quarta-feira, fevereiro 28, 2007

AMOR QUERIDO

Por haver perdido a esperança de beijá-la,
Por minha boca, ou abraçá-la,
Ou falar do meu amor sem fim,
O coração mandarim,
Vai à estalagem dela,
Vai tu minha poesia
À minha amada,
Vai aonde ela deita,
Dizer a ela quanto, quanto dói,
Amar e não ser amado,
Amar de boca fechada,
E coração latente, peito inflamado.
Beijai a ela risonhos,
O melhor dos sonhos que aquietam,
Beijem a ela, palavras de leve encanto,
Rumo aos confins, sem nome,
De seu corpo dormente, frente ao frio.
Lugar onde minha alma tem costume,
Andar, não sai de perto,
Do amor que é certo, numa direção,
E todo se escapa pelas minhas mãos.
Liberta que na paciência
Da noite vai quietando indiferente,
Ao olho d’água que de transparente,
Faz de meus olhos dois rios,
Reluzentes.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

O TEU SORRISO
Foi o teu sorriso aberto à minha frente
Que despertou em mim uma vontade
De querer entrar e morar lá dentro,
De ser conhecedor de ti, no profundo,
E permanecer o meu tempo de mundo.

Foi o teu sorriso claro que encantou minha alma,
E ela se largou primeiro no mesmo impulso de ficar
Por ai, amando-te por dentro,
Sendo um órgão teu, puxando pra ela,
Os cuidados de tua vida.

O teu sorriso abriu-me a porta e a visão,
De um lugar seguro,
E minha vontade era ficar em tua boca,
Morando em ti. Entrar tirar as roupas,
Um desabrigado, que encontrou um lugar.

Um sorriso desses de mil faróis acesos,
De paixão cativa, mansa, hospitaleira,
Uma brancura que pra todo lado dá,
A sensação de que estão mudando,
Pra outro espaço branco, o céu.

sábado, fevereiro 24, 2007

A CIDADE DOS MEUS OLHOS

Já houve um tempo em que da janela,
Eu via uma cidade projetada na calçada,
Um espaço curto e fraterno,
Onde as pessoas se acenavam de perto,
Beijavam-se de perto,
Despediam-se de perto,
E se abraçavam várias vezes no dia.
A janela existe com uma fila de jarros,
Com flores silvestres, tiradas dos beirais das serras.
Meus olhos me arremetem ao tempo da Cidade,
Agora esverdeada em sua base,
E colorida em seu cume.
Mas deu noutro lugar diferente.
As pessoas de dispersaram,
Alguns venderam outros compraram,
Pedaços, vãos inteiros de terras.
E tomaram distância umas das outras
Ainda bem que resistiu o amor.
E elas agora se beijam de longe,
Acenam-se de longe,
Despedem-se de longe,
E quase não se vêem.
PROCISSÃO

Empurro o tempo com a barriga,
E será mesmo assim,
Que se conduz o andor,
Tão delicadinho.
Não os paus as mãos das fortalezas,
Mas a imagem frágil da Santinha.
E aonde é que vai dar
A procissão comigo à frente,
Se daqui pra trás é que minha alma tende.
Eu levo a vida tão de brincadeira,
Tomo uma cadeira, faço o meu lugar.
E deixo o sol fazer a sua parte,
Me dizer.
E deixo o dia frouxo pra correr,
De mim que bulo em nada,
Nem sou incriminado por um exagero.
Santo leve que aos paus se engancha,
Se a correnteza for, como não espero,
Medonha.
Ligo os meus pensares numa linha tênue
Que faz que me liga
Mas à ponta pende,
Meu corpo monstruoso, indelicada espera,
Não me preparei pra morrer na véspera.
E sigo e toco e vou furando o povo,
Procurando à frente, o que deixei atrás.
A na discórdia dos corpos do espaço,
Perco o meu lugar para o vento,
Me perco do tempo,
Que já empurra com sua frente larga,
Do meu pé não deixa,
Minha vida não larga.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

MEDO

É como está vendo. Esta chuva que se promete,
Anunciada por nuvens espessas, me arremete,
A outras chuvas, por outros umbrais, e me mete
O mesmo medo de trovões, de fogo e perigo perto.

As chuvas e os meus medos, entrelaçados, lavoura,
Covas rasas, covas funda, plantando esperança de novo,
Esquivo de muito barulho, que quanto mais, menos ouço,
E meu coração se confunde com jatos de água em meu dorso.

É como que está sentindo, a chuva que vai caindo,
Me levará brutalmente, aos perdidos estreitos caminhos,
Do tempo que um operário fazia de tudo, menino,
E caçava o tempo com pedras pisoteando daninhos.

As trovoadas, as pancadas dos pingos pela calçada,
Que batiam e voltavam de novo, a casa ameaçada,
O tempo dessas invernadas, a morte já anunciada,
A qualquer coisa, qualquer gente, eu acorria abraçado.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

AMULETO

Andas com o amor amarrado,
Como amuleto no peito grudado,
De vez em quando passe os dedos por ele,
Pense nuns olhos,
E a partir daí verás por eles.

