sexta-feira, junho 29, 2007

GUARDADO

Tu me guardas tão distante
Nos teus olhos distraídos
Na tua boca beijando o céu
No teu perfume volátil
Na mais distante das horas
Num crepúsculo, me guardas.
Um cárcere tão doce e longe
No teu coração estalagem
No teu peito bem fechado.
Tu me tens, refugiado,
E só nas horas mais quietas
Quando não há ninguém perto
Tu chegas pra me alimentar,
Traz tua boca cheirosa
O teu regaço onde eu pendo
Falando tanto de saudade.
E tu também és saudosa
Quando me vês pregas os olhos
E te vês dentro dos meus,
E neste tempo parado
Tu me protegges tão zelosa,
Quase nada falta, que eu queira.
- Só que isso fosse verdade.

quinta-feira, junho 28, 2007

CONSERTAR O MUNDO

Não é preciso somente abrir a janela
E deparar-se com a claridade
De todas as manhãs, tão iguais.
Ouvir mais nítido o barulho dos riachos
Que descem rentes às encostas,
Levando peixes, pedras sobre seu leito liso.
Ou consternar-se com o vozeio
Da vida que se faz lá fora:
Os que passam, os que ficam,
Esperando e levando, sonhos
E a vida para o sacrifício.

Muito mais necessário se forma,
Olhar todas essas minúcias,
Que são, perturbadoras visões incompletas,
Sem a visão fechada do crítico céptico,
Do filósofo que fala o imponderável.
Do carrasco que a todos odeia,
E deseja a cabeça de cada um numa bandeja.

É necessário saber nesses momentos,
Deixá-los na sua pureza, saltar a janela,
Invadir a porta e abençoar-se deles,
Banhando-se sem pudor de estar nu e vulnerável,
Ao que não mete medo,
Ao que é desnecessário:
Conjeturar, pensar, filosofar.
Coitados dos poetas, filósofos, sonhadores,
Errantes nos caminhos fáceis que levam à luz,
À vida em sua essência,
Como é vivida, obrigatoriamente, por quem nasceu.
Coitado de quem nasce e lança a olhar o mundo
Com a confiança de que ésua missão
Completá-lo. Feito por Deus, erradamente.

terça-feira, junho 26, 2007

QUERER

Querer e poder são por dois olhos
Uma visão do extremado
E não do fim
A beleza que encanta
Que eu tanto olho
É o que vejo em em ti
E não há em mim.
O ter e o querer são, por prisão,
A razão de fazer-se
Sem ter fim:
O esplendor de uma rosa
Quando ela abre,
Os teus olhos também
Se alargam assim.
Bem dizer, mal dizer eternamente
Sempre o não
Quanto mais eu te falo sim
O suor do teu corpo
Inteiro brilho
De um brilhante
Lapidado de mim.
Fazer e benzer a obra feita
Um vulto que fala por mim,
O artista que sonho
E que não vejo
Nas rajadas do vento no capim,
Há uma cobra que se mexe quieta
No ritmo que danças pra mim.

domingo, junho 24, 2007

A FELICIDADE
A felicidadepassa todos os os dias
Por aqui. Vem com a lua distinta
Com o sol que a ela se abraça
Com o amanhecer
Com o anoitecer
Com os barulhos dos riachos.
A felicidade todos os dias
Passa sobre o meu teto,
E não pousa para uma visita,
A conhê-la a minha vista
E o meu regaço a saúde,
Em abraços e pedidos, amiúde.
Fosse ela pro meu desfrute
Lhe apertava em meu choro.
Deixava-lhe em maus lençóis
Frágeis panos dos meus cobertos.
Diria a ela que eu sei,
Dos dias todos que ela passa
No invisível jeito de ter,
E que nos difíceis sonhos bons,
Eu vejo quem ela é.
Sei que é um bem desejada,
Uma musa de todos, só.
E se num gesto de reparação,
Quizesse me dar a mão,
Eu lhe dava a minha poesia,
Os gestos bons de alegria,
Mostrava-lhe todos os meus dentes,
Guardados para a alegria
Que é filha dela, se pressente.

quinta-feira, junho 21, 2007

TRAJES DO DIA

Cobriu-se a terra outra vez
Do mesmo claro,
Tecido fino, fiado à mão
De uma teia que ninguém vê.
Começa agora
O dia a dar seus beijos
E a nubente
Despoja-se no campo branco.
E a vestimenta
Da primeira mostra
Vem como maré rasteira
O sol marcando as calçadas
Os campos desocupados.
A cor vestida agora é outra.
De um esmerado tecido cor de ouro
Que os olhares ofuscam
E reluzente enobrece a moça.
E na mudança do tempo um ente fala:
“A felicidade é esta chama branda
Que não queima e vem do céu.
Dela se enfeitam
As colinas as campinas,
E bem repete o milagre
Que só Deus faz:
Ressuscitar a semente
Sob os escombros do tempo
Que ela se deu”.
Depois dos trajes dourados
Tinge-se o dia
De um cinzento
De fogo pigmentado.
É o preparo, foi um banho.
É um agasalho.
E agora é a noite
Separada.

segunda-feira, junho 18, 2007

FLORES

Uma flor na sua cor possível
Abre a mão e colhe o sol
E aí se vê nascida
E sua cor. É amarela.
E suas pétalas são longas
E seu galho é marrom,
E o seu perfume desejável.

