quarta-feira, dezembro 03, 2008

tela do pintor AMARAL

SIMPLES

Nunca construí uma poesia
Como quem faz uma casa de praia
Sempre, ela pisa onde quer.
Esqueci-me das palmeiras de babaçu
Postas na área de entrada
Fazendo um caminho
Que por gentileza fica no chão.
Nunca premeditei uma poesia
Como quem virtualisa um amor alado
Desengonçado e trabalhoso.
Como o que sentiu fazer
A primeira maravilha do mundo.
Nunca imaginei a poesia
Como quem idealiza um amor
Não amo as poesias que faço.
Antes, às vezes as odeio e rejeito.
Elas me consomem tudo, o tempo,
Todo o amor de que disponho, traço.
As poesias que têm saído
De meus inventos,
Das rimas que persigo, imerso
Vem do universo.
Vem como chuva
Vem como anjos que voam ao léu.
Por isso haver tido delas
O conforto nas noites frias,
E nas noites de calor
O abanico de um cacho de flores.
Por isto eu me arrepio, choro...
Nada, é só uma troca de cortesias.
Uma retribuição do que de mim
Dei de coração ao mundo.
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naeno* com reservas de domínio

sexta-feira, outubro 10, 2008

MEU NADA

Lembro da terra que me materialuzou
Relendo sua história num papel de pão.
Lá nada se via, nada se ouvia.
Nenhum barulho, nem silência
Chevgavam ou por uma boca ou por uma mão.
E num saudosismo de poeta esquecido
Sinto doer meu coração já tão distante
Quatro, cinco casas, dez, vinte gentes
Povoam ainda hoje minha cabeça
Como se a morte naquele lugar agonizante
Nunca passou e ninguém se foi.
Podia já haver morrido.
Lembro que ààs seis horas da tarde
As cigarras cerziam segregadas
Seus cantos de dormir.
E as mesas se floriam
De toalhas estampampadas , de muito uso.
Que viravam lençóis
Depois mudavam para vestidos
e se puíam e ao monturo serviam.

Lembro desse lugar
Pelas notícias que traz minha alma
Todos os dias, quando chega para o pernoite
E fala dormindo, e me diz: de Arlindo, findo.
E se refere aos de minha idade
Que ainda não saíram para conhecerem a cidade
E ainda se submem aos golpes
Da enxda amolada na pedra demanhãsinha
Ao machado que por vezes,
Errava o opau e dava com a canela
Triste lugar. Triste situação.
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naeno*com reserva sde dom´pinio

domingo, agosto 31, 2008

TRAMA

Fostes no vento a folha mais leve.
A que meu olhar descreve,
Afugentada do meu abraço.
A guilhotina, a faca acima,
Os atônitos olhos não veriam em cena,
A sala fechada, nenhuma fresta, se via,
E corria a fita, o planetário inteiro.
Pelo sangue soube-se
De quem era o pescoço,
Um esboço feito na areia,
De prantos e gemidos, triturados.
A agonia das horas,
Torciam contra e a favor
Do desfecho excomunal,
Do punhal posto na mesa.
Ganhara o mais munido,
Logrou a munição de um novo inverno,
Os que arrebentam no cadafalso
Sozinhos, levando a história.
Em seus solitários caminhos.
Um herói da guerra inaudita,
Dos planos de partilha
Das vestes daquele só.
Que já chegara nu
Coberto dos olhos cegos
Das mentes vazadas
Da mesma visão,
Do pó, do chão.
O veredicto foi simples
A medida da tarde não previa
Esta enfeitada teia prisioneira
Da aranha, pelo céu.
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naeno*com reservas de domínio

domingo, março 16, 2008

VIDA

Depois que a vida chorou pelos meus olhos
E soprou a minha boca pela boca dela
Temos sido assim amantes
barulhentos
Quando em nossas encruzas
Mostramo-nos os dentes.
Depois de fincada no chão uma semente,
Pelas mãos dela, e eu era um silente
Pequeno grão suado por sua mão fechada
E ali já germinava, e ali eu
florava.
Aflora agora uma vida em dormência
Sob os caprichos dos seus pés, fui
Calcado, e transplantado tantas vezes
Por não ser o enfeite pra sua j
anela aberta.
E eu não pergunto de mim a ela
Não incomodo a dona dos arados,
E o que quer de mim, nessa lavoura úmida?
Que eu chore, que me decline.

Serão meus frutos de sabor ruim,
Que ela não arreda o seu olhar,
E quando eu digo gosto desse canto,
Ela me espanta apontando um outro igual
Faz-se arrendatária
, também de mim.

Eu me iludo que com os outros.
É mesmo assim:
Por ela transplantados, fustigados,
Enxertados,
lavrados.
E que não têm sentido
Os seus caprichos arcaicos.
Tem tudo acertado, e sabe
o que faz.

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Naeno* com reservas de domínio

quinta-feira, janeiro 31, 2008

DESAFORTUNADO

Eu conheci a casa de um desafortunado
Nela vivi quase toda minha vida,

Apanhei gravetos para os invernados,

Puxei gavetas e guardei retratos,
Um arquivo morto de mim retirado.
Eu andei por dentro da casa cumeada
Tropecei pelos atalhos, cadafalsos
Troquei uma vida, que me dera, inventada
Por uma que eu vi de perto, andando enfalço
Fui o primeiro desordeiro do motim.
Não tive nunca uma gota de raiva.
E foi assim, andando, dentro e fora dos pântanos
Que hoje dou graças à sorte fora de mim.
À imaculada virgem, mãe da Conceição
O meu amparo, de quem mais eu vi nos olhos,
A minha amada, o tempo todo cortando a rota
Dos desamados, sempre me trouxe por sua mão.
Fiz pisoteio até o cultivo das pedras guardadas
E vi a festa da colheita das formigas,

E disso eu disse, com o coração e alma aflitas:
- Não me descanso, mesmo quando estiver sentado.
E da lavoura que os cupinzeiros demarcavam,
Das espigas de milho bem debulhadas,
Pus o sabugo como mastro da bravata,
E lutei só, com Conceição, nela amparado.
Olha-me Deus, no que escrevi,
Eu relatei a minha vida e Vos traí,
Era um segredo até o tempo por vir,
Até cansar, e cansado, aqui cair.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

CONTADOR DE ESTRELAS


Às vezes eu acordo pra ver estrelas
E choro vertiginosamente.
E minhas lágrimas brilham
E meus olhos se enchem de astros flutuantes.

Sinto dores no silêncio
E silencio tudo que em mim é barulhento
Traiçoeiramente acordado de um sono escuro
Mergulho copiosamente por entre belezas, acordado.
Transtornadamente imergido na noite.
Todas as dores estão sobre mim
Tudo em mim padece, sofre e se esquece
Que não acordei por querer,
Que ninguém busca a brasa acesa
E pisa sobre ela a encandear-se
Porque a carne se mostra
Em uma triste revolta e se expõe,
Paradoxalmente, ao sofrimento.
O meu peito na dura opressão
Não se contenta com a brisa fria da noite.
Marcas de ferro e de fogo,
Prodígio gozo de uma alma penitente.
E o meu espírito partido
Vê-se entristecido,
E não se abstrai com o que tem de sofrimento.
Como uma presença que não me distingue.

TERESINA

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