Aonde quer que se destinem os teus passos,
Que já estejam os teus pensamentos,
Penduras o amor e vai,
E tua estrada será isenta,
De ventos tempestuosos,
E dos mais esquivos olhos.
O amor protege como um guardião das abelhas,
O amuleto que tens pendurado, a um desvio,
De dentro dele sai uma centelha,
Que esgueira o medo, muito mais que o sol.

E não anda só quem traz ele ao pescoço,
O amor é um dorso de um elefante dócil,
É o céu dos que já temem a terra,
É uma ambulância equipada inteira,
Repleta de para médicos.

Não correrão perigos os que andam com amor.
O amor é um escudo que só aos olhos de quem tem
Mostra-se. Vidro blindado, segurança dobrada,
Amor é espada, é uma garrafada,
Que quem não acredita, não toma e não fica bom.
Amor é uma inquietação depois da cesta.
À meia noite quieta-se e te protege
Dos manguezais, se neles pisares,
Nas florestas fundas se nelas te arriscares,
Em alto mar, com parco medo, tu emergirás,
E numa queda a que somos propícios flutuarás.
.
AURORA

Mesmo antes de se projetarem os homens
Já a aurora de olhos róseos
Surgia todas as manhãs
Como experimento, por obrigação.
Ainda não na sua forma de rosa,
Como fora antes dos tantos olhares.
A minha aurora baixa num cordão suspenso,
Um fio tênue, leve e só a ela se vê.
E pelos ventos descidos, frios.
Ela se posta, se assenta no chão.
E num rompante se dissolve,
Absorve-a inteira o sol, na sua vez,
Como uma clareira, buraco claro
Farol de carro dentro da noite.
Desde o princípio o sol tem esse papel e acata a ordem.
Não falha nunca e recebe o dia
Das mãos da aurora
E se entrega à tarde, se adiantando,
Que não o recebe e aguarda a noite
Um manto negro que tudo cobre,
Vazando apenas pelos poros do corpo, as estrelas.
Como se vê, são sempre claros
Os cumes do mundo e tudo ao céu,
Como tem luzes ante a cobertura,
Que prima o céu.
Logo vem a aurora, na sua hora.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

AMAR


Amar é fogo que não se tira brasa,
Amar é um desejo de ser despejado,
E perder a casa.
Amar é acenar aflito à condução
Já atrasada.
Amar é pender de um lado,
E do outro incomodar-se.
Amar é dose, tirada da boca vazada.
Amar é ímpar, o primeiro numero.
Amar é dar a cara dos dois lados,
A moeda que não cai em pé.
Amar é armazenar amor,
Amar é algo provocador
Que não se contém, como dor,
Uma vontade de ser doador,
De sangue de amor e flor.
Amar é da primeira pessoa,
É transitivo a ela, e só.
Ou um que transita por sobre toda a humanidade.
Um outro tipo de amar, de outra raça.
Amar é querer conjugar, colar ou meter-se,
Dentro e fora.
Fora e dentro, é amar.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

SÃO PEDRO DO PIAUÍ

São Pedro do Piauí é todo verde,
Quando chove, parece que pra lá
Acorrem todas as nuvens, carregadas.
Do perímetro da estrada que nunca molha,
Quando se entra com os olhos de esperança, verde,
Acontece de se ver as copas dos babaçus,
Tais como pincéis a triscarem o azul, verdeando,
Que de perto ser ver uma mistura que dá no lodo.
Acontece o milagre, não é raro,
De das pedras nascerem árvores curiosas,
Que se amontoam sob os galhos altos,
Guardando sapos, nos salões de carnavais.
Guardo-me destas lembranças,
Que não se protegem de mim e ficam
A atiçar meus olhos cinza, de procurar,
Algo que seja como a província dos meus sonhos.
São Pedro esverdeado, passando ás lonjuras,
Uma tinta que se escorre, como muro pintado a brocha.
São Pedro é dos rochas, é das pedras é dos currais,
É dos riachos, da saparia, das cantilenas invernais.
São Pedro é um verde escuro e claro,
Um claro escuro de uma mistura de tintas iguais,
Uma mais aberta outra mais fechada,
Uma que se inclina, outra que é base.
Ah cidade, ah arremedo de povoado,
Casas juntadas, ligadas, não sei por que,
Se por traz vê-se a campina desocupada
E nenhuma estaca, onde o gado pasta,
E tem mais vacas paridas e touros tangidos,
E couro espichado, que gente,
Meu interior é um açougue, onde se vende
Carne fresca e verde, da cor de cebolinha,
Da cor de alface, da cor de couve.
Coube a um urubu, preto retinto,
Quando aterrissava sobre uma carniça,
Para eu perceber que São Pedro é verde.
Mas ironicamente não é a esperança,
Nunca passou dos mesmos musgos,
Os mesmos bois e os mesmos homens.
MEUS OLHOS

