca,
de lugar, de posto e reina sem ela.
naenorocha

TERESINA

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