Uma flor de cor impossível
Combina matizes
Lançando umas sobre as outras
E fica o sol a insistir
Amarelo.
E suas pétalas são longas
E seu galho verde jurema
E o seu perfume é perceptível.

Uma flor que se arranca
Para limpar o lugar das outras
Abre-se e o sol a acolhe
E dá-lhe um amor voluntário
E a leva num relicário
Para enfeitar seu plantio
E muitas delas planta.

sexta-feira, junho 15, 2007

MEUS OLHOS

Meus olhos ficam como que fechados
Quando é para olhar o tanto de silêncio admirado.
Por sobre o lastro não confiável, eu piso, terreno
Espreitando a passagem dos homens maus.
Meus olhos ficam como que grudados
Quando é pra ver luzir os facões traiçoeiros
E toda a atenção no tempo, alucinado
Com os dedos pingando água pelas unhas.
Meus olhos ficam como que costurados
Quando é para contar os passos
Do homem com seu chapéu de oliva
Triscando no chão com as pontiagudas
Agulhas de ferro, seus espadins.
Meus olhos ficam como marejados
Quando é pra ver alguém que se calou
Definitivamente por que tinha voz
E a usou, contra as agulhas venenosas.
Meus olhos ficam como encharcadas
Quando é pra ficar de prontidão
Servindo como um idiota o pelotão,
Ou dando água, ou dando café
A quem queria ver um tronco podre.
- Ora se os troncos, que antes foram árvores
E acolheram vidas e deram descanso
Aos passarinhos e homens andarilhos,
Servindo a vida e não matando,
Ficou assim, esturricado, posto ao sol,
Quanto mais um diabo desses
Que o mal proclama e tem duas agulhas
E um espadim envenenado. Que mata
E não enterra os desterrados -.

segunda-feira, junho 11, 2007

AUSÊNCIA

A tua ausência é o ar que sai do peito
E demora em retornar.
É esse tempo morto, desacionado.
O chão varrido por um furacão.
É a nuvem que passa longe
A dar a impressão aos olhos
Que é Deus sozinho, contando o mundo.
É um quarto de hotel
De uma cidade distante
Da qual seisó sei só o nome,
Nenhuma rua, nem um albergue
Que a noite toda permaneci acordado
Mal e só acompanhado.
Apenas um a abajur e uma TV pendurada.
Perdidas horas de sono,
Eu tão perdido, que sumo,
Só do teu lado eu durmo.
A tua ausência é um riacho estanque
Com suas águas tão distantes,
E não dão sinal de que vêem,
Pelo menos agora não.
A tua ausência é essa falta
Que faz em mim um trovão.
Eu vivo de água, eu tenho sede,
Eu vivo de ti e tenho medo,
dessa ausência demorar.

sábado, junho 09, 2007

PROCISSÃO DAS FORMIGAS

Procuro o sentido
Do caminho das formigas
E de verdade não sei
Pelos rumos aonde vão
Caminhando à frente
E fazem da frente
O lugar do seleiro
Onde tiram e botam.
E andando o contrário
Elas vêm mais carregadas
E vão na ida
E da mesma forma na volta.
O que lhes preocupa é a folha
Não o chão, não o rumo pontilhado.
Disperso o meu olhar
Vai sem nexo,
Carregado de outra dúvida
Uns pingos que se mexem
Voluntariamente, mas parece à toa
Que não andam perdidos
Seus pezinhos que voam.
Não há marcas das formigas
Pelos caminhos que palmilham
E se alguma marca houvesse
Fácil dava pra identificar,
Pra onde é que elas vão,
De onde vem é que elas vêm.

sexta-feira, junho 01, 2007

COMPANHIA

Tudo chega ao mesmo tempo
À mesma hora.
Lembranças repetidas
Nas suas ordens de chegada.
Quando me quieto,
Depois do ritual de preparar-me
Para deitar.
Quando ponho a cabeça
E aqueço os panos por entre meu corpo
Tudo chega,
Lembranças tuas, lembranças.
Que vêm como pássaros buscando ninho
Aquecer os filhotes
Que ao dia receberam visitas rápidas,
De borboletas, restos de insetos,
Que só receberam ao bico,
Mas nenhum beijo.
E tudo chega e todos se deitam.
A cama é estreita,
Faltam lençóis pra nós.
E eu vou pegar.
Se pelo menos eles dormissem
E me deixassem solto em sonhos
Ou pesadelos de os machucar,
Rolar por cima,
E sob o meu peso,
Deles quebrarem-se
De desistirem e não mais voltarem.
E eles vem, instintivamente rindo,
Em todas as noites,
Quando da minha investida
De deitar sem ti.
De contar-me só
Num espaço hostil.

TERESINA

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