domingo, dezembro 31, 2006

ESTRADA CERTA

Por esta estrada onde tenho passado por muito tempo
É nela que vou continuar andando
Ela já não me assusto mais
Tudo conheço, de quase tudo dela eu sei.
De vez em quando me espanto
Na frente do espelho
Mas quando abro os olhos,
Porque as vezes insisto
Em não parar e não dormir,
Vejo a mesma companhia, e sempre sou eu.
E os meus pés não se enganam ao pisar,
No leito desta estrada, onde tanto já deixei,
Por ela eu sigo, e não voltarei.
O que deixei cair, ficaram lá onde estão
E se larguei, deixei por não me interessar mais.
Voltar não se justifica mais,
Porque o que eu já andei, deixei, não olhei,
E andei sabendo que à frente é onde estão
Meus encontros assinalados, inevitáveis,
O que juntarei.
Não sou de juntar
O que pegarei pra fazer o que for
Pra me espantar, de surpresa
Para eu andar com clareza
De que tudo, amando, apegando,
Tudo um dia deixarei nesta estrada.
MINHAS SAUDADES

Eu já namorei jogando pedras
Na janela de minha amada.
E recitava Castro Alves,
Para chamar a atenção dela,
Mostrando-me um revolucionário
Um contra-ponto, contra
O que se fazia aos negros escravos.
Eu já namorei empunhando um violão,
Dando-me em segundo plano,
Pois ela olhava mais na canção
Do que em mim.
Tempo, tempo, aonde vamos nós,
Tu apressado, nós correndo,
Pra onde?
Eu já sou casado, coisas do tempo,
Mas por mim ainda andava vagando
Nas ruas seguras da minha cabeça.
Ainda chorava, escrevia cartas
Com caneta tinteiro.
Ainda levava ao meu amor um cacho de jasmim,
E não saia, burro, te seguindo, Tempo,
Me segurava abraçado ao peitoril da casa dela
Quando visse apenas uma ameaça de vento.
E ficava por lá, contando estórias,
Ouvindo os pássaros nas matas,
A começar pela madrugada
Quando devagarinho voltava pra casa
Como o coração cheinho de esperança.
DA MINHA SAUADE

Quando o mundo era dos delírios
Do sonhar triste de uma paixão
De entrelaçar seus dedos noutra mão.

Quando da desventura se fazia uma cruz
E nela se pendurava em plena rua,
Só de chamar a atenção do seu amor.

Quando os pardais ainda de madrugada,
Já afinavam seus estridentes cantares,
E o dia era mais comprido pra nada.

Nesse tempo eu lembro, que a luz elétrica,
Haviam aqueles renitentes, céticos,
Que se negavam a mastigar chicletes.

Quando o ser amado era demais amado,
E seu joelho era mais procurado,
Que um broche quando cai no gramado.

Quando pelos coretos tinha uma retreta,
Só pra impactar como seus metais, varetas,
Os achaques, inaugurações do prefeito.

Quando a noite vinha se via a pracinha,
Cheia de amores, olhos de mocinhas,
E de rapazes com olhares em cima.

Quando o mundo foi desses delírios, vão,
E junto com ele, um tempo de ilusão,
Mas que ninguém se iludia não.

sábado, dezembro 30, 2006

OS AVIÕES

Muito mais alto vai,
Muito mais alto sobe,
Muito mais alto paira,
Meus pensamentos...

E eu pobre homem, a rastejar na terra,
Transponho as nuvens,
Transponho os astros!
Muito além, muito além
Dos outros mundos que no espaço rolam.

Subo...
Muito além, muito além
Da maravilha
Dos sistemas solares...

A estratosfera muito abaixo fica...
Elevo-me...

Transponho
O espaço infindo, que não atem medida...

E lá,
Onde não chegam nunca os planadores,
Meu espírito vai,
“Na asa veloz do pensamento”,
Aos pés de Deus:- Senhor!

Para a treva em que vivo – a tua luz...
Tua bondade – para a minha culpa...
Para a minha imperfeição,
Uma centelha, ao menos,
Da tua Inatingida Perfeição...

sexta-feira, dezembro 29, 2006

TORMENTO

Abuso do meu coração luzo
Nessas distâncias só tem saudades
Puxo muito por meu coraçãozinho
Nestes caminhos não se chega a nada.

Nada que nada espera
Tudo é quimera, existe nada,
Tudo que a gente queira,
É uma besteira a outros olhares.

Espero muito dos meus olhos
E me olho o molho só prá chorar,
O tempo nos seus intentos
Afastou-nos a rota de ver chegar.

Aperta-me meu coração
Dá-me um abraço só pra eu lembrar
Que não estive só na luta
Escuta as águs, só elas estão.

Te aninha meu coração menino
Por tantas braçadas nãos vistes um ninho
E mais aumenta o dilúvio
A gente para até tudo baixar.

Brazeiro meu coração brasileiro
Fincou os pés não sai do terreiro, renega o mar
Um fundo sem fundo, um oco,
Que só um louco se lança a nadar.
TRSTE

O Poeta acorda cedo
O poeta vai ao banheiro
O Poeta escova os dentes
O Poeta toma banho.
E enquanto ele faz isso
Coisas das manhãs,
Como qualquer pessoa faz,
Uma avalanche o segue
Com admiração por Ele.
Bombardins
Porta-bandeiras,
Fogos de artifícios, papéis picados,
Eloquentes discursos,
Pessoas por todos os lados.
Fotógrafos com máquinas assestadas,
Carros estacionados,
Vivas, Glórias!
O Poeta está tristonho.

Num coreto na praça pública
Construção nova, não inaugurada,
Ele se encosta,
Depois senta no peitoril.
Do oitizeiro um pardal canta
Um canto que ninguém ouve
Uma sonata que ninguém para pra ouvir
Canta ao sol já alto.

O Poeta entra em casa
O Poeta vai ao seu quarto
O poeta fecha a porta
O Poeta etá tristonho.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

MEUS OLHOS

Meus olhos tem aumentadas
Suas capacidades de verem
Eu vejo a lua passar distante,
Eu vejo minha alma andando
A dez mil metros longe de mim.

Vejo homens em barcos no alto mar
Com seus movimentos, de ir e vir
Árvores em plena mata, invisíveis
Carros em ruas a distar da minha
Disto são capazes meus olhos.

Se ninguém sabia isto de mim
Já sabem, pelo que vejo e mostro,
Porém isto ainda não prova
Ninguém os olhos que tenho
E nem têm como eu outros olhos.
VAQUEIRO

No tempo que eu era um menino
Brincava de ser vaqueiro,
Toda noite sonhava contando,
As cabeças do meu rebanho inteiro,
Separando os bois gordos dos magros,
Distanciando dos touros as vacas
Que ainda não estavam prontas
Que ainda não tinham idade.
Tempo de procriação.
Mas meus sonhos se avolumavam,
Mesmo com as separações feitas,
Cada dia o rebanho aumentava,
A ficar de eu só não dá conta,
Foi ai que contratei um capataz.
Um capataz das minhas feições,
Cuidadoso como eu,
Zelozo en suas obrigações.
E olhando-o quando chegava,
Eu via nele mesmo eu.
Com os mesmos sonhos de outrora,
Com as mesmas vestes e arreios.

