terça-feira, dezembro 18, 2007

CHORO DA ESTRELA

A primeira estrela que eu vi esta manhã
Estava chorando.
E por sua dor impregnada em mim
Declinei o meu rosto e chorei também
E eu só vim perceber
Porque pensei
, chover
E dissimulei: chover do nada
Nenhuma nuvem
Foi quando a vi soluçando e triste.
Os pingos de suas lágrimas
Faziam esta chuva
Uma chuva de gotas contadas
Mas que o chão todo
molhava.
Os olhos de uma estrela
Não são como os nossos
Que sequer dão para lavar o rosto
Elas lavam a vida inteira
Elas comovem o mundo inteiro
E assim todos, como eu, choram.
Choram da estrela
chorando
Choro da do que suas lágrimas
Vêem prenunciando.
Tomara seja a solidão do tempo
Porque todas as outras estão imersas
No escuro, um domínio
protetor.
-Não chore estrela
Não chore
A companhia dos homens não te basta.
A nossa comoção pelo teu infortúnio
Não te alargam a visão de uma manhã venturosa
Acompanhada de todas
De todas as noites, o lindo
estrelar.
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naeno* com reservas de domínio

quinta-feira, novembro 15, 2007

OCISAS DE DEUS


Coisas de Deus...

Tanto amor em mim guardado

E o meu rosto procurado

Por alguém que não me reconheceu.

Minha saudade de vê-la

Meu coração enfeitado

E como andará o dela

Por certo muito mais ornado.

Coisas do destino

Não ter em mim o que ensino

A quantos não sabem deter

Na mão, uma flor, um querer.

Já falo: não amem as borboletas

Elas são amantes do vento,

As rosas do beija-flores

As orquídeas das janelas.

Coisa de quem não tem mais

Do desencontro um sinal

A marca dos pés que procuro

Com o corpo todo, calcados;

Coisas de quem passa olhando muros

Vendo inscrições noturnas,

Quando este tempo, os sinais

São, pelo bem do amor demarcados.

Coisa de Deus

Esse novelo em meu peito

Embara


quinta-feira, outubro 04, 2007

FAVORECE

Ela me ofuscou com seus faróis em luz alta
E eu coladamente passei rente ao lado dela.
Mas nenhum grito de amor,
Se não eu já ficava
Ainda hoje estava com os meus olhos de choro.
Olhando a lua, pensando nela,
Vendo as estrelas, querendo ela,
E ela um jato lançando fumaça em mim.

Ela me confundiu com um pássaro qualquer
Que dorme cedo e voa a hora que bem quer,
Mas nenhum gemido de amor,
Se não eu tinha ido,
E até agora estava, seu, comprometido
Bem recaído, por esse amor tão delicado,
Cortando chuvas me enrolado em toalhas,
Vendo, mexendo a minha vida num varal.

Acostumei-me a não ser visto de perto
E me constrange o olhar, quanto mais belo.
E o dela pega na memória,
A maltratar de amor assim.
Ainda agora eu pensei nela e veio à flora
Umas tonturas, um desejo de entregar
O que possuo, o que vou ganhar
A vida tem sido bem louca em me amar.
QUERER

Querer e poder são por dois olhos
Uma visão do extremado
E não do fim
A beleza que encanta e tanto eu olho
É o que vejo em em ti
E não há em mim.

O ter e o querer são, por prisão
A razão de fazer-seSem ter fim:
O esplendor de uma rosa
Quando ela abre
Os teus olhos também
Se alargam assim.

Bem dizer, mal dizer eternamente
Sempre o não
Quanto mais eu te falo sim
O suor do teu corpo
Inteiro brilho
De um brilhante lapidado de mim.

O fazer e o benzer a obra feita
Algo bem findado assim
O artista que sonho e que não vejo
Nas rajadas do vento no capim
Há uma cobra que se mexe quieta
No ritmo que danças pra mim.

quarta-feira, setembro 26, 2007

DESCOMPENSA

Pena que de tudo ruim
Muito pouco evapora,
E resta-me a auto-proteção
De tapar os poros,
Inutilizar as mãos.
E o bom, o que a gente ver
E se apetece.
O peito o coração,
Sempre estarão direitos,
Infringindo a contra-mão.
Alguém me assustou dizendo,
Algo terrível aos meus ouvidos,
E tudo que é belo é sentido,
Débeis para uma investida.
Capazes de nos deixarem
Famintos com o coração e o peito a roer.
E sem olhar que tudo ruim,
O opróbrio, o indesejado ser
Que nunca se evapora,
Ficamos sós pra nos defendermos.
Ai os bons dias voláteis,
Vão lá, no cosmo encantando,
Cantando, a canção de esquecer,
Esquecendo, o bem de fazer
E fazendo, quem o amava, sofrer.

