terça-feira, outubro 31, 2006

MINIS



MINIS

Se por uma desventura qualquer,
por um amor, uma mulher,
o que te servirá como remédio?
- O amor, a mesma mulher.

E se por outra desventura,
de uma dor, um amor,
o que te bastarias para acalmar-te.
- O ardor do amor.
naenorocha

TANTO


Se queres saber
se ainda te amo,
perguntas o tanto que almoço,
e o tanto que eu janto.
Se queres saber.
perguntas por aonde eu vou,
e por quem eu chamo.


JARDIM

O jardim é amarelo, vermelho, azul é branco,
é rosa, é cravo, orquídea, azaléia, paroara,
o jardim tem flor e cor, e parece um manto,
de noiva com bordados, em cores raras.

O jardim é um recanto, um céu na terra,
e eu sei que por seus desvios anjos passeiam.
Já é visto vindo do céu querubins, eternos,
baixarem como rolhinhas quando pasteiam.

O paraíso será um jardim assim em flor,
terá por lá cantos com botões rebentando,
com rosas expirando amor?
Será que existe algum amor palpitando.

A terra tem seus jardins, tem suas cores,
tem seus amores e tem suas dores,
e no céu? terá tudo isso, exceto as flores,
os amores, do restante, já somos expiadores.












SOBROSSO

Um vento impetuoso inclina o cipreste até ao chão,
e as roseiras desprotegidas, ficam de sobressalto
por que agora tudo parece ter azas,
voam desgovernados em qualquer direção.
As árvores mais antigas, de caules grossos,
resistem ao impacto violento e se demoram,
mais cada uma por sua vez, pendam em sobrosso;
daí a quase nada, tudo rui, se descoloram.
Copas triangulares de jamboeiros rolam no chão,
a graciosa camélia, protege-se agarrando a mão,
da planta mais pequenina e fazem um cordão,
como meninos brincando de roda no terreirão.
Depois de tudo derrubado, prossegue o vento agora,
ali não era seu alvo, a mira dele é mais fora,
e eu tenho dó do seu destino, não o dele, desaforo,

mas o de outras árvores, que ainda resta da flora.

SOLTO

















Ando à procura de mim
por onde estive e onde passe,
quase não durmo nem sonho,
prá que não mais me embarace.

São tantos os labirintos
em cada qual mais ciladas,
que se um delise cometa,
por certo, nunca eu achava.

Ando querendo saber
o rumo que por agora vou
que a noite já se aproxima,
em qual distância me achou.

Ando sozinho esta noite
tomando o rumo dos ventos
e pelos gestos que faço,
procuro o meu pensamento.

Que ficou nos olhos
daquele amor sozinho,
que agora vara a noite,
como eu, sem destino.

Quando o amor move um corpo
não mostra qualquer direção,
porém não deixa que se afaste,
dos rastros do coração.

Como a fumaça solta,
de trajeto involuntário,
eu vou tomando distância,
da boca que não me atrai.

NAO SEI















NÃO SEI

Eu sou assim, por demasia, insistente,
da vida o que mais aduba as sementes,
o que mais se dá comovente,
em prol das causas urgentes.
Eu sou no fim, o que vai restar brotando,
o que vai ter, se sobrando,
uma sombra pra desfiar meu canto,
um lugar pra continuar morando.
Eu fui no começo, a estória que não conto,
um estrupício um desabono,
à sorte de mim, um abandono,
pra quem já foi da sorte dono.
Entrego ao próximo a sobra,
meu elmo e minhas espadas,
um coração que ainda sopra,
nas encruzilhadas da estrada.

Eu era, mas não saberei se sou,
se fui, naveguei em águas corredias,
que nem vi que se passaram dias,
que escaparam anos, que pouco passou
.

AMANHÃ





Quando amanhã, renascer o dia
e de uma aurora esplêndida começar,
talvez tenham ficado destes instantes
magoados, outra escolhas à vida, e que

minhas lágrimas, e já vão estar
secas no travesseiro impregnado.
Prantos sem juízo, só pela vontade,
de ter mais uma vez o teu amor, afastado.
Amor ausente, que me tirou furtivamente,
as vontades que embelezavam minha tez,
os meus anseios, o que planejara,
para um dia ser feliz, e todo o bom,
de ser desse amor eterno, próximo,
dentro de mim como o meu coração estar,
como estão num santuário protegidos,
a tristeza, a quem não velo, nem saúdo,
as indignações que o meu peito ocupam.
Se esse dia vindouro, trouxer-me
o esquecimento deste, já terei infortúnios,
em menos, já se terá retirado, de vez,
o semblante triste de minha cara,
a descrença da vida, acreditar na morte,
mas ainda tão sensível, e muito dói.

segunda-feira, outubro 30, 2006

FESTA



FESTA

Para a festa de minha tristeza
te convidei.
E te vi chegar à frente de todos,
elegante no seu vestir, e bela..
Inebriado, louco, apaixonado,
Eu quis chorar.
Mas não convinha, a hora,

eu tinha,
por puro esforço me controlar.
A festa não era só minha,
era dela também, da tristeza,

que pernaneceu encabulada
pela tua chegada,
deu-me a bater com os olhos.
olhos de procura, de descrença,
de desavença pro final.
Mas só a ti eu queria olhar,
não me cansava de ver
a vermelhidão dos teus lábios,
o aceso intenso do teu olhar.
E me dava a ficava triste e alegre,
eu ainda te amava,

no teu decote confinava meus olhos,
olhos de lince esfomeado.
Foi na festa da tristeza,
que meu coração,

por rever a beleza, se separou.
naenorocha

VIDA



Eu me preocuparia muito mais com a vida,
se ela não me permitisse a franquia da ida
se ela se desdobrasse, em soluços, tardios
quando enfim, na hora de minha seguida

Eu tinha muito mais a falar, contrário a ela,
caso não houvesse, a sentença, uma espera
por desventura eu fosse alvejado,na cancela,
eu me arremetia por outros fundos, sem ela.