E o meu destino hoje é pelo mundo,
E estes sonhos deixaram-me o aperreio,
De inda hoje contar bois de pastos
Que meus os olhos não vêem,
Eu não tive, a não ser inda criança,
Quantas terras eu acumulei.
E com a vinda daquele capataz
Quantos rebentos eu puxei,
Não perdi um só bezerro,
Quantas terras também juntei,
e tudo isso por lá deixei.

E lá é um lugar que em mim,
Cada dia se distancia mais,
Agora não sendo mais um menino,
Sou, da vida, o seu capataz.
PRESSA

Eu só ando com pressa.
Esta constatação é antiga
No entanto ninguém nunca me perguntou,
Porque da pressa, desses abertos passos?
- Para chegar onde temo não sair,
Para um lugar ao sol, pra me encobrir,
Para me distanciar das iluisões daqui,

Dos sonhos lentos,
Das irrealizações previstas.
E me apresso... mas os meus pensamentos seguem lentos,
Estáticos como a vida de quem fujo,
Eu quero logo um lugar futuro,
Correndo do passado,
Sem nem querer pisar o momento.
Eu me apresso enquanto o mundo
Ainda é um buraco raso,
E talvez por baixo ainda exista
Algum farelo de minério,
Alguma coisa que valha algo.
Eu vou com pressa, por que se estendo o braço
Ele vai além do que posso alcançar,
E eu não quero nada, a não ser andar apressado.
Sei que quem anda como eu, aperreado,
Pouco tem tempo de juntar,
Mas o que era de meu já juntei,
O que eu tinha pra levar, já levei.
Por isso ando nesta pressa,
Porque minha pressa é a de chegar.
Não a pressa de estar,
Não a pressa de ficar,
Minha pressa é a de continuar.
Assim, depressa,
Que a pressa é inimiga da razão.

quarta-feira, dezembro 27, 2006



AMOR

Todo amor vale um riso
O brilho do olhar,
E todo o juízo
Que se tem pra gastar.

Todo amor tem um riso
Tem um brilho no olhar
Todo amor tem juízo,
E tempo pra gastar.

E amor é um todo de amado
Um muito de amar também
Amor não é fogo ateado
Aos lençóis, amor é bem.

Amor é um partir certeiro
A se cair no colo, pelo tino
O amor tem esse destino
O coração de violento bater.

Amor faz parte da vida,
Como a vida faz do amor,
A razão de sua ida,
Vai até onde este tem valor.

Fechem-se as bocas sequiosas,
Experimentem amar olhando,
O amor também cabe aos olhos,
Caminhos se vão clareando.

Amor é amar sem segredos
É tê-lo vivo mantido perto
E que de longe ressoe aberto,
Ama-se também em degredo.

Amor é o bem do amar,
O bem do amar é o amor,
Quando se ama o amor estar
Se declinando, com uma flor.

UM REI

Meu coração é um empório de miudezas,
Nele não armazeno grandes coisas,
Não pra não caber depois,
A minha pessoa a entrar e sair
E quando temporariamente vai de volta
Quando quero estar por lá,
Quando o menino quer ficar.

Todo menino gosta de brincar disperso
Às vezes com quatro pedras
Pensa na fazenda do seu rebanho.
È certo que Ele estranhará,
Quando for ocupar a sua instância,
E vê-la invadida, cheia de minúcias,
De dispensáveis objetos
A ocupar o que é seu por direito.
Assim quando o menino chega
Tenho de esvaziar num aperreio
O meu coração completo,
Nisso vão as intenções de agora,
Os sonhos, que dobro e guardo fora de casa
O amor, que se tiver espera, na porta,
E fica entronizado o menino,
Com outros sonhos trazidos,
Que outros amores traz,
Os mesmos de muito atras
E só isso ele faz, brincar,
Sonhar, fazer-me louco, de tanta saudade.

BENTO

Se a dor que se anuncia
Com o vento que nunca mais havia sentido,
For da mesma intensidade de ontem.
A mesma que convivi pela semana,
O vento só trará chuva, se chover,
Mas se chover como promete,
Que vem das mesmas alturas,
A dor já será outra.
Me trará saudades,
A chuva sempre me traz recordações
De quem não quero lembrar.
Mas me entreterá por um bom momento,
Enquanto vejo os córregos se enchendo,
O cheiro da água quando bate na terra seca,
Os bodes acomodados quase dentro de casa.
Essas visões talvez me acalmem
E hoje eu não necessite fazer curativos
Sobre o meu corpo, que todo dói.
Se a dor que já inquieta só por eu falar,
E sua intenção é doer, e doer cada vez mais,
Não tiver o mesmo poder da chuva e do vento,
Eu terei sido bento, por Deus, pela água.

terça-feira, dezembro 26, 2006

DIVAGAÇÕES


Eu não conheço a cor dos meus olhos,
E se soubesse deles, teria o poder
De me confrontar comigo,
E eu não me conheço de frente
Olhando sem ser por um espelho,
Que me reflete o contrário,
O que é direito vira esquerdo,
E o que é esquerdo fica direito.
Não conheço a cor dos meus olhos,
Nem seus movimentos ávidos,
Até porque tudo o que vejo
Está a frente de mim,
Como a natureza, que vejo,
Como os olhos do meu amor,
Que bem conheço.
E o que mudaria em mim,
Se eu pudesse ver como são meus olhos.
Eu não trocaria outras visões mais belas,
A prender-me vendo parte de mim,
Sem nada de interessante,
Talvez, não sei.
Sei que os meus olhos
Não são para serem vistos por mim,
São para enxergar
O que a vida tem de feio e de bonito.

naenorocha

segunda-feira, dezembro 25, 2006


ROMÂNTICOS

Houve um tempo em que os poetas,

Ardiam de amor.
Catavam silenciosos, rimas,
Deliravam em febre e iam solitários,
Tudo em nome de qualquer amor.
Alguns escreviam deitados, e tomavam chá
De hora em hora, enquanto a amada chora,
Por desespero, por não amar,
Por não deixar-se amar.
A repulsiva sorte do pobre, a morte,
Ironicamente os inspiravam a falar de sorte.
Houve um tempo, tempo de delírios,
Dos moços, das tabernas infiltradas,
Das chuvas em mormaços,
De uma dor devastadora, que doía,
Uma dor que não suplantava

As mágoas do poeta em não ser amado.
Será que estar por vir esse mandamento,
Em que a poesia pede esse andamento,
Em vez de externar sua beleza, pureza,
Fica nas tranqueiras, no mal pensamento,
Viver só com a morte ao lado,
Morrer com a amada distante
Com a cama repleta de papéis cruzados,
De obras rimadas, de um corpo finado.
naenorocha