sexta-feira, setembro 21, 2007

ESTRADA

Esta estrada onde eu já passo por muito tempo
É nela que eu andarei, sem que ela finde.
Nela eu não mais me assusto
Tudo conheço, de quase tudo dela eu sei.
De vez em quando me e
spanto
Mas até frente do espelho me assusto,
Mas quando abro os olhos,
Porque as vezes insisto
Em não parar e não dormir,
Vejo a mesma companhia, e sou sempre eu.
E os meus pés não se enganam ao pisar,
No leito desta estrada, onde tanto deixei,
Por ela eu sigo, e não voltarei.
O que deixei cair, ficarão lá onde estão
E se larguei, jhá não me interessam mais.
Voltar não se justifica,
Porque o que eu já andei, deixei, não olhei,
E andei sabendo que à frente é onde estão
Meus encontros assinalados, inevitáveis,
O que juntarei.
Não sou de juntar.
O que pegarei pra fazer o que for
Pra me espantar, de surpresa
Para eu andar com clareza
E tudo, amando, pegando,
Tudo um dia deixarei nesta estrada.

quinta-feira, setembro 20, 2007

A LUA

Quando ela passa tão suavemente,
Enche de amor os olhos da gente
Quando ela vai, quando ela vem
Clareia tudo e a gente sente.

Linda, como se fala ainda,
Dela que todos chamam de bela
Dona dos sonhos dos poetas,
Desvia o barco da procela.

Quando ela falta, a gente fica
Sentindo o mundo tão vazio
Claro que a luz é mais bonita
Claro clarão pelo infinito.

Bela lhe chamam e dela se liga
Tela de Deus, a mais bonita
Claro clarão de amor, se diga
Ela é tudo que luz se fixa.

Quando ela chega tão levemente
Treme de amor o coração dentro
Quando ela parte tão vagamente
Deixa molhados os olhos, e se sente.

Quem disse que a lua é feia
Palavras do céu lhe faltam
Quem disse que ela não faz falta
Se arrisca... os poetas até enfartam.

quarta-feira, setembro 19, 2007

TEU NOME

Nos meus papéis importantes
Nos lastros planos das árvores
Na minha carteira de trabalho
No bolso da minha camisa
Eu escrevo teu nome.

Nas nuvens claras do céu
Na areia quando a maré alisa
No coração de papel
No balão que solto ao léu
Eu deixo escrito o teu nome.

Nas paredes em ruína
No casarões tombados
No cimento ainda molhado
Na meia na parte que se vê
Eu deixo o teu nome escrito.

Nos pés dos altares
Nas toalhas que sobram ao chão
Nos dias claros de verão
No meu casaco de inverno
Eu já escrevi o teu nome.

Tatuado no meu braço
Que se expõe quando a camisa arregaço
Nos meus dias de cansaço
Nos embrulhos que carrego
Está impresso o teu nome.

É como marcar-te minha
E em tudo que vejo e se aninha
O meu olhar de emoção
De ter-te comigo aonde eu vá
Te afundas em meu coração.

terça-feira, setembro 11, 2007

ACALANTO

Muito antes de eu nascer já me acordavas com cuidados
Um anjo me designastes, antes de minha mãe pegar-me.
Ele me segurava quando eu corria rumo ao despenhadeiro
Ou quando me declinava sobre o precicípio.
Me embalava com canções compostas aí,
Serestas e acalantos, dormia ouvindo-os
Para aplacar minhas investidas nos caminhos da cruz.
De noite eu sentia cada passagem do Arcanjo
Sob minha rede armada no entrar do quarto,
E se ausentar nas estradas altas par o céu.
Após e tardiamente, uma mulher deitou-se do meu lado
Tinha uma forma de anjo fêmea,
E na minha vida, já se diminuíam os cuidados do tempo.

Se não for do puro atrevimento, manda-me o teu anjo
Para que cuide de minhas feridas expostas,
Para que resfrie a minha boca:
Há momentos em que mesmo a vontade não me convence
É necessário que eu te veja inteiro, rente aos meus olhos
É preciso que eu me veja em ti
E que encare os sofrimentos como um sol claro
A tua luz subindo e descendo sobre minha vida.