Quem diz que a vida é cruel, e pense, certo,
que ela não liga, que não está para intrigas?
A vida nunca responde, é assim um decreto
uma forma de não fugir, e pular no deserto.

Quando ela lhe solta a mão, não tem alívio,
continuam os besourinhos solos no ouvido
e as queixas serão as mesma, igual suplício

e entre todas as desventuras, prefiro a vida.
naenorocha

PORTINARI



PORTINARI

São meninos que pairam sós,
entre o gramado e o denso sol,
são rubros lábios, carmins,
são armaduras, manequins.
E na espera, a fila extensa,
vultos de quase gentes,
de olhos seguindo os passos,
aonde se anda se vê,
é um mutirão do mundo

aonde se ver:
Acorrentados escravos, já idos,
tempos de longe, passados,
também tão bem retratados,
na lince, espada do poeta,
criador de gentes, arquiteto,
do inimaginável mundo vão.
São loiras, morenas, de pernas,
cobertas, ao prazer, mostradas,
caras de pingos, pingadas,
a arte, a verve, um do outro
se serve. Ao escultor, tradutor,
criador, lapidador, caçador,
de enfeites, de nuances,
para seus transes, que é
de onde tudo vem, procede,
a vida e a agonia do criador.
naenorocha

TEMPO PROPÍCIO
















TEMPO PROPÍCIO

O tempo de agora é impróprio ao plantio,
é tempo de se acariciar as sementes, tocá-las
com mãos de seda.

Como elas estão no cio,
se dão facilmente, e amam antes de atirá-las.

O tempo ainda é puro estio, e impróprio,
a que se as arremesse no infértil solo,
as delicadas prenhes.

Mais à frente é será oportuno,
por enquanto é espera, protege-la ao colo.

Quando for o tempo enfim de planta-las,
já deve estar o campo,

um quarto preparado.,
onde elas se abrirão ao broto tão aguardado,
e choram e riem e calam-se a balançá-lo.

O tempo ainda é não é propício à colheita,
do amor guardado, pela vida inteira.
tempo de cuidar,

crescer, dar-se inteira,
às chuvas, ao ventos, bons à sementeira.
naenorocha

POEMA TRISTE
















POEMA TRISTE

Eu construirei um poema triste,
apenas com palavras tristes,
com rimas que se combinem, tristes,
Que deixem os homens tristes.
e dessas tantas tristezas, insiste
a inspiração que a mim pedistes:
Faz um poema assim, meio triste.
Como ao meio não convém à vista
prever o desfecho da estória, insiste,
o condolente final, um desfecho triste.

naenorocha

VAMOS



















VAMOS

Vamos, meu amor ver a cor do dia,
hoje a manhã acordou tardia,
queria vê-la serena e quieta,
ela acordou.
Vamor amor, contigo só,

andar pelos campos
nos molhar no orvalho
que a um tempo desses
ainda molham os lírios.
Vamos nas estrelas,
num rumo abstrato
onde não se retrata

a loucura dos homens,
nem eu sinta as dores do mundo.
Vamos rebentar com a noite,
vamos nascer com o dia,
levantar com o sol,
vamos os dois dormir.
Vamos meu amor,
segindo a corrente dos rios,
encontrar-mos do nosso amar,
no meio do seu agito,

uma barcarola segura,
que pela vida perdure.
Mergulhar-mos no frio da lua.
Vamos amor, que já nos esperam
outros dias claros, outros tantos dias.
naenorocha

ADJUNTO















ADJUNTO

Nunca ninguém conhecerá
As faces diversas de quem ergueu o sol,
De quem levantou a poeira cósmica,
De tão ardiloso sentimento próprio,
Porque fazer o doce lhe era impróprio
Delegou a outro, a quem conheceremos.

Que chegará fulgurante, esplêndido,
Rompendo as agruras, varando o silêncio
E se dirá, ausente por conveniência,
Mas que sempre estivera presente, por clemência,
e chegarão em sua comitiva,
bêbados, castos, santos, prostitutas, ladrões astutos,
todos redimidos pelo mesmo vento
que sopra as estações na ida e na volta,
o mesmo tenebroso vento que

trouxeram as naves dos nossos ancestrais,
que levou o trigo posto pra secar,
que levou o arroz posto pra pilar,
que jogou para o alto sonhos esperados,
que provou da vida e a levou também,
o mesmo vento que trouxe
essa gente toda que reviveu.


NaenoRocha

domingo, outubro 29, 2006

AMAR



















AMAR

Amar de qualquer jeito, é bom,
achar da melodia, o efeito, o tom
a que nos acompanha.
Amar, um transitivo direto,
rumo do coração.
amar a conjugação perfeita,
entre dois e mais a efusão
violento impacto, suave efeito
que só que já amou ou ama
descreveria perfeito, o gozo
da vida por toda ela.
Amar se dar sem sobras,
afinar as manobras do sangue
nas artérias, caminho do coração.
amar na primeira pessoa,
um singular, dobrar-se em dois,
amar, não o mar, um cenário,
amar a ti e fazer-te sentir
sem ti não, não é amar.
É serenar, madrugar, levantar
e nunca, nunca se acalmar
.
naenorocha

PEDIDO















PEDIDO

O mundo a quem muito pedi, deu-me um amor.
Um amor perigoso, ornamentado de medalhas,
Um amor presunçoso, que fez de tudo retalhos
Um amor inexistente oco e sem luz no telhado.