Meus olhos não dão conta de vêem
O tanto de silêncio ajuntado
Encima de tudo, camada espessa,
Massa profunda, cheiro sem cor.
Meus olhos não cabem a visão
Dos teus, simulação de vertigem,
Porta fechada, desabrigo,
Corda fornalha, os meus tição.
E não dão conta da claridade
Luz de eletricidade, da cidade, um vão,
Sem tamanho.
Nem choram o tanto dos teus,
Lembrança que me faz tentar,
Um choro, um pingo... Não sai.
Meus olhos não são do mesmo tamanho
Da solidão, sol a pino,
Quando de um galho de cima
Um passarinho me lembra
A calma do teu amor,
A lentidão do teu beijo,
O interesse regressivo,
Por ti, que já contei em resposta.
Por mais que eu abra os meus olhos
Tentando a visão do que sei,
Envolto em mim, passeia e queda,
Não, em altura, em largura
Em comprimento e fundo,
Eles decifram a visão do mundo compacto,
Que minha vida é.
Um alqueire, talvez menor,
Uma testada, talvez, menor,
A casa dos anões, talvez menor,
Mesmo em sendo, meus olhos,
Ainda são muito menores.
FUNDO

Raspo o fundo da panela
A ver brilhar uma cor que desconhecia,
E me alimento do ferro,
De outras comidas servidas e alimentadas,
E me viro ao pote e afundo o copo
E bebo barro diluído em água.
É a fome e é a sede,
É a minha casa e minha rede,
Onde me deito para a cesta,
Pra ruminar o tempo, arrotar ferrugem,
Já me acostumei com o grude,
E disso passo, e lavo o prato,
E a colher com a ponta suja.
E volto em casa, e pego das mãos
O anel que é de minha mãe,
A aliança que é de meu pai,
E os guardo atrás do quadro do Coração de Jesus.
Agora vou ver o pedaço plantado de arroz
Diminuído em altura e largura,
A cada vento, que não traz água.
Subo a porteira com destreza,
Ainda sou moço, mas há tristeza
Dentro dos meus olhos, no meu passado,
O meu presente cheio dela,
E eu como gamela que dormiu na bica,
E amanhece cheia quando a chuva fustiga,
Dizendo, agora vai, agora é meu tempo.
O vento que o meu coração desertifica,
Racha-o em fendas descidas,
Até que um dia separa-o em bandas,
E meus sentimentos como é que ficam,
De que lado sente dores,
De que lado a comoção do amor
Que há de brotar um dia,
Que já plantei, que já reguei,
Que tenho limpado o seu derredor,
E agora quem vai bater,
Quem vai verter sangue à cabeça,
Aos meus braços que dão pras mãos,
De cavar, de cavoucar, de raspar,
De levar à boca a colher de lixa.

domingo, fevereiro 18, 2007

TEUS OLHOS

O que querem dizer teus olhos
Como sombras que se acompanham
Quais pêndulos de precisão,
O mesmo brilho a mesma medida.
O que me passam teus olhos
Quando por mim passeiam inteiro,
O fiel que sou da medida,
Quando me fogem, tenho caído,
Para um lado solitário,
E para o outro, distraído.
Finda para mim, esta agonia
Acompanhar o que vês,
Se nos meus olhos nãos se fixa
O teu olhar verdadeiro.
Dá-lhe ao mundo, às paisagens,
Coisas que mas te distraem,
Por ser eu o que já conhecem
Dos meus olhos os teus se abstraem.
Olhas prá mim então com os olhos meus,
Fiéis ao ponto dos teus,
E são mais estáticos e mais diretos.
Na mira, na busca dos claros
Que mudam no rosto teu.
São os teus olhos os de um falcão
E os meus de uma presa distraída.
RENASCIDO
para Cabeça L(oca)

Se eu não puder nascer de novo,
Que eu seja então renascido,
No meio deste mesmo povo,
Que eu não tenha me esquecido,
Das visões altas do céu,
Das verdejantes campinas, remido.

E que nas minhas lembranças,
Não contem as visões da ida,
Só as vistas das campinas planas,
A contar à minha vida,
Quem nunca mais me desengana
Nem de mim entristecido.

Que o doce inflamar dos dias,
Sejam por mim festejados,
E as flores onde vá a mão,
Eu possa todas beijar,
Um beija-flor, que por seu bico,
Eu tenha sido muito beijado.

Quero ruminar o gosto,
Sentir todas as frutas,
Comer as qeu dão do rosto,
Trazer guardadas as maduras,
Ser uma estampa, bem posto,
No meio do mundo, moldura.