Manda o teu anjo que com ele eu aprendi a falar
De coisas que por aqui, nas divagações de mim,
Não mais sei contar a ninguém
Nem mesmo à mulher que dorme comigo
Nem mesmo o homem que soube ser meu pai.
Não és tu meu pai, que já flutua, que já é anjo
Meu pai, de verdadeira saudade lá bem de dentro de mim.
Manda-me essas pessoas todas
Para fazerem um coro, para eu poder dormir.

segunda-feira, setembro 03, 2007

CONFRARIA

Ninguém pode querer a vida
Que a si sugere.
Ninguém mais pode está só.
Os enigmas são revelados
À luz de todos os sóis.
Eu estou envolto de algo
Quem em mim se agita
Vou persistir em elevar as mãos
Aos bondes que ainda passam.
Engulo, por um amor, uma rosa
Que dentro de mim explodiu.
Só tive paz e segurança plena
Imerso no ventre de minha mãe.

Um esteio que vejo existir
Desde o princípio do meu tempo
Não me respirar do ar
Que não seja rarefeito.
Sou sempre tristonho dentro do escuro.

Adios sol calliente del tiempo escuso
Que não tens aos inocentes
Nada reservado em teus planejamentos
O só, o pobre, o nada, o nu.
Não vejo homens de boa vontade
Em parque alguma que freqüente
Os meus sonhos, eu, presente,
Sumindo, serei livre, amem.

segunda-feira, agosto 27, 2007

ESTEVE ESCRITO

Te espero desde o início do começo
Desde o tempo dos lampiões de gás
Desde o primeiro samba, a estação derradeira;
Fostes sempre o meu amor tristonho e sensato
Por ti me embati com a vida
Matei mitos intransponíveis
E fiz de pedras quentes flores orvalhadas.

A terra tocou o céu
Com a grande cauda de fogo
Mares se juntaram pra te refletirem inteira
No começo do nosso fictício amor.
Dura e sublime criatura
És o modelo renascido
Das tantas mulheres invisíveis
E ao mesmo tempo, mansa e de carícias
Nosso amor corre para uma luta
Ao toque de valsas muito antigas
A abertura do sol será a nossa estrada
Desvanecidos de paixão
Até encontrarmos uma solidão pra dois.

sexta-feira, agosto 17, 2007

MEDO

Já é como está vendo. Esta chuva que se promete,
Anunciada por nuvens espessas, me arremete,
A outras chuvas, por outros umbrais, e me mete
O mesmo medo de trovões, de fogo e perigo perto.

As chuvas e os meus medos, entrelaçados, lavoura,
Covas rasas, covas fundas, plantando esperança de novo,
Esquivo de muito barulho, que quanto mais, menos ouço,
E meu coração se confunde com jatos de água em meu dorso.

É como que está sentindo, a chuva que vai caindo,
Me levará brutalmente, aos perdidos estreitos caminhos,
Do tempo que um operário fazia de tudo, menino,
E caçava o tempo com pedras pisoteando caninhos.

As trovoadas, as pancadas dos pingos pela calçada,
Que batiam e voltavam de novo, a casa ameaçada,
O tempo dessas invernadas, a morte já anunciada,
De qualquer coisa, qualquer gente, eu acorria abraçado.

terça-feira, agosto 14, 2007

INCLEMENTE

Quando penso,

Pedaços de sol caem sobre mim
Como um desastre ecológico
E eu conto e ninguém acredita
Que estes raios incidem só sobre mim.
Uma lembrança das outras manhãs
De calamidades expostas,
Dos dentes a mostra
Dos bichos nos vales das estradas.

Quando eu me ponho a escutar
Ouço uma sinfonia de pássaros,
Sôfregos, confundíveis com os galhos
Farfalhos em minha boca
De morder a língua
Num jogo doido de mim comigo.
Lanço pedras na direção do dia,
E o sol desvia-se qual juriti no seu assento,
E nenhum gesto meu o afugenta,
O agourento despojo dele por todo o chão
E eu impotente sacudo os braços,
Pra ver caírem minhas mãos.
TE PERDÔO

Te perdôo
Por não teres aonde ir com o meu coração.
Se o teu carrego sempre em minhas mãos,
Como uma hóstia, antes de ir á boca,
E encher meu peito de aflição.
Te perdôo
Como já fiz tantas vezes
Em que errou meu nome, vão
E a casa onde moro sabendo aonde ias,
Com o endereço em tuas mãos.
Te perdôo
Por amares mais as flores
Que a mim, e em teu jardim
Há mais delas do que eu,
E mais esterco do que cores.
Te perdôo,
Te perdôo com a decência
De esquecer tua dormência,
O dia todo passas com a minha ausência.
Te perdôo
Por não me deixar uma fresta
Se de mim nada mais resta,
Se até o meu nome trocas, nunca acertas.
DE DIA

Tarde demais para acostumar-me com a sombra.
Eu que venho por todo o dia tangendo a claridade
Vendo brotarem flores novas nos escombros.
Cativa-me o medo da noite agora, e fico só
Desterrado do teu regaço, posto solto
Como um menino que larga o peito, e agarra o mundo.
Não tinha planos para as estações,
Em todas eu plantei, e depois desenterrei todas as sementes
Foi uma brincadeira de menino, uma experiência de nascer.
E morri, quando os teus olhos se fecharam
Não te via mais, e era tu que não me enxergarvas.