ESCOLHIA

A lua quando recai sobre a relva.
Eu sempre fico com os olhos nela,
apesar de clarear o dia hoje,
me leva ao passado,
e eu não me vejo,
só me sinto menino.
Moleque de calças curtas,
dando voltas no mundo,
sonhando, sonhando, seguindo
aonde a cabeça cheia de tudo
me levava a ver e a querer o mundo.
Sonho como homem de agora,
e o menino sente, que fez mal negócio,
sonho no homem do meio,
e o menino sente já algum aperreio,
E vislumbrava e via tudo através
da mesma lua de agora,
a lua que clareia a hora,
e vê que meus olhos choram,
e nem por isso, leva o meino embora,
deixa-o solto à deriva, sobre a relva, iluminado,
e ele sempre, alucinado,
com encantos, das copas das árvores,
de um cavalo feito de talo de buriti.
E o adulto chora, e a criança ri.
Bem que podieis ser escolha,
um livre arbitrio, que Deus não nos concedeu,
crescer ou continuar, assim, menino solto,
a deixar de ser um adulto
infeliz, encarcerado.
naenorocha

PRISIONEIROS

Trago-te aprisionada bem dentro de mim
No meu coração ou em outro cômodo que sinto,
Também sou um prisioneiro teu, assim
Do teu amor, às tuas ordens vivo, e não minto.

Quando o sabor, o cheiro, dos perfumes de fora
Podiam trazer-me algum tipo de alegria, eu choro,
É como se cantasse, por que sei da vida inodora,
Que é viver sem ti, mesmo que privado de sentir a flora.

Trago-te tão leve, que só sinto o cheio,
O peso, a dor, não me ocorrem nunca,
E quanta alegria ser dos teus cuidados feito
Por que és tão delicada e não me contorce a nuca.

Sinto sim, nesses careceres distintos, pertos,
Gritos de amor em gozo, tremidos de ferros,
Eu do meu espaço, prisioneiro, do afeto
Tu, querida, amada é tocada por meus berros.

naenorocha

DEUSES

Lindos esses puros pintados
Que velam a cor que de verdade têm
E se afrouxam em cortar a pele
A não ver o liquido, uma nuance rubra
Que de toda criatura jorra,
Basta, em indesejado gesto
Triscar, furar, qualquer pedaço de terra.
Raros um desses apurados seres, a lua atrai
E mentem quando dizem de voz e peito acertado,
Ela minha musa, a minha cor, eis infinito
E convencidos de que não se confundem,
Se dispersam mais, e muito mais se afundam.
Deuses esses deuses que tudo fizeram,
Desde a primeira aurora, ao ocaso que se espera,
Que dos seus semens tudo foi germinado,
Inclusive o gás, juntamente, a dor.
Que se dão conta, enquanto certos, contam
Como certo a redenção só deles,
E ocuparão os céus, com vestes de leite
Deixando confuso os espaços dos anjos,
Um céu, que criarão à cara e imagem deles.

naenorocha
LUA

Por que tens este poder no olhar esta visão sem fim
Que passa o mundo numa só revista,
E ao mesmo tempo ver e o mundo te avista,
E és tão plácida, tão cândida, eu te sinto em mim.

Que amores deixaram teus lábios tão macios,
Que me beijas e só o prazer de um roçar eu sinto,
Não sofro a volúpia nem te seguro e um vazio
De estar sendo amado, mas não sinto gozo, e minto.

Fugás, que pretensões tu guardas para o meu amor
Se já escapoles por entre meus dedos, como água,
Se já deixas ao vento meus lábios quem nem beijou,
E já não estás e eu ainda sonho em tornar-me águia.

Sequer és a mulher que como as outras, e torturas,
Qual o prazer que sentes em me deixar na rua
Sentindo o gosto do que mal me pus, loucuras,
Eu sonhar contigo, inexistente, minha linda lua!

domingo, dezembro 24, 2006


DELÍRIO

Como alguém em um dia de pleno sol,
Abre a porta e se espanta com a claridade,
De todo o tempo aberto, sem reter nada,
Assim às vezes me dou, em sobressalto,
Contigo à minha frente, falando-me
Que dar para ouvir até teu lábio bater no outro,
Nesses momentos, sei, sonhei, tentei,
A noite inteira contigo, estivestes a visitar-me,
E aconteceu amor, beijos desesperados,
Sussurros falas, que aos poucos, volto a sonhar.
Tenho sonhado muito contigo,
Te amado nos meus sentidos, louco,
Com a te puxar pouco a pouco,
Novamente para dentro de mim.
Estais fora porque assim quisestes,
E dizes de um amor que teve o fim,
E eu, comigo, nada disso deu-se,
Além da dor de ver-te sair,
Como o sol mais claro vai,
Quando se fecha suas entradas.
Será que a gente esquece a quem se ama,
E em mesmo que fosse possível,
Ficaria o amor nos alimentando,
De saudade, em sonhos, em vontade,
De abrir a porta e ver o que tem para entrar
.

naenorocha

RUAS

Na minha cidade tem duas ruas de águas
Que cortam transversal as outras ruas
Feitas de pedra, areia e asfalto
E qualquer uma que se tome destino
Todas vão descambar no mar.

Nas ruas que são mais comuns
Por elas andam cachorros e gentes,
Nas duas que são mais largas e extensas
Passam peixes, que não se vê.
E bóiam barcarolas levando gente.

As gentes trafegam por todas
Menos os cachorros que olham
O descer das águas, rumo distante,
Ficam só olhando,
Se bicho sonha, eles ficam sonhando.

As ruas de pedras e areia,
Nas de água e sonho se molham
É um descambar natural,
Como afluentes no grande leito,
A composição da arquitetura,
Se assemelha a ossada de peixe.

Ou um pente que se abrisse,
Ou uns riscos que qualquer um faz,
Um dois traços grossos nomeio
E inúmeros finos que fazem uma grade.
É assim que se concebeu, pelo começo
O jeito de minha cidade.