Sentir o que não senti,
Não a dormência das mãos,
Não a permanência sem ti,
Não a dolência, a tristeza vã,
Não a ausência por mim, sentir
Beijar tua boca romã.

sábado, fevereiro 17, 2007

AUSÊNCIA

Eu julgava ser a ausência
Uma divisão dolorosa do corpo,
Ou coisa sentida como prenúncio de morte,
Um buraco negro, sem fim sob meus pés.
Depois vi que a ausência
É uma companhia necessária,
Comigo, inteiro em dois, ela permanece,
A provar minha sanidade,
A dar-me os sentidos que não sabia,
A cativar-me como a melhor amiga.
E me acostumei com ela, tanto,
Que tanto faz o burburinho das ruas,
Ou o balbuciar risonho de um amor,
Colado aos meus ouvidos,
Que dou mais atenção a ausência.
Com ela a cadência do passo é mais livre,
A gente estanca, e abraça como quer,
Livre das dores que traz o abraço,
Distante dos olhares obrigatórios,
Que a companhia exige.
Alforriada dos escândalos
Quando queremos liberdade.
Hoje eu eu a ausência somos ímpares,
Um que se sente só mas seguro
Pelas duas mãos ocupadas,
Outro que se sente acompanhado,
Por um coração, guardado.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

TUA AUSÊNCIA

Estou acometido de uma doença,
Da qual só os sintomas são diagnosticados, por mim,
A nenhum especialista, ela se revela,
Assim, facilmente, como quando estou sozinho,
Em pleno vale da morte, onde ela jaz.
E eu ando por cima, mesmo com essa doença esgrima,
Que me perfura por fora e por dentro,
Que às vezes quer dizer seu nome,
E antes eu me banho de chás, mezinhas,
Antibióticos pra sararem uma ferida que não se vê.
Só sei tê-la, mas não sei o buraco não onde se meteu.
Doem-me as costas quanto me viro,
Dói-me fortemente quando tendo a olhar o lado contrário,
Pareço não sentir as pernas quando procuro olhar pro abajur
Colocado à esquerda, apagado, o lado que tu dormias.
A minha doença, que insistente deixou-me contorcido,
Em dor e em posição, fazendo tendencioso o meu coração,
A mudar de lado, impulsivo, foi diagnosticada.
Finalmente e o resultado foi o que eu temia.
Pior que uma agonia; que taquicardia,
Que uma displasia, que não ter remédio nas farmácias,
Pior que estarem comprometidas minhas hemácias,
Mais dolorida que um corte recente.
A o meu mal, talvez incurável, a minha doença,
É, pra desgraça minha e do meu coração pendido,
A tua ausência.
POEMA DECAPTADO E DECEPADO

Se eu vier a nascer de novo
Pedirei ao Deu da vida...
Seja esta a vez da minha morte.
Mandai-me velho, com todo o tempo que terei,
E deixai que progressivamente eu regresse.
Largai-me cambaleante como uma criança
Nos seus primeiros passos
Que daí eu desça, remoçando,
Com a carga pesada de tudo o que é meu,
Das coisas que vi e fiz e repetirei de novo.
E siga esquecendo, desaprendendo,
Diminuindo ou aumentando os ossos.
Destapados os ouvidos, limpos meus olhos,
Que eu ouça e veja.
E que tudo vá se diluindo e consistindo,
No olhar atento e sentidos perfeitos de moço.
Mas que eu vá me esquecendo,
E o que eu lembre dure o tempo de esquecer.
Que a mim seja da beleza
De primeiro ver o crepúsculo
Pra só depois ver a aurora.
Que as estrelas e a lua, eu veja antes,
Que a luz ofuscante do sol.
Que as mulheres se surpreendam
Com os beijos que sugarei de suas bocas,
Que eu siga de tudo esquecendo...
Que as estações se invertam,
Da forma como eu venho vindo e indo.
Que eu veja as águas que não se repetem,
No mesmo ponto do rio,
Descidas distas dos meus olhos, um dia.
Que as chuvas primeiras sejam as derradeiras,
E eu já colha antes de plantar, antes de arar, de queimar.
Que o meu primeiro presente, uma bola furada,
Dê-me a alegria de um menino encantado.
Que eu desça ou suba esquecendo...
Desaprendendo, perdendo o sendo, o sentimento adulto.
Que de repente eu me veja
No regaço de minha mãe sugando o colostro,
E de tudo esquecido,
Que se abram as portas
Por onde entrei e saí pela segunda vez.
TARDE

A tarde estava cinza e feia,
Oscilante em seu humor de tempo.
Entre o crispar das folhas sentenciadas,
Às sombras ligeiras e ardentes,
Iroconicamente posta sob a copa das árvores,
Da mesma forma como se concebera fossem,
Frias e acolhedoras.
Mas aquela tarde era desigual,
Uma tarde que veio enfear as outras.
Ninguém mais lembrava
Que existiam tardes belas,
Por causa daquela.
Imponderada, indesejável, chata.
E todos ficaram saudosos das manhãs,
Mas ela insistia em se demorar naquela tarde,
A tarde repulsiva e cinza, cinza de resto de fogo,
Que ainda fumegava,
E prometia ir ao tempo em que durasse o seu tempo,
E mais além,
Confundir a noite e meter-se adentro.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