Cedo demais para outras colheitas entre os apanhados.
Ninguém saiu, são os mesmos rostos de ainda pouco
E tudo o que eu tinha entreguei em troco,
Ao sol, que reneguei, ao dia que decepei,
Da noite que fez dos meus quereres tardios.
Agora é o mesmo tempo de todo o tempo,
Nada serviu a aplacar em mim a réstia
Que persuadiu-me e dormi com ela.
Veio pela janela, insistente o dia, repelido,
E se insinuava como uma amante afogada
Em amor querendo dar-se, alforriada.
Agora que sabes que não me atormentam as nuances do dia,
O tempo, comigo tem sido um elástico tenso
Que ora está aqui, mostrando-me os taciturnos gestos
Ora se afugenta, talvez medo de mim, talvez medo dele.
E só Deus saberá contar as horas em que me larguei daqui
Saí sorrateiro pela lateral do terreiro e nunca mais me vi.
Vi uma sombra calcada sob meus pés, derrotada
E nada de mim, nem do dia, nem de nada mais restava.

quinta-feira, agosto 09, 2007

SE LEMBRA
música

Por todas as ruas onde ando sozinho
Eu ando sozinho, com você.
E você que nem se lembra mais
Se lembra!
Do jeito que eu fui
Tão dedicado, meu amor
Vejo com saudade
A rua, a cerca, o espinho, a flor
Tantos gestos fiz
Pra lhe falar, lhe ver sorrir
Você se lembra.

Ainda ando sozinho,
Eu já nem sei se eu ando.
Eu ando sonhando com você
E você que nem se lembra mais.
Se lembra!
Do jeito que eu sou
Tão complicado, meu amor
Fico encabulado
Quando vou pegar uma flor
E há tantos gestos mais
Para entender, e esta canção,
Pra você lembrar.

quarta-feira, agosto 08, 2007

BATALHA

Não estivemos à frente dos que lutaram.
Bebíamos, sacudíamos nossos braços
E apertávamos as mãos dos loucos.
Eles arrebatados pela palavra da mentira,
Foram lançados e resvalaram contra nós.
A trincheira cabia uns dois baixos, magros
E ficou tomada por todo o batalhão da derrota.
E a marmota, a esfinge cortada,
Foi levantada como um troféu pra eles.
E eles nos comeram mortos.
Imagino, nos cortaram aos pedacinhos
Como suas diferenças e maldade se media.
Não estivemos a lutar, empurrar com os braços secos
Rumo à cova preparada e nova
Os que se destruíam frente a morte,
Chamando pelo seu nome, e pelo nome de Deus.
Agora quietos, silenciado o covil dos torpes
Que não guardam pena nem de suas dores,
Doem, ardem de uma febre que não se vê.
Sente-se o tremor dos galhos, das folhas,
Como se a vida ainda continuasse,
Mas ela estava ali, parada com as mãos nos bolsos
Leve de qualquer pressentimento ruim,
Isenta do mal, se para ela mal se apega a um
Imagine-se um comboio de loucos de desorientação.
Cadê o tempo, pra se contar no corpo dele
Este episódio narrativo da vida só.
Por onde passa o tempo, embriagado,
Líquido, por onde escorre o tempo se ninguém segura,
Se nenhum pendura um nome qualquer
Para que ele por sua deliberação, preserve quem está vivo.
Será que por todo este lastro, acobertado de vergonha
E presságios de acontecimentos piores,
Não há um ser inativo, de quem escorra sangue
Para com ele se reiniciar a vida.

terça-feira, agosto 07, 2007

TEIA

Escolho ao acaso uma folha branca
Mas que podia ser verde, ou de outra cor.
A intenção é escrever o poema
E que ele saia nítido como esta cor oportuna.
E escrevo, faço intercalações,
Faço a palavra que mais se adequou, distante,
E ponho um risco ligando-a ao nome.
Comecei por chamar saudade
Mas vi que o sentimento era outro,
E o nome obrigado teria
Que não se chamar saudade.
No meio da página a poesia quase enfeite,
Derramo café e espero secarem as idéias.
Ponho um preposto, entre o sentido e o fim,
E pra quem vem lendo de lá,
A alfândega perde o pedágio
E a poesia ganha outro ditame.