Uma cidade quente em todas as estações,
Quente com o sol feroz do verão,
Quente com as águas frias do inverno,
Quente como os homens vivendo o
Tempo de das flores, amor e primavera,
E quando as folhas caem, deixando-a descoberta.

naenorocha

sábado, dezembro 23, 2006


AMOR QUERIDO

Meu amor, se estivesses comigo
Agora, e por um gesto eu sentisse que querias,
Subiria aos céus, ao seu recôndito mais longínquo
E a estrela que desejasse eu te traria,
E pelo caminho, encontrando Deus, o pediria,
Em teu nome um autógrafo num pergaminho.
E te mostraria ainda, o que estar tão perto, mas sozinho,
Como é amar, a se entregar todo, e não sentir,
Te faria ver que, como não se ver nada
Mesmo com os olhos abertos, pertinho.
Que a gente se entrega, e não se sente recebido,
Que a gente ama, ama, e não se sente amado.
E que isto é o que provoca na gente essas loucuras,
Como falar aos anjos, campear estrelas,
Ferir os lábios beijando flores e espinhos.
Meu amor, amor que eu desejaria fosse,
É por já não ser, é por não me querer,
Que eu me atrevia a todas essas sandices.
Imaginas eu abordando Deus, com um pedaço de pergaminho
Inusitado em nossos dias, e Deus muito mais impossível ainda,
E quem me assegura que tenho asas para alçar tamanho vôo
E mexer com as estrelas milenares nos mesmos lugares,
E trouxesse uma, que nem na terra cabe,
Imagina nas tuas mãos pequenas e leves,
Que eu amo, mas que tu não consideras.
O amor é assim, uma quimera, feito de outros sonhos,
Possível só chamar, falar, tocar... ter é muito sacrifício.

naenorocha
DIVAGAÇÕES

Todos os meus poemas são repetidos,
e cada um é diferente do outro,
porque de cada coisa que falo
repito apenas a palvra que o identifica igual,
depois recaio como o olhar buliçoso,
a descobrir minúncias, coisas que sempre
uma palavra diz e a outra silencia.
Às vezes mais disperso, fico a tangenciar a palvra,
ás vezes imerso busco o que de profundo
consigo tirar do mesmo sinônimo.
Assim quando falo de amor, se estou a amar,
calo mais no peito do que externo,
por pensar no amor paupável, o meu amor.
Quando não estou envolvido com o amor,
fico a diligenciar caminhos, vertentes,
posições e gestos que um amor faria,
que pode ser comigo, sem interesse agora,
ou com qualquer outro que sinta a esta hora
os sintomas visíveis de quem está entregue,
às teias deste sentimento, que chamam amor.
Me expresso diferente ao falar de uma coisa
muitas vezes identicas, iguais,
e confundo e me alucino, quando me expresso,
como já tanto falei, o amor: que é um sentimento
e o amor que é uma coisa.
naenorocha

CAIS

Amor, quando eu sai
O cais deu pr'um deserto.
Ai, eu fiquei tão triste, certo.
Que o amor é coisa dolorosa,
Que a lágrima fria é saborosa.

Estou com saudade,
E toda tarde,
Choro lembrando
O rio, o por do sol.
Minha verdade
É o que tu sabes,
Eu não consigo viver só.

Amor, quando eu saí
Pensei na minha volta,
Te encontrar,
Como eu deixei, na porta.
Com um sorriso aberto,
O meu abraço,
Teu colo esperando o meu cansaço.

naenorocha
TRISTE

O dia amanheceu com uma chuva fina
Que julguei apenas ao chão se destinar.
E previ que fosse esta manhã assim,
Acordei triste com os pensamentos soltos,
Sem controle sobre eles, que iam a distância,
Andavam no imaginário, por ela...
Tentando vê-la, na imagem que formava,
A qualquer custo. Assim demorei levantar,
E não consegui, o dia todo estive arqueado,
Como se por chover a noite inteira,
Algum vento tenha passado,
E me abalado as raizes, e fiquei assim,
Cabisbaixo o tempo que durou o dia.
A manhã foi ainda mais triste e lenta,
Foi quando eu levantei, já mais sofrido,
A angústia que se me abatera, inda dormindo
Perseguia-me pelos cantos onde eu me escorava,
Reflexivo, trêmulo e triste.
Seria só de saudade? Certamente não,
Essas coisas me ocorrem nos dias frios,
E nos dias quentes, do mesmo jeito.
Mas a tua imagem anda comigo,
Recurvado, em riste, alegre ou triste,
Ela vai comigo.
Converso com ela, e ela conversa comigo.
Tem sido assim todo esse tempo
Quando ela ausente, me acresce mais tristeza,
Uma incerteza de sua volta,
E a certeza de que sempre vai ser assim.
O dia amanheceu hoje, normal,
No bem, no mal,
Eu vou empurrá-lo aos peitos, até o fim.
naenorocha

sexta-feira, dezembro 22, 2006

COMO EU TE AMO

Como eu te amo,
Te todas as maneiras,
Te amo com os meus olhos
Com o meu olfato,
Te amo com os meus dedos
Quando te toco, te amo tocando,
Te amo distante ensaindo um gesto,
Um beijo bom.
Te amor por tua boca e pela minha,
Te amo pelo teu encanto, quando
Sempre me encantas, e nÃo me canso
Te amo de olhar, e fico horas te olhando,
Quando és distante, recorro às tantas imagens tuas
Que ficaram presas pelo meu pensamento,
Te amo pensando, e em ti penso sempre.
Te amo sempre e sempre, é fatal,
Te amarei.
Te amo fraseando ao teu ouvido
Confissões, promessas que nunca vou viver
Sem ti. Morrer é mais provável,
E é esperado que eu nem te fale,
Se falares um dia que nada mais sentes,
Nem por mim, nem por meu amor.
Aí estarás pecando, pecadora,
Que nega o que viu, e sabe ser verdade.
Mas que Deus nos livre, mais a mim,
De tal passagem. A vida é uma passagem
E contigo ela toda eu quero passar
.
naenorocha
DEUS
... Ah, aqueles anjinhos, criação de Deus! Da necessidade humana de proteção, meiguice, carinho, descanso e gozo. Deus criador e criatura do homem, pela necessidade de mais vida, ou vida, já que as coisas por aqui andam tão tirando da gente, que nos deixam à exaustão. Não existisse Deus, naturalmente, - pura quimera - , por obrigação Ele se faria. De si mesmo Deus se faria, e faria tudo o que fez, com os mesmos cuidados. Deus uma auto criação, que cabe aos homens o sonho a idealização de sua imagem, forma, magnitude. Deus é onipresente por estar arraigado, cravado em cada um de nós como sinais; Deus é Onipotente por potencializar os homens que O contém, para as realizações válidas, que a Deus interessa e se destinam, como o bem, o bom, a caridade, a simplicidade, a alegria, o riso, o choro, a vida, a morte que é vida, em inicio sem tempo para o fim. Deus seria obrigado a se auto-projetar aos homens que desde os primórdios clamam, falam, pedem, imploram, oram, humilham-se, dedicam-se, vivem por fim, pela simples garantia da vida eterna, diferente da que passamos aqui, inodora, de amor, de paz, de descanso, de reconhecimento, de igualdade, de brandura, perfeita como são todas as coisas feitas pelo Altíssimo. Deus teria forçadamente que inventar-se tamanha a necessidade do homem de quem os assista, lhes confortem, lhes assegure: as benesses da vida celestial. Clamam os homens por muito tempo por Deus, que os tem respondido, satisfeito, caso não, de nada interessaria o homem ser virtuoso, pois o faz na esperança de ver a Deus, criador e criatura sua. No entanto Deus não é invenção, e a criação a que me refiro é a de se sentir pulsar dentro e fora de cada um de nós uma força, um poder encaminhador, uma impulsão para a prática de coisas lícitas e agradáveis aos olhos de Deus. As formas, o jeito, a composição foi o que apenas o homem conseguiu engendrar, sem saber ainda o certo. O certo é Deus, o errado é a inércia, o não aprofundamento, não imaginar Deus na sua forma, do jeito que Ele cons conforma, nos alivia, nos consola, nos tira da aflição.
Deus provocou e ainda suscita nos homens olhares para Ele, e, a criação do homem que, puramente é criatura, se resume em apenas dar formas, poder e graça ao que não ver, e confiar no que crer ser, e é, Deus, criador de tudo e de todos. Sua obra mais importante foi dá vida e intelecto ao homem, inquietá-los a poderem também serem criadores. Um feliz natal, e que todos os anos restantes a cada um de nós sejam bens, que toda semente que lançarmos ao solo, faça-se rachar para o nascimento da árvore, que folhará, florescerá, e carregará de frutos bons. Que DEUS ajude em conseguirem a todos quanto, o imaginam da forma que ELE não é, a verdadeira imagem, poder e glóriaA dEle.
naenorocha