DOR

Às vezes eu não me vejo
Dentro de minha casa.
E vou carregando o meu corpo
Sem sentir o seu peso.
De repente apaga-se a sombra
Que me acompanhava, refletida nas paredes.
Por vezes ocorre
De em tantos lugares por onde ando,
Forço-me a parar, procurando,
Esperado acompanhar
a mim que me deixei prá tráz
Ou estou à frente na pressa de não ver
O que me intrete andando devagar.
No dia, o sol, de mim, cria uma forma
que vai pelo chão e eu sinto arder meus pés.
Mas só isso vejo e sinto.
E já não procuro,
Porque não me anuncia a minha presença
Em pleno dia, onde tudo se ver.
À noite não me sindo deitar
E o meu leito é ocupado por alguém.
Eu me mexo mas não sou que que faz a cama trepidar.
Outras vezes, conciso, de que não ando só,
Me sinto e me vejo dentro de mim.
Eu, completo, convergido, em corpo e sombra.
Mas eu não possso passar, nem me mexer
Porque é como um sobressalto, passar.
É como gritar perto de um rebanho que pasta
De cabeça baixa,
Espalhar-se nos espaços possíveis.
E novamente sentir-me mais só,
Só, não na comididade de não estar,
E não estando e querento estar
Como nõ ficando, querendo sair,
E não sair, querendo me largar.
Há dias que não me vejo escrevendo....
Sinto as letras, andarem, como sombra seguindo
E uma Dor que sinto por alguém.
SONO

Acorda, meu amor...
Que há festa em teu jardim.
Que as rozeiras que fincastes na terra
Todas vingaram.
E estão formosas, em suas cores de rosas,
Clamam pelos teus olhos
O lume do sol, teu olhar,
Por onde se vê melhor e mais real, a natureza.
Acorda, meu amor...
Que a vida está contigo
A minha vida deita ao teu lado,
A vida verde das folhas novas,
Dormem contigo.
Acorda, meu amor,
Deus dorme contigo.
Acorda para que Ele prossiga
A tudo acordar,
Antes a tua vida, porque dela precisam
Todas as outras adormecidas.
Acorda, que o dia que se faz lindo, hoje,
Esperar para ver-te bocejar.
Que os pássaros silenciosos
Esperam por ouvir-te
Para afinarare o canto,
Que a chuva paira, suspensa sobre a terra,
E não cai nos campos sequiosos.
Que ninguém ama,
Porque se esqueceram tudo o que ensinastes.
Acorda amor, há cheiro de pão e café,
Levanta, que tudo está por terra,
O próprio amor de grita: Eterna...
Acorda amor,
Me acorda, por favor.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

DIVISÃO
De que valem os bons sentimentos
Diante da força já existente
Em cada coisa.
De que se serve a boa ação,
Se já há a má vontade consolidada.
O que podemos fazer por aquilo
Que não deseja de nós sequer um olhar.
Imagine tocar, abrir, perscrutar e ver.
Fica impotente aos desejosos por mudança,
Quando tudo está fincado
De forma definitiva, cada um ao seu lugar.
E sentem prazer em serem assim,
E acham bom como estão acomodados.
De que valem as intenções dos que lutam
Em favor da manutenção do verde,
Da valorização dos pobres indefesos,
Se existe uma força visível
Em cada um em continuarem assim.
Coitados dos que precisam desses reparos,
Por que não verem o outro jeito,
Que se imaginam bom e mais humano,
Ficam com o medo, e protegendo
O que se ver como castigo e opressão.
Coitados dos danosos, dos mentirosos,
Que conceberam o mundo com essa divisão,
Não sabem eles, que a parte que lhes toca,
É a mesma, deles, sem ter-se acrescido nada.
O que falta ao pobre à mulher sofrida, iludida,
À natureza, aos que se mostram precisados,
Tem para eles o mundo guardado,
Que não é propriedade de ninguém ainda.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

IMPONDERÁVEL

Não tenho enterrado em nenhum canto daqui,
Nada que se dê como vantagens,
Aos que também cavoucam a terra
Enterrando besteiras.
Meu relicário é minha mente
Que está à frente em tudo, à mostra,
Nas festas da redondeza,
Nos parceiros do repente,
E tudo que ouve guarda seguramente.
Eu vejo beleza nas palavras,
A quem nunca dou desconto e emendo frases.
O que vejo viram palavras.
As poesias que faço são figuras assentadas.
E a minha poesia é tirada do que vejo.
Pensar, é uma punição ao corpo.
E às vezes me acho assim,
Sintonizado no mundo por minha auréola incolor,
Mas triste, tentando o imponderável,
Com a realidade simples a me triscar.
Só para depois tudo versejar, com palavras.
Poetas, descobridores do mundo, todos iguais,
Complicados não por serem intratáveis,