O lápis por descontrole pára.
E a poesia silenciou, quando afluíam
As falas, as almas, os encostos.
Aí me deito delgado, de cara pra cima,
E do teto a aranha tece sua nova roupagem,
O acabamento impecável
Que, se lembrasse, usaria na poesia.
LUA

Lá fora a lua, mostra um mundo calmo
E a maioria dos olhos triscam nela
E as bocas que nunca a beijaram
Saltitam no gargarejo, gritando por ela.

Lua que no céu flutua! E vai
Em passos lentos seguindo os mesmos passos do sol
E acompanhada de estrelas, por sabê-las
Até pelo nome, que todas descem onde ela cai.

Lua que nos dar o luar! Ofuscado da luz nascente
Ó quão sonhador seria, se minha namorada fosse,
Quem aqui na terra, ao te ver não se arrepia,
Não se engana todo, não ganha o seu dia,
Estrela que chamada, em seu nome seria mais doce.

Lua que prometeu dar-se a mim em casamento,
Peço-te agora, leva-me como um teu rebento,
Finca-me no teu regaço, deixa as intenções de amar
Comigo que já me tenho disperso por este momento.

Lá fora o luar, a lua aberta em leque
Um fogo brando que só a gente aquece,
Lança-nos a dentro um aroma destilado
Criado de sua boca, pelo seu amor tão leve.

segunda-feira, agosto 06, 2007

SEMPRE TE AMEI
Basta que saibas que a ti somente
Que a ti somente, flor, adorei
Meus olhos dizem constantemente
Formosa, eu sempre, sempre te amei.
Do teu sorriso terno, divino
Cativo, humilde sempre serei
Por isso eu digo não me domino
Formosa eu sempre, sempre te amei.

Se um dia de amar na lira,
Os teus encantos, sequer deixei
Por isso eu digo não me domino
Formosa, eu sempre, sempre te amei.
De amarte-te em sonho, um só momento
Um só momento, sequer deixei
Por isso eu digo, sem fingimento
Formosa, eu sempre, sempre te amei.

Por toda parte, rindo ou chorando,
Chorando ou rindo, te seguirei.
Dizendo mesmo, de quando em quando
Formosa eu sempre, sempre te amei.
Pouco me importa se o mundo louco
Me chame e diga que eu sempe errei.
O mundo é velho, caduca um pouco
E eu sempre, sempre, sempre te amei.
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naeno* com reservas de domínio

quinta-feira, agosto 02, 2007

MANHÃ

Pena dessa manhã
Que tão ofuscada chegou
Pelo sol que bate nela
Tanta gente se alegrou
Com a luz e não com ela
Ela que trouxe o andor.

Toda manhã é assim
O começo de outro amanhã
E quem ultrapassa a linha
Leva pra vida uma a maçã
A manhã não é lanterna
O dia não é um talismã.

Ó senhora destes dias
Mãos que afaga e fareja
A manhã mostra o que vive
Tudo, estando onde esteja
O dia não é passagem
Se a manhã for benfazeja.

Porque é que o galo canta
Antes das pontas de sol,
É dizendo que no terreiro
Daqui a pouco é arebol
Então se arendam do meio
Quem não se mexe, e está só.

Manhãs que eu vi pela vida
Todas passaram ligeiro
A gente acompanha o rastro
Mas não lhe pega o desejo
Que assim tava garantida,
Nossa vida pra assim seja.
LUZ DE SONHAR

Ao entardecer, debruço-me na janela
Na certeza que campos e quintais me cercam
Olho até o suportar dos olhos
O sol, que se vai minguando à minha frente.