PEDIDO

Uma coisa peço a Deus, e peço incessantemente,
Ser na minha velhice o mesmo moço que sou
Não com o mesmo viço, os olhos no mesmo brilho,
Não com a desenvoltura física,
Com as mãos pesadas de agora,

Com os mesmos cabelos da mesma cor,
Não com a mesma voz altiva,
O andar desenvolto, com os mesmos anos que conto,
Tampouco que o tempo pare para que eu permaneça moço,
Com o mesmo olhar malicioso,

Com as ambições que alimento,
Não quero ser o velho renitente contra os feitos da vida,
Não ser jovem ardente, de sonhos imediatos, meus,
Nem desejar que o mundo me veja como um prodígio,
Alguém que rompeu as leis e permanece,

Incólume aos intempérias do tempo.
O que peço a Deus e já faço inconscientemente,
É ser capaz das mesmas boas ações,

Dos sonhos, do bem querer, da alegria
Que sinto com a alegria dos outros,
É ser este mesmo moço formoso,

Preparado pra declinar.
naenorocha

quinta-feira, dezembro 21, 2006


FAZ TEMPO

Tanto tempo faz,
Tempo já demais
E este tempo jaz
No meu coração.
Tempo que eu nem conto,
E este contraponto,
Dado em nossas vidas,
Sem mostrar saídas,
Tempo que eu me assusto
Dava tanto assunto,
E eu nem sei ligar,
Uma coisa a outra,
Se a vida é autora,
Desse meu penar.
Se a vida tem mesmo
A ver com esse desfecho,
O preço é muito mais,
Do que a gente pensa,
O tempo não se ausenta,
E eu não vou mais contar.
Contar da desventura,
Minhas amarguras,

Eu vou ter de suportar.
naenorocha
CANTO

Alguém cantando é como está falando
Ao mundo inteiro por um sopro penetrante,

Sua voz se espalha, harmoniosamente
Como uma bruma a cobrir a natureza.
É alguém que quer ser notado
Pela versão melódica de suas palabras.
Efeito que, quando se fala, a alguém direto,

Do modo usual, palavra, só, palavra, não se sente.
Cantar é uma versão da fala, o de encantar.
Quem canta quer se ouvir chorando e rindo,
Não espelha seus gestos, a sua boca, não cita
Palavras comuns. É como se outra língua pronunciasse,
A letra que se melodiasse, e se molhasse de pranto,
Gota a gota, palavra por palavras, gesto por gesto.
Certo é, que se em vez de falássemos, como calados,
Porque é o tom e o som que as palavras faladas emitem,
O mundo assim ficaria mais triste, e só conversa,
De saudações vazias, vivêssemos, não cantando.
Quem canta mostra um coração, uma caixa ressonante,
E não só a boca externa palavras que podiam serem ternas,
Que em sinais se transformassem.
Rezo, a que todos cantem, que em vez da fala seca,
Palavras com as mesmas letras tenham esse soar ameno,
O canto, a oração, que a alma faz, com melhor intenção:
Furar as ondas que são obstáculos à palavra,
E mais direto a Deus, sua presença se faça logo chegar.
Cantar não é um dom que poucos tem,
Como falar, é comum também, ser melodia todas as letras,
É algo possível, e dado a qualquer um fazer.
Quando as pessoas descobrirem, por si mesmas,
Cantando, em vez de falando, e gesticulando, vãs,
Que o canto em vez da caminhar rasteira
Por onde tendem as palavras,
O mundo seria um coral sem fim, um louvor, assim
Como fazem os anjos reunidos em todo entardecer
.

naenorocha


MEU DIA DE NATAL

Vela branca tão longe, tão distante...
Lá, na curva do mar, quase perdida,
Farrapo de ilusão, lábio ofegante,
Sonho qeu teima em se agarrar à vida.
Meu Dia de Natal! No infindo arquejo
Desta saudade imensa é que eu te vejo.

Ouço bem perto estrídulas cantigas,
Burburinhos de alegres algazarras,
Passa um rancho feliz de raparigas,
Num chilreio de trínulas cigarras.
Meu Dia de Natal! Quanta emoção
Sacode e faz vibrar o meu coração.

A minha igreja, capelhinha pobre,
Tinha na torre, um sino que sorria,
Nunca ouviram funerário dobre....
Era o sino do amor e da alegria.
Meu Dia de Natal! Bem sinto agora
Dentro, em meu peito, um um sino plange e chora.

Bailam no azul estrelas pequeninas,
Há ao espaço um fremir de asas inquietas,
Concertam-se no céu vozes divinas
E a terra exulta à glória dos profetas....
Meu dia de Natal! Nasce Jesus
Esta saudade infinda é a minha cruz.
naenorocha

quarta-feira, dezembro 20, 2006


DELITO

Uns seios belos, róseos e quentes,
Dois passarinhos de rubros bicos,
Rijos, formosos, impertinentes,
Prenhes de aroma, de graça, ricos.

Eis o quer, ás vezes, eu ver procuro,
Quando teu colo de cisne fito!
Desculpa, santa, mas não me aturo,
Cometo, em sonhos, um tal delito.
naenorocha

NÃO TEMAS

Não temas, flor, que o passado
Há tempos jaz apagado
Nas brumas do esquecimento...
Meu pranto fez-se alegria,
A treva tornou-se um dia,
De mágoa foi-se o lamento.

A noite densa de outrora
Desfez-se, pois surge a aurora,
Bendita do teu sorriso...
Minhalma delira e canta,
Ante e meiguice de santa
Que no teu rosto eu diviso.

Na quadra dos tempos idos,
Arrubos tristes, gemidos,
Soltava o meu violão a chorar...
Mas foi-se a mágoa, revivo,
Embora louco e cativo,
Cativo do no teu olhar.