Mas porque complicam tudo.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

PERDÃO

Quando, que minha boca
Que só diz o que eu quero,
E o que quero
É o que quer o meu coração,
Algum dia diria algo assim.
Que não fosse de mim,
Como tenho dito sempre,
Palavras inteiras de amor intenso,
Com gestos que nem sei se penso,
Mas pelo costume, são como oblações,
Carregadas de toda emoção,
Vivas, ardentes, que soam oração.
Pela vida que te conheço e vivo,
Só de amar eu falo
Só de amor eu calo.
Se algo falou a ti, eu mesmo,
Quis falar ao homem que em se atrasou
E não te trouxe em tempo
As rosas que eu guardei,
Quis falar pra dentro de mim distraído,
Por que da tua pessoa nunca havia saído,
Meus olhos baixos do maior amor.
Guardas, pois contigo, o meu perdão antigo,
Pois antes de ferir-te já o tinha proferido,
De amor chorando, de amor sofrido.
Recolhe, pois meu coração ao teu peito,
Que o teu por jeito, de mim nunca saiu,
Como não saiu o nada sem jeito,
Acolhe no teu peito
O perdão que tenho te pedido.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

DEPOIS EU


A casa do meu avô ficava num alto
O mais alto escalvário do lugar.
Tinha seis janelas grandes na frente,
No meio, medida palmo a palmo furava a porta,
E pra se chegar até o batente
Cinco degraus davam pro chão e davam pra cima.
Os esteios dos oitões eram de aroeiras, duas de cada lado,
Três janelas de cada lado davam para os quartos da frente,
E duas perto da porta davam para a grande sala
Ocupada por dois bancos de Angelim, uma mesa.
De madeira e grude, e mais uns cinco tamboretes
Forrado com couro de boi, sem tratar.
Era assim a casa do meu avô, onde meu pai nasceu,
As aroeiras até pouco tempo resistiriam ao peso
Das telhas lodoentas e encharcadas.
E foi abaixo o imponderável, o que se esperava
Ver de suas janelas o fim do mundo.
Meu avô foi antes, subiu aos céus por uns degraus azuis.
Meu pai, que lembro, vestido de calça caqui
E camisa branca de manga longa, pano passado,
Ainda moço, bonito, com as duas mãos nos bolsos,
Pra lá e pra cá, como peixinho na beira da aguada,
Ia e vinha, ia e vinha, até entrar de vez, se sentar.
Também meu pai se foi e foi agora, depois que
O casarão já tinha ruído. Ele também com certeza
Já subiu pelos mesmos degraus azuis que fez meu avô.
Hoje do que falo, do que calo, do que vale
Eu sonhar, pensar e chorar acordado,
Resta ainda muito, um monte imensurável
De adobes e telhas verdes. E quando ainda hoje vejo,
Do casarão não me lembro.
Lembro do meu Avô, e lembro do meu Pai,
Por aqueles cinco degraus descendo para o chão,
E ascendendo rumo ao céu.
NOITES BRANCAS

Na minha terra,
Quando os raios da lua descerra,
Para o beijo nupcial
Do juremal
Da nívea, perfumosa e delima coma:
Quando a noite é silente,
O céu é todo azul e a terra é todo aroma,
A gente escuta embevecidamente,
A música celeste, harpas divinais,
Tangidas de leve, em mística surdinas.

Noites brancas de luar
Derramando na terra um livino langor
A natureza dorme, a sonhar,
Num desmaio de amor.

Foge de nós, a matéria se inclina,
A alma que vai noutros mundos andar...
Ai, noites, a lembrar as noites de Teresina,
Pardais, nas mangueiras, amores a cantar.
POEMA PARA O BLOG AMIGO

O que é que tanto martela,
Cutela, cutela, cutela, cutela.
Por que tanto se destrói
E rói, e rói, e rói, e rói.
Porque é que só corta a planta,
E não se planta... Ô anta, ô anta.
Porque é, que quem queima
Não cheira, cheira, cheira,
Até morrer pelos pulmões.
Porque é que matam os veados,
Bichos, toscos, mais animais.
Não se mata pra viver!
ncon
seqüente a consciência do animal,
Entre os bichos é lei, devora outro igual,
Mas não se extingue o pantanal.
Em vez de exterminar a flora,
Te dá agora a animalidade de pensar.
Porque esse grito de madeira.....
Que na mata já se fura inteira.
E todos nós já matamos,
Não há um dono deste lugar.
Matamos... comemos tudo,
E deixando outros esfomeados.
Que pecado, que pecado, que pecado!
Porque a fumaça que despedaça
Milenares troncos verdes?
Porque essa sede em acabar,
Teu ódio é do mundo inteiro?
Te amarras com esses cipós,
Reforças os nós, até virar pó, uma sobra igual,
De santos só temos uns nomes,
A nossa fome é canibal.
A Andiroba caiu,
Pendeu por cima da Cipaúba.
Cortaram bem pelo tronco, a morrer cedo a Ccarnaúba.
Puseram abaixo o Ipê, o roxo o branco e o amarelo,
Coitada da Copaíba,
Desceram às balsas rio arriba.
O mico leão, o micro, macaquinho tão risonhos,
Hoje estão presos, aos caprichos,
E ninguém sabe pra onde.
Mas que desgosto tem Deus,
Ao ver roubado o que é seu,
E por ser tão bom ainda chorararar,
Quando o último homem
Ver que que também morreu.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