Que saudades vai deixando o sol
Que o dia todo esteve comigo.
E o seu modo de mostrar o mundo
Só ele sabe, ninguém precisa.
O sol prover o homem de força
Provém de onde se imagina ser
E o que falar a esta entrada luz
Quando se sai de nós e se vai embora.
Embora eu saiba que amanhã estarei
Neste mesmo pouso, se o tempo vier
É bom que o rei venha no seu tempo
Que é o mesmo meu tempo, eu procurarei.
Logo de manhã, vou à procura dele,
Não na frontal visão que se acaba agora
Rebuscarei o fundo que há um avesso
Do outro lado, tranzendo-me a aurora.
Ó, sol, ó luz! A mesma coisa que olhar pra ela.
Que de outra luz se cobre e rebrilha
Mas que a mim é imposssível a sorte
De sem a claridade do sol enxerga-la.
E eu olho a ela como olho na lua
Nos seus caminhos que ela faz em casa
E os meus olhos talvez fiquem cegos
Por tantas luzes, tanto admirar.

terça-feira, julho 31, 2007

JOÃO GRILO

O homem absoluto pelo mundo
Vislumbra a mulher que surge sob seus olhos
E não estanca, nunca se finda.
Divide a vida com outros seres
Um projeto que se altera, brinca de renascer
Uma criança que se ri cantando.
Tudo o que vê e por ele passa se perpetua em meu cérebro.
Sublimo as flores nas áureas, nos acordes, nos seus balanços
Pisoteio sobre os telhados das casas pendulares do mundo
Abstraio do sonho os corpos das meninas perdidas
Desoriento as planificações,
A estrada se racha com minhas passadas,
E não toco em nenhum canto do mundo.
Apascento os heróis ociosos, louvo o guerreiro derrotado,
Não me dou a amar qualquer pessoa; eu sou o amor
Ajo surpreso por cumprimentar cães de rua
E a pedir perdão aos pedintes.
Sou a ilusão que presencia as criaturas quando nascem,
Que mexe com todos os espíritos com que me deparo.
Resultado da multiplicação, parado, distante do inferno
Não há o que me fixe às vias do mundo.

segunda-feira, julho 30, 2007

VOZ DO BRASIL

O sol foi dimanhando e o dia de uma manhã
Que fortifica a vida em seus botões de aperto
Terra presa na chinela, jaz, no vai arrastado da vassoura,
Que amanheceu disposta, crente que o dia se abreviará.
Pois tudo limpo, e tudo lindo, sobram-lhe palhas entre outras palhas.
Recolho-me quando era pra me dispor no mundo,
Deito ao relento, lendo, o que as estrelas estão segurando.
O mundo de que preciso é este: o mundo dentro de mim
Outro mundo fora para eu poder ser assim.
Caminho nas lembranças e me balança o peso
E o peso se contrapõe à balança, que lhe revela
Seja do tamanho que for, ela se vela,
A olhar o anti-ponto, o contra-número
Porque no mundo tudo faz essa diferença
Uns comem muito e outros têm o jejum como sentença.
Aumenta o rádio, não o objeto, o som volátil,
Porque agora se encerra no meu peito varonil,
Um sujeito ardil, tramando contra a nação.
E bem no tempo, no contra-régua que se acha o chiado
Do rádio, iniciando uma peleja, quase diária.
Uns falam pra todos e poucos são os que dão ouvido.
Porque já houve tempo que ninguém podia ouvir,
Falar era castigo, um diabo que mastiga os próprios dentes.
Eleva o rádio, não à condição de objeto estranho,
Mas o volume, bem no pingado com esmalte de unha,
É por aí, nesse intervalo, que se ouve e cala a Voz do Brasil.

sexta-feira, julho 27, 2007

MISCIGE

Pelo pisado do pé
Ninguém diz
Se é negro ou branco.
A pele muda
Mas é só um manto.
O branco tem no olho um preto
No do preto tem um branco
E Deus os fez,
Com amor do mesmo tanto.
PAUTA

Eu queria fazer um poema
Assim, métrico,
Tenso, como um fio elétrico
Para que todas as manhãs
Os pássaros viessem pousar e cantar.
Eu queria fazer uma música
Na pauta tensa da rua,
Para todas as noites, a lua,
Tocar nela e rebrilhar.

quinta-feira, julho 26, 2007

VERTIGEM
(música)

Meu amor quando me beija, é tão itenso
É como chuva que vem e finda e verão
Deixando poças pelo sólo ressequido
Mudando o cheiro, mudando a estação.

O olhar do meu amor é tão imenso
É a vista que se tem do grande vão
A impressão do artista deixada na tela
Paus d'arco amarelando o sertão.

Ai, o meu amor
Flagrante do sol olhando a lua
Sem braços para poder lhe tocar.