Deixa o receio, que eu vejo
Toda a ventura que almejo
No teu perfil sedutor...
Não temas, flor, que o passado
Morreu, de luz suplantado
Na madrugada do amor.
naenorocha

terça-feira, dezembro 19, 2006


AO TEU OLHAR

Ao teu olhar que nunca me disse um não,
A ele, porque o mundo precisa, a luz,
Que rastreará todos os recantos e guiará
Os fracos de visão, os que não vêem
Pelos orifícios onde a vida penetra,
Por onde o amor se manifesta, a lua,
Que dele depende para ser tão clara,
Ao teu olhar, uma lágrima que banha,
Cairá um dia, e verás que o dia,
É todo claridade e mostra tudo,
Até o que não se deseja ver.
Ao teu olhar o meu se inclina,
Diante do lume intenso, numa neblina,
De estrelas cadentes todas ao chão.
Ao teu olhar me mostro, quem sabe um dia,
Me verás inteiro como sou, um outro olhar
Fixo no teu, amando o teu, dentro do teu.
Ao teu olhar migalhas cairão ao chão,
E não colherás nenhuma
Porque julgarás pouco, e por não sobrar
Uma sombra por todo o deserto
Que dê descanso ao teu olhar.

naenorocha

EU QUERO

Estais na minha pele,
Mais profundo, em minha carne,
Nos meus ossos,
Tuas marcas, e eu não posso
E nem as quero tirar.
Estais pelo meu peito,
Mais profundo, dentro do meu coração,
Correndo pelo meu sangue,
Por isso não sou um doador.
Eu quero ter a tua boca dentro da minha
Como alguém que reanima
Um abortado do mar.
Eu quero ter os teus olhos dentro dos meus,
Quero cegar por inteiro,
Pelo lume do teu olhar.
Estais na minha cabeça,
Mais profundo, estais lá pelos neurônios,
Onde ninguém pode tocar.
Porque se tocam em ti, eu sairei
Direto, louco, para um hospital, baixar.
Eu quero ter meu corpo no teu,

Como uma abelha que entrou no seu lugar.
naenorocha



O homem perde muito tempo, vida, perguntando-se de onde veio, quando mais próspero e proveitoso seria perguntar-se aonde irá.

naeno

TEMPO TEMPO

O tempo continua sua contagem e ninguém sabe,
A que alturas já está, em seu dedilhar acertado,
Se o que me resta, a ainda sonhar, me cabe
O querer mudar em mim a sorte, que delicado.

Eu ignoro desde quando fazes tuas contas
Mas consciente de que a cada dia aponta,
Essas mudanças que me fazem afrontas,
Pois recontar nos dedos, sabe-se dele pronto.

Ah tempo das discórdias resolvidas, mas
Ah tempo das feridas inda hoje abertas,
Ah tempo destemperado, frágil fugás,
Considera meus ais, nas tuas contas certas.

Tempo em que posição estais agora, finda,
Em mim o tormento de querer saber de ti,
Mostra-me o teu rosto e verei ainda,
No crepúsculo um vulto a se espargir.

Conta-me de ti, que tudo de nós já sabes,
Acertas tuas contas, o que levastes a mais,
Ou o que deixastes menos, do que a ti cabes
Deixa-me quieto, passa, sara meus ais.

naenorocha

OCASO

A enferma continua a acabar... No supremo estertor
De um gigante ferido, o sol deixa escorrer,
Perlas dobras do ocaso, o sangue a ferver,
Jorro do peito hercúleo, em trágico esplendor.

Desce a angústia da tarde, em sombras, a tecer
Fina trama onde a luz é de indecisa cor...
E esse dia, ao findar, no esplêndido fulgor,
Lembra a glória de um sonho, a sorrir e morrer...

A tela vai mudando. O quadro iluminando
Torna-se escuro agora... Um roxo carregado
Sobre o vivo matiz a se espalhar...

A noite vai cair... Das alturas da terra
Manda o sol que agoniza, á alma triste da terra
O seu último adeu e o derradeiro olhar.

naenorocha
TODA AMETATE É SAUDADE

autoria ARCANJO POETA

Sem você sou apenas metade
E a metade que fica; é apenas lembrança
Mas toda metade é saudade
É metade triste, metade esperança

Metade medo, metade coragem
Sem distinção de raça, credo ou idade
Se não a tenho, te invento, vejo miragem
Eternos cúmplices em laços de amizade

Que não demores, pois há tempos te espero
Vem depressa, vem sem demorar
Você meu amor, és tudo o que quero
Venha, e deixa-me te amar

Serei para sempre teu confidente
Venha e abençoada será nossa união
Sem medo do futuro, passado ou presente
Um conto-de-fadas, poesia e canção

* em homenagem a minha Carol


GINA
minha rainha. eu plebeu

Te descortina, Gina...
Mostra o teu riso claro.
Deixa o teu corpo
Magro e franzino fazer
O movimento da felicidade.

Por mais que se evite,
Tudo acontece
Como acontece
A rede que se tece
Prá depois dormir.
Tudo é tão simples, Gina,
Tão complicado.
Por mais que eu ande,
Por mais que eu fuja
Eu estarei apaixonado.
naenorocha

segunda-feira, dezembro 18, 2006


MEU DIA DE NATAL

Vela branca tão longe, tão distante...
Lá, na curva do mar, quase perdida,
Farrapo de ilusão, lábio ofegante,
Sonho qeu teima em se agarrar à vida.
Meu Dia de Natal! No infindo arquejo
Desta saudade imensa é que eu te vejo.

Ouço bem perto estrídulas cantigas,
Burburinhos de alegres algazarras,
Passa um rancho feliz de raparigas,
Num chilreio de trínulas cigarras.
Meu Dia de Natal! Quanta emoção
Sacode e faz vibrar o meu coração.

A minha igreja, capelhinha pobre,
Tinha na torre, um sino que sorria,
Nunca ouviram funerário dobre....
Era o sino do amor e da alegria.
Meu Dia de Natal! Bem sinto agora
dentro, em meu peito, um um sino plange e chora.