MEDO

No passado era o medo vestido de preto
Uma companhia indesejada, um medo
Que me fazia dar febres
E rezar baixinho, trocando as palavras,
Era o medo que tinha do medo.
Um desejo que não escurecesse,
Um medo da noite que se vestia de preto,
Um medo de ficar sozinho com o medo.
Um desejo que o sol permanecesse
Além do crepúsculo,
Quando as cigarras zumbiam escondidas,
Acho que era medo do escuro, do medo.
Agora é um medo vestido de qualquer cor
Afugenta-me de mim o que se conta coragem,
E perpetua-se o indesejável medo de tudo.
Medo de gente, medo de bicho,
Medo da companhia do medo,
O medo me acompanha em qualquer tempo e idade.
Já, amedrontado o desafiei,
Mas quando vi que ele fez dessa desfeita, ira,
Recolhi-me e pedi que não se aproximasse tanto,
Mas ele já estava na distância, dentro,
E me complicou a voz,
Um pedido de socorro, não me deixava dizer.

domingo, fevereiro 04, 2007

NINHO

Se o amor já veio ao teu ninho, e te alimentou,
Regogitando beijos, e água necesária à tua sobrevida,
Não te avexes com sua demora, se já secou,
A umidade em teus lábios, e sentes sede, e ainda duvidas.
Que ele de revolverá, com as mesmas lembranças do ninho,
Não te precipite muito, o cume da encosta, a ele está de vista,
É que não achou ainda a estrela que se lançou a caminho,
Mas com certeza, se te alimentou, alimentou-se também, e a conquista.

Do teu coração, quando querias, deixar em ti esta saudade,
Completar o teu corpo com a cria que agora aguardas,
O amor não tarda, nem falham seus radares aguçados,
E ele, que já foi uma vez e outra, tem guardado no instinto,
A forma da tua boca, do teu coração as batidas contadas,
E nunca, nunca ele se perderá do ninho, já o seu caminho.
DESCRITA


Por ti, meu verso alcance a fama inatingida,
Amor - glória da terra, epopéia da vida.
Por ti, meu verso atinja o píncaro dourado,
Onde teu corpo foi em mármore talhado.

Claridades de luz elevem-se na altura,
Para banhar-te em luz, deuza-escultura.

Suba da terra ao céu, no mais soberbo arranco,
Canto eterno, em louvor desse teu corpo branco.

Surgiste ao mundo triste, ao mundo desolado,
E o mundo, ao teu olhar, foi logo iluminado.

Poeta de gênio, Deus, na inspiração suprema,
Fez-te a estrofe final do Inimitável Poema.

Por ti, meu verso alcance a fama inatingida,
Amor - glória da terra, epopéia da vida.

sábado, fevereiro 03, 2007

RAIMUNDO

Eu sou o badalo solto da vaca parida.
Sou das redondezas, das águas caídas.
Sou o peso e as quinas das pedras que levam
Os penitentes crentes no santo e na reza.
Sou a louvação do homem que faz entre lágrimas,
O arredio que sai arrependido.
O sinal da cruz, o olhar pra traz.
Do carro que o carrega, o que impulsiona, a máquina.
Sou o canto do Acauã na noite agourenta
Sou eu quem fica, que pasta, o jumento,
As tentativas vãs de voltar de novo.
Sou eu o velho recurvado, o olho,
Minado pelo sol, de olhar o tempo
E sentiu só o vento, a chuva não notou.
A chula vida que ninguém pediu,
Sou eu quem pariu os filhos do mundo,
Eu sou mais um dos confundidos Raimundos.
EIS-ME

Aqui me vedes, aqui me tendes.
Com todos os defeitos de antes
Com todos os contados dentes
E tudo esperando o instante.

Completo em meus defeitos vistos,
Um absurdo que se engole seco
Eu que dos modelos disto
Roçando a barriga nos becos.

Sou eu este ser temível e dócil,
Que beija e a minha boca adoça
Uma marca que perdura e coça
Que nunca me extingo, um fóssil.