Ai, o meu amor
Vertigem da grande cachoeira
Que de longe a gente vê e escuta.

domingo, julho 22, 2007

AMOR E MEIO

Ai, o amor de sempre...
Os mesmos efeitos colaterais
Os mesmos rompantes tardes
Um foco de incêndio que tudo queimará.
Dor que dói e a gente vê
Nos lugares onde se toca
E até onde não está.
Uma tranqüilidade destruída,
Com os danos correndo em nosso sentido.
Ai, o amor, a esperança de todos
E dos mesmos a desesperança.
Aquilo do que se diz:
Quem planta, mal apanha
Ou leva o que não apanhou
Ou não apanhou o que levou.
Amor, essa confusão,
Um entra e sai, por trás dos bombeiros,
Um posto incendiado
Das bombas ao caixa.
E quem assegura que o amor
Repõe danos, que se está assegurado
Nem quem lucre com seu dissipar
Quando ele se decompõe.
Ai, o amor mal visto sentimento,
Andamento em trocadilho,
A batida dos pratos no apogeu da filarmônica,
Desnecessário, mas que, se não fosse,
Desmembraria a vida corriqueira,
Rumo ao amanhã.
Até amanhã, ilusões, até amanhã.
Decepção, depois se vê!

quinta-feira, julho 19, 2007

PARA ELA

Tira de mim o que quiseres:
A água o pão, as gotas contadas.
Tira-me outras coisas
Com que me alivio, os emplastros
E elas me entram desproporcionais
Mas não priva os meus olhos,
Coitados por serem parte
Da avidez do meu corpo
Interligado ao meu coração sonhador,
A visão bela de ti.
A imagem mais bela,
Que desses fragmentos caídos, celestiais
Formou-se em mim
Como único remédio e alívio
Para a minha alma tão dilacerada.
Deixa-me cruzar os vales espinhentos
Deslizar nos alagadiços mais traiçoeiros,
E que, no limiar disso,
Avistem-te os meus sentidos
Tão amaciados por tuas passagens
Entrando e saindo, constantemente de mim.
Deixa-me débil envolto em um cárcere fortificado,
Com direito a uma réstia
Que só de manhã presumo entrar,
Pois que meus olhos pra tanta coisa
Ficaram turvos irreversivelmente.
Mas que tua trêmula aparição
Nunca me falte
E que a toda hora eu possa te contar.
E peço-te também:
Não deixa desvanecer-me do cônscio sonho
Como vivo agora, quando estou dizendo.

segunda-feira, julho 16, 2007

CHEGADA

Apeio-me do caminhão de paixões e sonhos
Possivelmente conduzido por Deus.
Senti uma tristeza cobrindo os telhados
As cigarras tecendo a tarde murada
O trovão quietou as cordas do piano.
Aparece repentinamente o arco-íris
Pacto aleatório entre Deus e os homens
Sem a confirmação da benzedura divina
E paira sobre os apenados, mendigos, marginais
Sobre os desenganados tristonhos..
De todos os cantos de mim.
Rebenta um dedo terribilíssimo a me apontar
Porque sem os notar não faço conta
Das sobras terminais do mundo.
O céu agora se transfigura, em branco puro.
Céu pintado, que escorria tinta.
Céu sempre futuro e desesperançoso
E como são necessários
Estes sofrimentos de planos desiguais.
E do que mesmo eu me lembre?
Só desses, puxados, caranguejos da vida.
FULGOR

Inquestionavelmente tu
Rosa sobre as outras rosas,
Que sol e vento beijam primeiro
Que à minha boca bate certeira
E os meus olhos, ainda longe,
Avistam-te fulgurosamente
Desta beleza soberba.
Quando te abocanho
Não vejo espinhos
Mas eles já estão mordendo a minha carne.
Trabalho de nada, coisa feita à toa,
De saborear teus lábios
Jamais me cansaria,
Que assim a vida fica boa.
Fico mais, como quem ficasse
Rente a esta imagem linda,
Cativo teu.
De tocá-la enlevam-se minhas mãos
E te colho, lançando dentro de mim
Uma profusão de amor.

sábado, julho 14, 2007

MARCAS

Tudo em mim são pontos
A convergir para as estrelas
Pra vê-las, brincar com elas no entardecer.
Ficar pegando e largando o interruptor de luz
Apontando pra baixo, para o vale das cruzes.
Tudo em mim são pontos
Desses capinzais,
De saudades insuportáveis de onde eu vim puxado,
Do meu outeiro, de glorias e bênçãos,
De onde eu vi nascer uma casa.
Que me abrigou até na obrigação humana
De ser gente. Uma casa solitária como eu, que conversávamos
Dias e noites sem deter-nos em assuntos fúteis.
Na brincadeira, amando inteira a vida dela.
E ela amando-me como feto feito de puro amor.
Ela me mantinha dentro,
Protegendo-se para me proteger,
Adoecendo para me ver crer na cura,
Nos milagres anunciados, bons.
Tudo em mim são pontos
Pra onde convergem luzes, e sóis de calor,
Estrelas que acenam pra ver se já vou,
E eu gosto da casa, essa casa sempre foi o meu amor.

quinta-feira, julho 12, 2007

AMOR TAMBÉM É ASSIM

As pessoas se juntam em elos,
Que inesperadamente se rompem
E elas caem, cada uma para um destino.
A bebida e a música
Emitem gritos e frenesis,
Há lembranças que não saem
Como fenda pingando no coração.
E uma brisa de quase nada
Entra com cheiro de saudade.