Bailam no azul estrelas pequeninas,
Há ao espaço um fremir de asas inquietas,
Concertam-se no céu vozes divinas
E a terra exulta à glória dos profetas....
Meu dia de Natal! Nasce Jesus
Esta saudade infinda é a minha cruz.

naenorocha

DIVAGAR

Também sei sonhar...
Às vezes vejo que em cada ser
Existe um outro, que o faz
Sentir, mover-ser, amar, sofrer.
A rosa tem por fora uma cor,
Um cheiro, uma forma .
E por dentro, como sinto ser,
Também há algo que lhe sustenta,
E lhe dar esses movimentos, de tempo,
A cor, o brilho, o amor que inquieta.
Dentro do homem reside calada,
Mas dona dos seus movimentos,
Seus sentimentos, e até sua aparência,
Uma alma, invisível, mas que se vê,
Por esses rompantes, essas quedas
Que acometem o corpo.
Deus, que existe, dentro de nós,
E fora do alcance do nosso olhar,
Por habitar o longe, o céu
E o nosso coração tão perto.
Por isso sonho, ou tenho a certidão,
De que Deus, eterniza-se,
Pois o que lhe acontece nunca podemos ver.
Por diz-se Dele infindável,
Como o sonho, de outra forma,
Que todos sentem, todos tem,
E que se passa de um para outro,
Às vezes iguais, parecidos,
E sempre tão diferentes.
naeno

QUANDO

Qando, amor,
de novo eu vou te ver.
Não suporto mais
tanta saudade.
Eu dei, prá contar o tempo,
pra sonhar com o vento
que o teu cheiro traz.

Quando, amor,
de novo, é que eu vou ter,
teu corpo inteiro,
enchendo o meu abraço?
Aí eu, estarei no céu,
tirarei teu véu,
choro nunca mais.
naeno


REFLEXOS

Quando não se pensa em nada,
Há um mundo repleto de coisas ao nosso redor.
Mas quais os elementos que compõem o mundo?
Quase sempre eu não sei dizer o que pendo do mundo.
E se eu estivesse acometido de um devaneio,

Uma doença dos sentidos, pensaria assim.
O que penso das outras tantas coisas que estão aqui.
O que eu saberia dizer disto, dos efeitos e de suas razões.
Quando falo em Deus, saberei a quem me refiro,
E a alma, esta volátil, dela o que dizer, objetivar?
Penso na criação do mundo, em quem o fez,
E pensarei coerente, caso visse tudo à mostra?
Não saberia dizer a ninguém,
Embora isso me interessse
Mas não fizesse sentido aos outros
Que também devem ter suas deduções alucinadas.
Pensar em tudo isso é sonhar acordado, de olhos fechados,
E deixar de pensar é impossibilitar aos olhos qualquer dedução
À minha cabeça, que inquieta insiste,
Às vezes acertando às vezes errando.
O mistério das coisas é o mesmo que reside em nós,
E as coisas também pouco sabem a nosso respeito.
O que seremos para as coisas, com as quais nos confrontamos,
Podem elas ter um juízo acertado ou malogrado de nós.
Quem está na noite e fecha os olhos em nada muda,
E quem vai ao sol e fecha olhos, perde-se dele falar.
É como se estar na noite, de olhos vendados; não se pensa nada.
Porque nada se vê e nada se tem para avistar.
Por que uma rosa orvalhada, vale mais que o que pensamos dela
Se quando nela nos abstraímos, a vemos inteira, como é?
Assim por mais que sejam insistentes os poetas,
Ou os obcecadas pelos mistérios que se encerram nas coisas,
Às vezes desatinam em suas conclusões e transmitem
A outros que sequer contemplaram tais matérias,
Ficam com esta crença, a deturpada noção
Do mundo, e de tudo o que ele abriga harmoniosamente
.

naenorocha

domingo, dezembro 17, 2006


SE LEMBRA

Por todas as ruas,
Onde ando sozinho
Eu ando sozinho, com você.
E você que nem se lembra mais,
Se lembra?
Do jeito que eu fui, tão dedicado, meu amor,
Vejo com saudade,
A rua, a cerca,o espinho, a flor.
Tantos gestos fizprá lhe falar, lhe ver sorrir,
Você selembra?

Ainda ando sozinho,
Eu já nem sei se ando,
Eu ando sonhando como você.
E você que nem se lembra mais.
Se lembra?
Do jeito que eu sou,tão complicado, meu amor,
Fico encabulado, quando vou pegar uma flor,
E há tantos gestos mais,
Pra lhe falar, e essa canção
Prá você lembrar.
naenorocha

sábado, dezembro 16, 2006


CONTIGO

Qualquer dia, qualquer,
que seja coberto de nuvem,
ou que o sol se alastre na terra,
ai, amor, contigo eu gosto.


Qualquer pranto, qualquer,
que seja gerado em teus olhos,
por esta paixao que se vê,
ai, amor, a vida entorna.


Como ficam lúbricos,
meus olhos quando te vêem,
quero chorar mais ainda,
quero chorar, vida inteira.


Como são de vida,
sinais que vem dos teus olhos,
hei de viver muito ainda,
com esse amor que me consola.

naenorocha

ESPECTRO

Ainda te guardo o sorriso,
prá quando der de voltares,
ainda tenho comigo, saudade
em todos os meus ares.

Levo comigo uma imagem,
que em todo jeito é a tua,
que se reflete em meus olhos,
mirando céu, mar e lua.

Quer ser meu corpo tua casa
e eu quero dar moradia,
pro teu descanço, prometo,
fazer de tudo, queria.

Tenho o capricho incompleto,
fostes sem me saciar,
e o meu desejo é infindo
nada lhe pode aplacar
.
naenorocha


SAUDADE

Eu nunca disse amor que tu partisses..,
Saudade, amor, tão grande, eu nunca disse,
Eu sempre soube que viver distante,
Meu bem, eu ia assim, morrer de triste.

O que é que eu ganaharia com a saudade,
Que vem do sofrimento, da tristeza.
Estou perdendo tempo em minha vida,
De nada vale olhar a natureza.

O que é que poderia inda eu querer,
,Que não o afago de tua mão serena,
Privado do amor, do bem da vida,
E dói a dor que nunca fica amena.

Amor, ausência tua é estar distante,
Da fonte que a alimenta minha vida,
Buscando repirar o rafefeito,vento
tão escasso na saída.

Amor, eu vejo os anjos e te vejo,
Querendo lá no céu eu tento ainda,
Chorando,compulsivo, pelo beijo,
Mia boca a tua busca, tão perdida.

naenorocha
AMOR

Amor um dia acaba.
E fica o quê dessa ilusão?
Um peito cheio de mágoa,
Vazio um coração.
Amor um dia passa,
E o que se vê do furacão,
As mãos tateando nada,
Faltando aos pés, o chão.

Amor, te disse
Que não era tão somente,
A pele rente, um beijo ardente
Se molhar.
E fico nisso, amor, pensando,
Ah, se tu visses,
Quando me disse,
Amor não pode acabar.