O mundo a quem tanto implorei, deu-me amor,
Que a duras penas, comecei e não recomecei,
Por não achar nele um natural gesto, sem alma,
Um amor escorraçado, tribal, e nem pontilhei,

Um caminho seu eu não segui, todos fidalgos.
E como reentregá-lo ao mundo, deixar, dispor,
Do que eu não mereço, não quis, ameaçador,
O mundo foi sacana comigo no final, me deu,

Em vez de amor, uma flor, vá lá, eu, procurar,
Deu-me um elmo, espada e armadura, férrea,
Não me deu o amor, que eu buscava, amar.
Um cão raivoso, um vilão em bote de espera
.
naenorocha

TRATOR


















Quem muito ama se engana, cedo ou tarde,
pois é o amor um crápula, um canalha,
que ora é pronto silêncio, ora é todo alarde,
e assim não podemos incorrer nesta falha.
Contar com quem se conta hoje, amanhã,
depois não se sabe nada, se dele ainda há,
o quarto onde dormia, noites de puro afã,
é o amor este relâmpago da madrugada.
Pode o amor agora, beijar e surpreender
como pode quando é hora, se esconder
e comprometer a alegria, não se conter,
sair como um despejado, para não fazer.
Amor, amor, bicho sem jeito, e luz e cor,
estranho infecto que penetra sem sinais
uma dormência, uma querência, e dor,
amor perverso, deu-se a isso, um trator.

naenorocha





ESQUECI-ME

O teu nome é quase já esquecido,
O teu rosto, lembro vagamente,
Quando alguém parecido,
Passa por mim lentamente.

Para pensar em ti, não necessita,
uma comoção, uma alegria,
qualquer paixão, que renascida,
torna-se pra mim, uma idolatria.

Os lugares por onde ficamos sós,
hoje são meros campos florados,
e nesses passados, isolados, dói,
a saudade de tudo por nós beijados.

Meus sonhos andam vagarosos, tristes,
e, na altura dos céus, esbarram sem seguirem,
tu, sem nome, sem rosto, existes,
meus sonhos voltam, em mim, te imprimirem.

Todos os disfarces da vida eu já me pus,
com eles mantive acobertado o rosto,
em velo às noites que podíeis, supus

aparecer-me inteiro, e eu lembrar teu gosto
naenorocha

IMPRODUTIVO























Deixei o meu coração aos posseiros,
Aos grileiros, passei-o ao governo,
Para que se utilizem dele, à vontade.
E não fiz nenhum tipo de condição,
Eles sabem é um coração, porção.
De mim abandonado. Sem valia,
Sem serventia, que nenhum queria.
Doei meu coração para não vê-lo
nas condições em que se achava,
abandonado e triste, sem um vivo,
alguém que pelo menos o olhasse,
mas nem com isso ele contava e
na proporção do tempo mais ele
ia se entristecendo, ia morrendo,
se desfazendo em ermo campo,
te todos, refugiados. Sumiram
de seu domínio, o Amor ardil,
disso ele mais se ressentiu. Caiu,
numa doença que não tinha cura,
uma amargura, de uma largura,
maior que suas fronteiriças. Só,
abandonado, triste, perder o
único que existe, para quem só
ele dava concessões que a outros
não. Coitado do meu coração,
agora cheio de bandeiras, pás,
picaretas, cavadeiras, gentes,
de toda procedência. Vão tirar
sua inocência,. E nem darão
para ele, dele, um lugar para
o amor, a quem ele ainda ama.
naeno rocha






















OUTRA CHANCE

Perto de onde nasci
Quero também morrer,
Só para provar a vida,
Que em tudo, fui pouco.
Pequeno no nome,
Nas idéias necessárias,
Nos afãs de ir à frente,
Ficava lá pra traz.
Pouca carne, mais osso,
Muita desventura,
Pouco alcançava,
Me projetei a um palmo,
Desde o começo,
E com retardo, cheguei,
Aonde todos já tinha passado.
Perto de onde morri
Queria nascer novamente,
Pra ver se a vida, essa vez,
Não repetisse de novo,
O meu desempenho de um,
Queria agora ser dois,
Pra ver se a dois palmos chegava,
mesmo que já fosse depois.


Ah! Eu pediria à vida,
Na outra vida dá-me
O mesmo bom amor.

naeno rocha











ALIMENTO

É mecessário algo que alimente o meu coração,
não só correntes de sangue que não desembocam,
tampouco as emoções cotidianas, remediadoras,
algo é preciso que eu faça, pra que não caia
em estado de inanição, como se alastra o chão,
de famintos, sequiosos, por um pedaço de pão.
É necessário que dele eu cuide, como dos olhos,
Que sei, em faltando a visão, faltará o mundo,
de mim sairão em correria, todas as alegrias,
caso, em tempo, eu não encontre um alimento,
e comida que o coração gosta é Amor, amor,
misturado com qualquer coisa, até seu reverso,
um desafeto, alguém que se preste, iludi-lo,
até disto ele gosta, põe a mesa e o prato entorna.
Mas o remédio propício, do qual ele já disse,
é um amor, amor escrito assim Amor, amoroso,
extremoso em suas ações de bondade e zelo,
amor que não se cancã, amor que o alcança,
e mora e fica, e amansa, e deita, e dorme, lá,
no leito já preparado, que era pra ele, no caso,
de não encontrar esse Amor, que um dia é dor,
aí ele haverá procurado uma sarna pra se coçar.
Meu coração sente fome! Ta bem vou procurar
o amor que ele diz ressentir-se de sua falta,
agora aonde encontrar, este alimento procurado,
há tantos corações, gentes, querendo, nem sei
por onde começar. Vou terminar por consultar
a mulher que eu mais amo, se nele quer morar.
Seria esta a felicidade completa, meu coração,
Saciado, eu de peito lavado, o amor, só meu
.
naeno rocha