Seria bom agarrar-se e separar-se,
Fazer as loucuras próprias do amor,
Morar, despejar, sofrer, desesperar.
Era bom ocultar o que se pretende
Enganar, machucar,
O que vale a brisa inocente?
Poder movimentar-se, completo,
As mãos tocando, o que isso diz?
Alguém não entende o por quê
Disso que se passa,
Nem o mundo para,
Tampouco pensa, é algo que não se cogita.
O mundo só se alarga
E acompanha a cada nó dos abraços.
E volta repetindo tudo
Em tempo de lágrimas e suor
Um resquício de que pecou
Pecado, a suprimida pureza.

domingo, julho 08, 2007

AMO A NOITE

Eu amo a noite, por que à luz inexistente,
Tudo tem forma e nome de gente.
E eu amo toda gente.
Como amo os animais, pessoas descendentes
Do mesmo olhar vitral.
Eu amo a noite, não por ti
Que deitas do meu lado displicente,
Não pelo o amor que falas sentir por mim.
Amo por que a noite muda meus olhos.
E eu não vejo pelos memos lugares
Os mesmos tristes pensamentos.
Amo a noite, não por ti, violão
Que recurvado em meu regaço, plange
E põe-me a cantar para as estrelas.
Amo a noite pela calmaria que tudo faz,
Que tudo passa, para ser no dia
Gestos esquecíveis.
Tempos lembrados da minha infância
Onde o medo ainda incide, quieto.
Risonho e ofensivo, um algoz.
Eu amo a noite e não detesto o dia,
O dia de fazer, de pegar os quilos,
De morrer daquilo...
Eu amo a noite porque nada há
Em seu silêncio nada que eu conte,
Nem um burburinho , nem sinto,
As batidas tortuosas do meu coração
.

sexta-feira, junho 29, 2007

GUARDADO

Tu me guardas tão distante
Nos teus olhos distraídos
Na tua boca beijando o céu
No teu perfume volátil
Na mais distante das horas
Num crepúsculo, me guardas.
Um cárcere tão doce e longe
No teu coração estalagem
No teu peito bem fechado.
Tu me tens, refugiado,
E só nas horas mais quietas
Quando não há ninguém perto
Tu chegas pra me alimentar,
Traz tua boca cheirosa
O teu regaço onde eu pendo
Falando tanto de saudade.
E tu também és saudosa
Quando me vês pregas os olhos
E te vês dentro dos meus,
E neste tempo parado
Tu me protegges tão zelosa,
Quase nada falta, que eu queira.
- Só que isso fosse verdade.

quinta-feira, junho 28, 2007

CONSERTAR O MUNDO

Não é preciso somente abrir a janela
E deparar-se com a claridade
De todas as manhãs, tão iguais.
Ouvir mais nítido o barulho dos riachos
Que descem rentes às encostas,
Levando peixes, pedras sobre seu leito liso.
Ou consternar-se com o vozeio
Da vida que se faz lá fora:
Os que passam, os que ficam,
Esperando e levando, sonhos
E a vida para o sacrifício.

Muito mais necessário se forma,
Olhar todas essas minúcias,
Que são, perturbadoras visões incompletas,
Sem a visão fechada do crítico céptico,
Do filósofo que fala o imponderável.
Do carrasco que a todos odeia,
E deseja a cabeça de cada um numa bandeja.

É necessário saber nesses momentos,
Deixá-los na sua pureza, saltar a janela,
Invadir a porta e abençoar-se deles,
Banhando-se sem pudor de estar nu e vulnerável,
Ao que não mete medo,
Ao que é desnecessário:
Conjeturar, pensar, filosofar.
Coitados dos poetas, filósofos, sonhadores,
Errantes nos caminhos fáceis que levam à luz,
À vida em sua essência,
Como é vivida, obrigatoriamente, por quem nasceu.
Coitado de quem nasce e lança a olhar o mundo
Com a confiança de que ésua missão
Completá-lo. Feito por Deus, erradamente.

TERESINA

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