Amor um dia acaba.
naenorocha

sexta-feira, dezembro 15, 2006


POETANDO

Não me preocupo em fazer poemas que todos encante ,
Porque eu faço daquilo que vejo e que a mim encanta
E nem sempre o que me encanta encantará os outros.
As vezes vejo uma flor, e sem avaliar, sem ver todo o jardim
Nela fixo os meus olhos, e dela tiro o que vejo bonito.
Ponho no papel a emoção exata que um gesto
De uma pessoa que se apercebe de que a olho,
Mas por olha-la, já me fixei em seus dotes bonitos,
E assim invento uma pessoa parecida...
Uma mulher, que sei, não é igual, mas tento ser realista.
Não me preocupam o que vão dizer,
Sequer se vão ler o que escrevo e falo sobre o que vejo,
Porque o que vejo pode passar á sua frente,

E desapercebidas, nenhuma atenção tomar.
Pode uma mulher, ao passar num lugar qualquer,
Em seu caminhado típico de mulher,
Uma mulher como tem de ser uma mulher,
E assim vendo-a descrevo-a como tal... uma mulher,
E assim, não necessariamente

Aos olhos de outros que a vêem, da mesma forma,
Ela se parece assim tão feminina, tão fina,
Como o meu olhar miúdo, a farejou.
E vou, escrevendo mais para mim que para os outros,
Porque se escrevesse para os outros,
Suas dores estariam estampadas nos meus versos,
E a poesia é este reverso, a dor, que aparenta-se notar,
É a do poeta, inteiro, em seu eterno procurar.
Um poeta vive de procuras, e parece nunca encontrar,
Na verdade não sabe o que quer um poeta,
Às vezes, se a flor, ou a mulher, se a mulher ou a flor,
Por às duas faz comparações, tão sem evidência
Que julgo, ele acreditar que as duas são a mesma coisa.
Mas a mulher não dorme ao sereno,
Nem amanhece respingada de orvalhos,
Não usa um mesmo perfume por uma eternidade,
Não se contorce com o vento frio da manhã,
Não se comove com as lágrimas de alguém chorando,
Mas o poeta ver assim, e por ver assim descreve,
A mulher uma flor e a flor uma mulher
.
naenorocha

TEMPORAL

Ontem à tarde o cume da costaneira
Cobriu-se de um escuro intenso,
Como se todas as luzes, do mundo inteiro
Tivessem se apagado, virado incenso,
E de repente despreendeu-se do céu,
Uma chuva tempestusosa e cruel,
Fazendo sulcos no solo, arrebatando os chapéus,
Firmou-se por muito tempo, mais que se quer.
Como se fosse ira de Deus, uma calamidade,
O céu jorrava água como um cântaro virado,
E todos ignorados, da chuva, achavam pecado,
Pedir, blasfemar, contra Deus, é inusitado.
Suporta-se o torrencial castigo calados,
Rezam, mais rezam baixo, pra que Deus não ouça,
Que se submetem a ser Deus também, ousado,
Melhor que se vá, depois do aguaceiro não se conte nada.
Que homens são esses que acalentam o choro,
E ficam sem seus sonhos, entregam de mão beijada,
Que seres são esses, todos tão medrosos,
Que de dispunham ao prejuízo da vida, do dolo,
Imaginem a humanidade toda sob a chuva,
O aguaceiro audaz derramando-se em demais,
Era o fim de tudo, do começo, aonde saúda,
A vida a bela obra que Deus, só ele é quem faz
.
naenorocha

PERDÃO

Eu um dedicado capataz,
Que garanti por todo esse tempo o domínio das fronteiras,
Sem que nenhum forasteiro,
Penetrasse por suas frestas,
Embora sabedor de que isso é de todo mundo.
Eu, um proletariado,
Agarrado ao cabo da enxada nas manhãs mais lindas,
Quando poderia me dar, por direito,
Em parar com o sacrifício, e ficar a ouvir os pássaros,
Abrir os braços e deixar que leve brisa,

Que vem todas as manhãs, enxugasse o meu rosto.
Nada disso fiz, nada disso pude,
A ficar fiel, olhar atentos, aos infratores que nunca vi,
Aos desleais, que pretendem o mais do que lhes dão,
Que nunca passaram por aqui.
Pra que disposição mais tortuosa, conter os direitos
Que são de todos, a avalanche que nunca ameaçou o território,
Que vergonha, o posto, o soldo, o que me dão, não me pagam.
Que exagero o tamanho de tudo isso,
E tantos que se acomodam em trincheiras,
Depois de haver já perdido a guerra, o sentido,
O que lhes restam é isso, um buraco e um convite.
Eu que tantas pedras tirei da estrada,
Para que as carruagens dos deuses passassem livres,
Que desbravei à frente com um facão cortador,
Galhos, espinhos, cobras e até onças,
Para que os deuses adentrassem por caminhos fechados,
Os quais não conheciam, mesmo donos
Fazedores de tudo e de todos.
Que lástima... eu que tanto olhar tristonho eu avistei
Com o meu, sisudo,que não demonstrasse
Da minha parte sinal de solicitude e coerência.
Que idiota fui esse tempo todo, capataz,
Puxador de pedras, abridor de caminhos,
Indiferente à dor, e aos olhares mais santificados,
Em nome da fidelidade aos infiéis,
Em nome da santidade, que ao diabo confunde

E ele gosta, tenho tanta certeza...
naenorocha

SE EU DEUS

Se eu fosse Deus,
Talvez teria feito o mundo no mesmo modelo,
Nenhuma intervenção eu faria
Para que ele, melhor ou pior se parecesse.
Do caos, que é o nada,
É tudo revirado, posto e tirado
Sem um precedente que o justifique,
A não ser... a ganância humana.
Deste caos eu faria o Céu,
Harmonioso e progressista,
De gente farta e otimista.
Não faria ministérios,
Nenhuma embaixada criaria,
Por um motivo muito justo e justificador,
Não fora eleito pelo povo,
O que é muito perigoso, porque de novo,
E de novo, e várias vezes de novo,
Teria de concorrer eleições para comandar,
O que fiz. Do nada, absoluto, do inexistente.
E haveriam aqueles que chamariam para si,
Isto entre os homens, que se julgariam
Mais capazes e competentes que Eu,
As realizações, a mesa que eu faria farta,
O mendigos a quem todos eu daria casa e dignidade,
Aos renegados que eu ampararia e os daria
Experimentar a vida, como ela teria de ser,
De alegria, amor, respeito e zelo.
Se eu fosse Deus faria do mundo um mundo,
Porque isso que chamam mundo não é mundo,
Não um mundo que todos cabe e acolhe,
Não que a todos dê o mesmo significado e identidade,
Não este mundo que se diz mundo,
Não por uma denominação minha,
Que penso já como Deus, o compassivo,
O que não se mostra físico, mas fisicamente se vê,
Num irmão discriminado, numa irmã alienada,
Num irmão impossibilito de todos os seus sentidos,
Num irmão que saiu do mesmo buraco,
E que para o mesmo buraco, mais cedo ou tarde irá
Fosse eu Deus, como já sou, encarnado,
Daria a todos a leveza de admirar-se
E com solidarizar-se com os desafortunados.
Se eu fosse poderoso, e isso eu já sou,
Porque Deus, que sou, que mora em mim
Que está arraigado em minhas entranhas,
Como da mesma forma, nas mesmas condições,
Também está em todos, Eu diria agora,
Aliás vou dizer: Todos os momentos
Um velho cala e um menino grita
.
naenorocha

TERESINA

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