CARRO DE BURITI

O filho de Seu Luiz Fogoió
tinha um carro feito de buriti.
E eu de tanto ver, tanto querer,
fiz um pra mim.
longe de parecer com o dele,
Mas cabia um litro cheio de areia,
Duas dúzias de caixas de fósforos vazia.
como não tinha asfalto,
eu o puxava pela areia.
de vez em quando eu parava,
ia para o lado de traz
só para ver o rastro dele.
Percebi que tinha uma roda enviesada,
e puxava mais para a esquerda
Daí a dificuldade de conduzí-lo,
que eu julgava ser o peso.
Com esse carro,
pela sua originalidade,
ganhei um prêmio Nobel,
que hoje guardo o papel.

naeno:291006

sábado, outubro 28, 2006




DESCRENTE

Eu acredito, um resto, um pouco
na transformação do mundo,
na metamorfose humana,
como conta a história,
cheia de inverdades e glória,
atribuindo ao homem,
a gestação do pólem,
da semente, da criatura,
das dores, das amargura,
tempos e tempos afora.
Eu não creio que a verdade,
que o homem premetida e diz,
seja um esteio confiável,
para que segure uma mão.
Nem nas inverdades,
dos que em seu próprio nome
mostrarem um dia seu revés.
Como não creio no semblante apático,
de um ser exposto na vitrine,
com tudo o que lhe ilumine,
ser apenas um ente falso.
Prefiro crer nos seus moviemntos,
nos gestos medidos, precisos,
desse que dizem ser uma cria,
do verdadeiro, desnecessário.
Tudo o que homem bota a mão,

não solta
e o jeito prá nossa verdade,
é acretidar na possibilidade larga,
de que esses seres inanimados,
tem mais alegria, e a nostalgia,
de um homem de verdade, intacto.

naeno:281006

















AMOR ANTIGO

Muito antes do grande caos,
da luz inexistente,
antes das primeiras gentes,
das estrelas,
do sol e seu nascente,
já o meu amor fulgurava.
Foi a primeira semente,
a primeira parturiente,
em meio à escuridão.
Foi a primeira luz,
que gerou as outras luzes,
mas muito mais reluzente.
Antes que a lua em sua altura,
mostrasse a sua brancura,
já o meu amor vislumbrava,
um mundo com aurora e dia,
o meu já se nutria,
disso que era ainda ilusão.
Antes do desafio que Deus impôs ao homem,
de serem fiéis uns com os outros,
já o meu amor, inclinado,
a ti, te esperava alucinado.
Antes de ti, minha amada,
já eu sereno aguardava,
o dia, o encontro, e andava,
pelos teus rastros que não se via,
eu, já por ti procurava.
É o meu amor desse tempo,
antes da chuva e do vento,
da lembrança do esquecimento,
é do meu amor o lamento,
o primeiro choro dolente,
quando a ti, por cecessidade,
buscava implacavelmene.

Naeno:281006














TRANSBORDA

Dentro do meu coração,
Tem um rio.
E uma ponte
Que ameaça ruir.
E eu vejo o perigo de não
Me salvar nessas águas.

Ó meu amor
Nunca queira me amar como eu,
Ó meu amor,
Nunca queira me amar como eu,
Te amo.

O sofrer do amor
É o da dor mais profunda.
E nenhuma chaga,
Que existe no mundo,
Faz tantos olhos chorarem
E tantos penares.

Ó meu amor
Nunca queira me amar como eu,
Ó meu amor,
Nunca queira me amar como eu,
Te amo.

naeno:música
















BEIJA FLOR

O beija flor
que de tanto voar,
parar, beijar,
um dia foi
forçado a falar.
O que ele fazia,
diante da rosa
sozinhos.
Se era mesmo
o que se falava
se ele como a rosa
tinham
algum lance,
um enlace,
se a namorava.
O beija-flor,
que beija a flor,
disse-lhes
pra suas dores:
Não só a flor,
a rosa, também,
as begônias,
as paro aras,
as azaléias,
todas eu beijo.
Com todas namoro,
a todas eu adoro,
com todas
vou me casar.

naeno:281006

RESTA

















RESTA

O que não te serves
certo, servirá noutro,
geralmente os outros,
são tão desiguais.
O que não te presta,
um ouvirá teus prestos
e te implorará.
Agora é parte da razão,
em se dar ou não,
ou se afastar.
Agora é com o coração,
que abriga ou não,
e se dar a amar.
Aquilo tudo o negue,
há quem não renegue,
e queira ficar.
O que não cabe,
caberá a alguém,
a hora de falar.
Agora é com a tua cabeça,
que ela te obedeça,
e que certa estas.
Agora é com tuas mãos,
se seguras ou não,
se levas ou deixa,
se alguém tem queixa
porque não sabes amar.

