O meu mundo é do tamanho de um quintal
E pela vida toda eu não atingi seus limites.
Ouço a saparia orquestrar a Ave Maria
E ouço Deus, e o vejo catar laranjas,
Futucando as verdes que caem maduras.
Selei cavalos com embira de tucum,
Amanheci em campos distantes das cercas,
O mundo onde vivo, vive a amizadeDe todos os meus compadres
Libertos do celibato, que derribaram as saias.
Pindamonhangaba, Ilhéus, mangues sem fim,
Incluídos em mim posseiros de todas as minas.
Mostruários de ouro por todos os dentes,
Quando não escurece todas as possibilidades.
Extrair ovos sob a galinha quieta,
Comer com farinha, enrolar uma omelete.
Falta-me ao mundo que eu ocupo inteiro,
Já pelo cansaço, desse mundo imerso em mim,
Meu coração gritou, ontem, e hoje repetiu
O mesmo brado: quer uma companheira,
Uma artéria cheia de sangue todo fino,
Que ainda sou o arrimo deste infinito inteiro.
Aqui cabem luas, que caminham às bandas,
Um sol espumado pelas nuvens de banha de porco
Um sabão de uva, que primeiro borra
E só depois clareia. Mas clareia tanto
Que não existe branco, alvo pelas golas,
Das minhas camisas lavadas de noite,
E que demanhãzinha já me acomodam, dentro.
São três moradores deste mundo imenso,
Eu, Alemão, o meu cão sestroso, e Flora um sabiá
Que se combinam e giram à hora de eu levantar.