naeno:281006
















TE AMO

Te amo, como se fosses a última gota de água
Num deserto imensurável,
Te amo, do meu jeito, quieto, perplexo,
Diante de tua beleza angelical,
Como se fosses a última criatura
E não houvesse mais da parte de Deus,
A vontade em prosseguir, criando.
Te amo e me envergonho, das
Repetidas vezes que ouvistes falar.
Te amo bem mais que a aurora,
O renascer da flora, do agora em seu apogeu.
Te amo como amo o meu passado,
Repleto de tudo que muito amei,
E te amo mais, do que a virtuose
De poder falar com Deus.
Te amo distante, de todos os amores,
Te amo presente nesta mesma hora,
Amanhã te amo, com certeza tanta,
Que depois de amanhã, já terei,
Te amado ontem, com confiança.
Te amo mais que o beija-flor ama a rosa,
Te amo, a roseira de todas as flores,
Te amo como um nordestino,
Em pleno estio, deseja a chuva,
Mais que o mais, que já se tenha falado,
Te amo de fora e de dentro,
Da janela, no batente, te amo,
Chegando rindo, indo chorando,
Te amo com um amor que não se profana,
Como um amor que não se blasfema,
Que cultua, que se diante, circunflexo,
Velando, concentrado, sonhando,
Acordado, me dando, eu Te amo
.
naeno:281006
Ai, eu ficava só, dançava
com os meus olhos, a saudade.
Pois eu temia a contradança,
o teu balanço me assustava.
Esta ciranda quem me deu,
foi Deus, por insistência
do meu coração.
Pela vontade, ai que me dava,
de dançar no teu cordão.
naeno:apanhados









MILAGRE

Quem de amor,
não se arrefeceu,
não se esqueceu,
não se escondeu

não se roeu
não se tremeu
não se deu
não correu

não retrocedeu
não aprendeu

não se doeu
não sofreu,

não desfaleceu
não feneceu,
não resussitou.
naeno:281006




















SIM

Não, não que eu não saiba
da história inteira,
eu que nas filas, na vida,
fui sempre o derradeiro,
tudo eu ouvi, e vi de todos,
todos os gestos, sonhos, fantasia,
eu que não fazia, de nada, essa pressa.
Corri só quando vi-me diante dela,
a sucupira lenta se declinando,
fazendo um rasgo no lugar do tombo,
e eu de longe com o coração soprando.
Não que eu não conte a história inteira,
como a sucupira ela não é maneira,
pesa o bastante, o que se supor,
de dor, doída, inteiriça à noite.
não que eu não queira revelar o sonho,
se quando eu digo sonho, já o revelei,
mas o meu sempre foi, desde menino,
não ter crescido, não ter sabido,
não ter caído, tal a sucupira.
Não que eu não queira falar da luta,
de se buscar e se achar perdido,
de andar léguas de palmos medidas,
e retornar, sem haver conseguido,
rever a história, o sonho, a luta.

naeno:281006










CARDÃO

A minha vontade neste momento,
Era estar montado no meu cavalo
Cardão, passando por sobre um lajedo,
Ele com ferraduras nos pés,
Fazendo aquele barulho, trotado,
E de repente, no espanto,
Fugir do caminho bitolado,
E subir velozmente,
A uma beirada mais allto,
Verdejante, da estrada.
Com as orelhas murchas de espanto,
Parar, depois descer calmamente,
Como me segurando em se dorso,
Protegendo-me da queda em osso.
Saudades... São só saudades em mim,
Até do que vem pela frente, o destino,
Já sinto saudades.
Saudades do brilho de sua crina,
Por onde, em gestos de gradidão
Carinho, eu escorria os meus dedos,
Retirando espinhos que ele trazia
Dos baixões fechados.
Catava um por um, garranchos,
Carrapatos, até deixá-la
Limpa e brilhosa, como uma manhã.
Meu cavalo branco e preto,
Cardão, eu não te esqueço,
Fazes parte do meu passado,
Que bom ou ruim, hoje é passado.

naeno:281006















PREFERIDA

Uma maneira de provocar a vida,
é fazer das coisas sem sentido,
destaque, e cantá-las noite e dia,
num amiúde toque sem melodia.
Recitar, vulgarmente, condoídos,
as loucuras que não fazem sentido.
E fazer um bis, após haver repetido
outras e outras vezes, acometido,
de sentimento avesso e distraído.
Fazer com que ela ouça o alarido,
dos tombadilhos, fora de sentido,
até que estourem seus tímpanos.
E ela perceba ser um provocativo
e incomodada, grite, e dê ouvidos,
ao que nunca escutou, não queria.
E esclareça a pendência, diluída,
em água limpa, pura dissolvida,
ela nos diga, e nos repita, a vida
sou, não sou; tenho protegidos;
e faço diferenças, tenho recaídas
de amores,pelos meus preferidos
Que ela diga,o que temos ouvido
repetidas vezes dos ressentidos.
naeno:281006

sexta-feira, outubro 27, 2006



GOROROBA

Eu construo os meus versos,
Como quem vai ao reverso
De si, a encontrar o nada.
Que depois da página virada,
Dá-se por insatisfeito e volta
E meia, torna a buscar-se.
Eu componho um poema,
Como quem faz do dilema,
O verso e o reverso, o inverso
Do que não sou e muito perto
Tete a tete, a mim modelando
.
naeno:271006
Dom Quixote de La Mancha, está, sem sombra de erro, entre os maiores clássicos da literatura universal. A elaboração do texto, a meu ver, não deve ter sido de grande dificuldade para o autor porque ele incidiu no ponto comum de todos os homens. Na loucura, no sair de si. Nos desejos e anseios contidos em cada um. Quem não tem um amor invisível? Quem se contenta com os afagos de uma só pessoa. É da alma humana a busca. Busca pela felicidade, que implica na busca dos sonhos, quando absurdos aos olhos de outros, intitulam insanidade. Mas quem não é insano, dado a diferença imensurável de um ser par o outro. Quem, em se postando diante de outro ser igual, e andar profundo em caminhos sinceros, dos anseios, dos desejos, das desvirtudes, da infelicidade,- claro que a tendência natural é mentir - fazer-se passar pelo cidadão comum, que vive feliz, que tem uma mulher fiel, mas não rebusca, com o mais sincero dos gestos, suas entranhas, suas minúcias. E nisso, este confronto, em sendo conduzido assim, um dos dois sairá como louco.
Quem não tem uma Dulcinéia à frente. Valorizada pelos obstáculos próprios da vida, de quem se lança verdadeiramente em busca de si próprio. Quantos Sanchos, não compartilham, por pura piedade, por ser o divergente do outro, por se achar mais adequável ao papel, e um enfermeiro, e um psicólogo a dar conselhos e conter o seu companheiro de aventuras. Miguel de Cervantes, teve a sorte de encontrar o melhor tema para se escrever em torno.
Sei que depois de Dom Quixote, a literatura mundial não foi mais a mesma. Nele tantos se inspiraram; julgo que até o próprio Freud fez de suas teorias psicanalíticas, um estudo da vida da loucura, da vida de D. Quixote.
E quantos de sonhos infantis não são abordados no livro. Qual o menino que não deu porradas numa bananeira até à exaustão julgando-o, no entanto, num outro nível, como o vilão que lhe importunava a vida do seu herói, geralmente ele mesmo. Neste aspecto Cervantes também tirou muito. Da criança, criando um homem, não louco, não inconvivível, apenas uma criança linda, magra, sincero, de olhar bondoso, um caridoso e um destemido guerreiro que tudo fazia por sua Dulcinéia.
Outro aspecto que vale ser falado é o fato de Cervantes ter dado nome ao cavalo de Dom Quixote, prova considerável de que ele era mesmo uma criança especial. Uma criança que confortou a muitos do mundo todo, antes preocupados com seus sentimentos estranhos, com suas ações fora dos padrões e, que a partir do livro, relaxaram se achando normais, como Dom Quixote era, um normal, uma criança linda, que fez do mundo inteiro o seu enorme quintal
.
naeno:271006















ALUCINADO

Continuo tal como fui e sou, o mesmo louco de sempre,
com papel e lápis, indo e voltando, saudável, um ente,
queu largou sua vida, buscando outra que tem ausente,
que renegou todos seus planos, enterandos solenemente.
Sou o mesmo de toda a minha idade e para frente, sou,
o que busca estrelas, luas, auroras, orvalhos, sertões,
que não quieta diante da busca que prossegue em vão,
e vou todas as vezes que tenho de alguém uma direção.
Se queres saber de mim, pergunta, atenta ao feija-lor,
que fala a minha língua e gestos, aprendiz do sonhador.
Pergunta a uma rosa, sem tirá-la da roseira, isto é amor?
e ela muito fiel, sabendo que a mim é cruel, te dirá: é dor,
ou te dirá, como uma planta faladeira, é dor, e é amor.
Quando quizeres buscar a mim nos manicômios do mundo,
pergunta logo ao luar, o lugar, onde eu fico, me encontro,
e ele te responderá, com o olhar delatador, é dele o mundo,
o que falta a ele, dono de todos as certeza: amor, um sonho.
naeno:271006










DOLOROSO

Não ouço, só percebo existir, em volta,
um silêncio, como nunca vi. Tão quieto,
tudo, o que a esse tempo é impróprio.
Nehum bocejo, quizera, uma voz desta
campina onde enterro seus moradores.
O silêncio é sepulcral, impõe-me medo
quando aqui voltar a ter o seu alarde.
Mas chora a minha alma no desterro,
e também envolta em medo, se parte.
Este silêncio, certo, não é do meu amor
que ha tempos virou silêncio, absurdo,
e não diz-me mais nada, e tão falador,
era, antes de querer fazer-me surdo.
Ai meu amor de extensa e única raiz,
amor, que não renego, antes me diz,
o que fizeram contigo, à calar a boca,
a não me deixas esta vida à um triz.
De também calar, e com todos, selar,
calar até que retornes, teu riso à mim.
tua voz provoca em minha vida riso,
vontade de viver, e de tudo continuar.
naeno:271006



MINEIRINHA

Ó mineirinha, quanto tens em terra,
Quanto tens em ouro, em prata,
Quanto tens, ao todo, de tesouro,
A quantos tu amas, teu signo é touro,
Mineirinha, fala. Quanto ferro
Em brasa eu peguei por causa de ti.
Ó mineirinha, meeira do meu destino,
Grileira do meu coração, que tomaste,
Por tua deliberação, com meu aceite
Ó mineirinha, o teu lindo sotaque,
Teu vagaroso e calmo caminhado,
Me permitiram ver em ti, coisas que
Eu nunca vi em nenhuma mulher.
Permitistes, do teu latifúndio, de
Tua casa no cume de uma costa
Altaneira, eu ver a lua, céu inteiro,
Ouvir, na calma de tua voz bonita,
Os gestos os gritos de um amor,
Ardente, um amar presente, ali,
Dentro de minha boca, fora, de ti,
Mais louca, que os agravos de
Tuas unhas. Mineirinha linda,
Compro toda a terra, inclusive
Os Gerais, pra te ter, exposta,
Em uma taça funda, Tu, adorno
Da minha vida inteira. Minha
Mineirinha, do jaboticabal, das
Serras razantes, perto dos céus.
Minha condição, quando estou
Contigo nos meus sonhos antigos,
Ainda hoje são iguais, os abrigos
.
naeno:271006

















SILÊNCIO AGRÁRIO

Ouves o meu silêncio velado,
guardado para os mometos de extrema euforia,
tempo em que o amor falaria,
e só tua voz ouviria,
como faço em rogos,
diante da Virgem Maria.

Ouves o meu silêncio, turbulento,
de uma alma que não se assenta,
não tem tempo para o descanço, a paz.
E que por pretensão, de te tirar,
uma palavra boa, uma promessa à toa,
reza e chora, mas não quer falar.

Diz-me se o meu silêncio incomoda,
que por mais que a ti eu adore,
vou obstar minha boca e os gestos,
de forma que não ouvirás de mim,
enquanto tudo um desencontro,
entre eu, Tu, e as pretenções de mim.

Enquanto for este silêncio indesejável,
um tempo providencial, a mim,
não falarei, nem ouvirei barbáries,
que estar assim, mudo prá tudo,
é uma entrada que se abre em mim,
não pela boca ardilosa, mas pela alma,
sala clara ventilada, onde fico parado,
certo que não há, em nenhum canto, pó
.
naeno:271006











PAIXÃO

O amor bateu à minha porta
e de voz rasteira, falou de fora,
abre, sou eu, deixa-me agora,
entrar, fazer o que me imploras.

Só tu poderá limpar meu nome,
sou difamado, por aguns dos homens,
que me julgam dono de mim,
dos meu desejos, e eu não sei como.

Mudar, tirar de mim esta lama,
um lodo escuro que me banhou a paixão,
ela sim podia ter de vocês esta fama,
é ela quem os ilude, não eu, que confusão.

Quem bole, com tuas artérias,
que tira a calma do teu coração,
não sou eum eu não sou matéria,
a bactéria que te adoece é a paixão
naeno:271006


NOSSO PAI

Portugal meu Pai distante,
Quando vens ver o teu filho,
Ver as colheitas de milho,
Abarrotados todos os silos,
Te esperamos, saudosos,
Como tudo aquilo, que
Um ente querido, distante,
Merece. O beijo, a mão,
A prece! Todos os dias
Se agradece, a sorte
Que o grande Deus nos deu,
Se termos sido gerado,
Pelo teu sangue abençoado.
O que foi passado é presente,
Temos as tuas aparências,
Físicas, emocionais. Somos
Um povo de uma alegria,
Incontida, de um coração
Repleto de amor, o que
Aprendemos contigo.
Portugal, nosso Pai, vê
Se te não retardas em vir
Nos abençoar, conhecer
Teus netos, teus bisnetos,
Teus tataranetos, como
Deu certo o teu projeto.
Hoje somos homens
Feitos, mas muitos foram,
Desfeitos, o tempo a distância
são longos, existe um grande mar
entre nós, só que por ele
sabes andar, tens ele mapeado.
Enquanto a nós, como tu gostas,
te aguardamos ansiosos. Vem, Pai,
Te queremos tanto bem.
Saudades.
Naeno:271006



PODE O AMOR

O que se pode fazer
diante da sentença escrita,
a não ser pedir, pedir,
em nome de Deus, isistir,
na vida, na vida.
E implorar, se ajoelhar,
e jurar, nunca mais, nunca mais.
E ainda assim não está a salvo,
a sentença de um algoz,
é uma martelada ceta, um nó.
Que por nada se desata,
o réu inocente ou não, coitado,
terá de encarar o tablado,
o laço, o cadafalso,
o olhado de tantos falsos.
E na mistura, no grande tacho,
borbulham medo, o agoniado,
já com a cabeça projetada.
Ele não se ver mais dotado,
nem de amor, nem de ódio,
passaram-se, eram puro ópio,
e deles ele se fartou:
amou, amou, amou,
não se entregou, se deparou
antes com o emissário,
uma carta, um deplorável texto,
que atesta o amor uma desgraça,
uma desavença, um agravo,
aos olhos que não lhe ama,
e nem lhe engana, cética,
de que é uma atitude insana.

Execute-se
naeno:271006













A ARANHA

A aranha arrasta a linha
E amarra no inexistente ponto
E pontilha, quando retorna,
Do outro lado, da mesma forma,
E vai puxando, e vem trazendo,
E faz os contornos como se estivesse,
Num espaço imaginário.
É um fio, é um ofício, não é nada,
O que a aranha caprichosa, tece,
A teia, não lhe protege de nada,
Nela não mora, a namorada,
Nela não cria, a aranhada,
Nela se esfria e se quieta,
E adormece de cansada.
E quando alguém a ver deitada,
No inexistente esplendor,
Deita-lhe o espanador
E desmorona o seu projeto,

A teia do indestrutível teto.
naeno:271006

quinta-feira, outubro 26, 2006











LIMITE

Num fio suspenso entre o que se vê
E desejável, impróprio,
Risca-se um horizonte dimensional,
Como lâmina d’água, em perfeito prumo,
Ali é toda distância aberta aos olhos,
O rumo, para onde tendem
Os agoniados, sem formas,
Os famintos, os que buscam o fim.
E lá é o começo, o fim é aqui,
Não se olha o futuro, com olhos rasos,
E nem se vê diante do visível, nada,
Somente é dada, a sombra
Quando o sol já está minguando,
Partindo para outras bandas,
Como o futuro, também invisível.
O fio distingue em sua queda
De trapézio, a cachoeira infinita,
Que ao céu chega e trisca,
E volta a se molhar no mar.
O fio, o risco, maginável,
São a mesma coisa, do planetário
Mantenedor das diferenças,
Das desavenças entre os astros.
A mira, distante, que não se alcança,
Dista do olhar, no espaçoo,

Que dista o olhar do ponto.
naeno:261006










BUSCO

Eu busco, busco, busco.
O tanto que tenho buscado,
Já enchi latas, enchi quintais,
Prateleiras, enchi armários,
Da cozinha, das salas
E busco, ainda, em desvario, em gestos,
Busco. Não o sentido da vida,
Ou algo que com ela pareça,
Eu busco o que amanheça,
E perto de mim escureça,
Como tenho feito, cativo,
Tudo o que já colhi.
Na ida, na contra-vinda,
Busco, e não é que acho.
Acho, acho em todos lugares,
Dentro de mim está lotado,
Lugar nenhum cabe mais.
Mas não achei para mim,
Encontrei tudo pra dar,
Dar a quem merecer,
Dar a quem me enganar,
Dou porque em demasia,
Encontrei, fácil, pelas calçadas,
Embaixo dos bancos de praça,
Encima do porta-malas,
E ainda busco, e buscarei sempre,
O que será meu, só meu,
E só quero um,
O resto é pra dar,
Dar, entregar de mão beijada,
Dar à exaustão,
A esse amor especial,
Que um dia vem à minha mão.

naeno:261006












GÊNESIS

Não sei aonde estou,
nem como entrei,
nem como saí,
nem como caí,
neste instante só,
solitário, em pó,
em água e areia.
serei refeito agora,
chagada a minha hora,
Deus jé me pegou,
tomou as medidas,
anotou.
me olhou e, pro lado virou-se.
Que Ele presente agora,
juntarar a água, a areia e o pó,
untará a forma; outra forma,
e fazer-me, só.
Mas só novamente,?
Eu serei a única semente?
Irei reiniciar a história.
Não, meu Deus, não,
dá-me voltar à volta,
sós os camainhos me mostras,
que ao chegar,
resolverei minha vida, prometo.
naeno:261006














NATURAL

Prende-me como a natrureza,
de um menino caçador.
Traz-me em tudas mãos, de afagos,
que é pra eu sentir o teu calor.
Faz de mim algo, nada,
mas faz, peço-te, por favor.
Como se fosse um brinquedo,
de maneira que eu nem perceba.
Confunde o que te digo, o que vês,
de mim, intentas que eu não veja.
Sai de mim, depois retorna,
com outras palhas colhidas,
que aqui neste galho espesso,
da minha primeira recaída,
trocamos beijos, amamos,
só tu, eu e a amplidão da natureza.
Faz de mim a feliz cidade,
traz à mim toda claridade,
artificial, de uma noite,
quando não houver no céu,
nem lua nem estrelas
.
naeno:261006







SAL

Não, não olhes para traz,
de sal a terra está completa,
e se insistires na desfeita,
em pouco tempo serás pedra.
Aí entoarás o grande grito,
que ninguém saberá de onde vem,
e sairá da boca líquida,
um monumento ali erguido,
em nome da insensatez,
da teimosia em ires contra o Senhor,
e com Ele ninguém justifica,
ante suas advertências comovidas.
Imputa-te uma pena que não sara,
não é mas o sal da vida,
és o da sal da carcomida,
extinta, já secular.
Como se deu em Gomorra,
e repetiu-se em Sodoma,
és agora só um nome,
uma prisão da liberdade.
Não podieis olhar para traz,
porque no passado se encontra tudo,
mudo, o sensato, amargurado,
gregário, a santa teimosia dos homens.







GAZELA

Meu amor quando me olha
com seus olhos de gazela,
eu fico querendo ela.
E fico numa miséria,
fico até sem coração.
Os seus olhos de selvagem, têm
um brilho, e um estribilho,
que quando os vjo, eu canto,
uma canção repetida.
Mas só assim ela sabe, sou
o beijo que não pondera,
o braço que logo agarra,
o silvo de uma cigarra,
anunciando que já estou.
O barulho de uma arara,
já para cair do galho,
abraçada ao seu amor.

Meu amor quando me olha, ver
um bicho desavergonhado,
e é so disso que ela gosta,

que é por que me tem amado.

naeno:261006















DEDUÇÕES

Entre o desejo e o sereno encanto,
não o meio, sei ver só o fim,
que do amor todo mérido, ser
de tudo o que existe, intermediador.
Amor é desejo e é encantamento,
e é a vontade em obter-se, ter,
ao colo deitado, inocentemente,
aquilo que se ama, deseja e encanta.
Por convenção é o amor desejo,
por convenção é o amor desejo,
por expressão, é amar encantar-se
e firmemente não é amor um desejo,
como sabidamente, do desejo se faz amor.
E quando sem ter por inteiro o seu bem,
deitados, de pé, em qualquer posição,
selando os anseios de amor, desejo e amar
um calmamente, consuma-se e se desconfusa,
Que o ato pleno, verdadeiramente é ter,
não ver, nem olhar; os olhos fazem por si,
se fecham como se deles o papel fosse só ajudar.
mirar, provovar, rodar, molhar, inspirar, fechar.
naeno:271006















UM AMIGO

Perder um amigo,
é perder um abrigo,
sair pelas ruas,
cair pelos bares.
Perder um amigo,
e perder-se o arrimo,
sem um arumento,
sem se justificar.
Perder um amigo,
é perder-se de si,
decepar o umbigo,
não se alimentar.
Perder um amigo,
e constatar que a vida,
ficou tão vazia,
e não tem sentido,
insisti-la em enfeitar.
Perder um amigo,
é perder um irmão,
até mais preciso,
do que a própria mão.
Perder um amigo
e ficar-se cativo,
da gota mais fria,
caindo em lentidão.
Perder-se de um amigo,
é soltar-se no mundo,
perder-se dos rumos,
que aponta à vida.
E um pesadelo,
do qual não se acorda,
e nem se levanta.
Perder um amigo
é correr perigo,
é ficar consigo,
e sentir-se só
.
naeno:261006

TERESINA

Sign by Dealighted - Coupons & Discount Shopping