Como a madrugada, ou uma ameaça,
E que venha o dia e o sol renasça,
Um cúmplice do tempo uma morrasca
Do que foi uma fruta, apenas casca.
RECHEIO

O vazio ocupa o homem
Mais que a si mesmo.
Ele é a presença do nada
Por não ser que em si o tudo cabe
Por não ser que em si cabe o tudo.
O tudo completo, em forma de vida e vazio
A falta que é da própria vida.
Do homem que cabe e acolhe o invisível,
A alma se satisfaz disso...
Do homem, do que há nele e não existe
De recheio e do nada.
No entanto o homem não é o todo vazio,
Que ocupa a vida, uma essência
E a falta, outra hóspede que o habita.
A descoberta da figura da vida, do mundo e do vazio.
O homem é completo de vida, nada, vazio,
Vivíveis, fáceis convivas,
E quando dorme, o homem e ocupa dos seus sonhos,
Sonhos que permeiam a vida, o homem, o vazio, o nada.
E se comunica, causando o caos, a tristeza,
O homem alegra-se com a vida, acordado.
Com o vazio entronizando,
Com o nada acostumado,
Com a vida que lhe deixa atormentado
.
REVÉS

Se a vida se obtém com a morte
Por enquanto aqui na terra
Somos vivos que não falamos,
Não amamos, não sentimos,
Vivos sem sentido, sem sentimentos.
E não expressamos reações
De dores, angústias, amor e ódio.
Passamos um infindo ócio,
E nada realizamos, nada enxergamos.
Partidos de um vácuo extenso,
Pingentes leves que à frente nunca tendemos,
Só ao chão, o lastro processador,
Quando caímos.
Se a vida é após a morte
E desta razão os homens mortos
Ressuscitam, contrariando
A própria consciência divina.
Que ao seu juízo somos todos vivos.
Mas como a morte que se anuncia
É vida, é morte, a nossa condição na terra,
Somos mortos de olhos abertos
Zumbis criadores, mostos que vivem,
Mortos que temem o revés,
A vida.
O homem vive da morte e espera

A vida numa condição de passado.
CARRUAGEM

Debruço-me sobre uma mesa de vidro
E vejo a vida passar em fragmentos por sob meus olhos,
São formigas catando migalhas de comida que a vassoura não levou,
São os ladrilhos do assoalho velho, partidos em pedaços disformes.
Cada quadrado, dependendo da massa que os cola ao chão,
De menos, do lado esquerdo, se mais do lado direito,
São rachados desproporcionais do lado esquerdo,
E se menos do lado direito e mais do lado esquerdo,
Às vezes quebram ao meio, na mesma deformidade.
E a vida vai passando conforme o sol se deita sobre a mesa,
Iluminando acima e abaixo, ou por todos os lados e corpos,
Da mesa que de vidro é liquida, de mim que me espojei pra isso.
Enquanto não mudo a posição dos olhos,
A vida é mesma e corre na sua normalidade, e não se estanca,
E se me viro, buscando uma posição confortável para os meus olhos,
Que já estão inchados só em observar o labor das formigas famintas,
As trincas nos ladrilhos do assoalho, um desenho sem nexo,
A vida já tem passado cenas que não vi, que não li no seu rodapé.
Perdi o enredo, e até me concentrar de novo,
Tenho de encontrar o tijolo onde meus olhos dormiam,
Identificar a formiga que levava um pedaço de macarrão maior que ela.
E cadê ela, ou sumiu, ou dividiu como outras o fardo bom,
E o ladrilho cuja rachadura fazia um y, era do lado esquerdo ou do direito.
Perdi de olho a vida, e ela está sob o vidro, ou dentro dele,
Já mortificada e embalsamada, com o rosto coberto de flores.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

PECADO

Apedrejem esta criatura, culpada de todo o azedume de nossas vidas,
Foi ela quem, ardilosamente tramou com os espíritos nossa descida.
E que nas noites em que dormíamos sonhando com as rosas que na manhã veríamos,
Foi ela quem lançou a praga irretratável e todas, de surpresa vimos fenecidas.

Lancem-na mais à frente, no meio dos condenados da inquisição,
É ela um ser disforme que sob a blasfêmia se cobre,
E nega a Deus, e dos prantos seus, nenhum tem o gosto da lágrima cristã,
Reneguem os seus feitos que por seu tempo já o bastante pra chamar-se cobra.

Eis o que destila a sua boca curta, os seus lábios úmidos, seu andar disperso,
E nem aprende a fala, dos nomes se esquece. Como entrega-la o nosso destino,
Se de queda em queda ela não tem calos, e o que pronuncia ninguém dintingue.

O que logramos em esperar por ela, ainda por pintar-se, uma branca tela.
Talvez se acerte em isola-la longe, e nos dias vindouros, vemo-la de novo,
Se o azar cessou, é só uma criança. Alguém diz promessa, no escuro, vela
.
AOS INFIÉS

Aos homens todos que encontrei na estrada,
Sem pudor mostrei o meu coração.
A alma em festa, de crença iluminada,
Buscava, em cada amigo, um novo irmão.

A todos estendi, na mais sagrada
E verdadeira estima, a minha mão.
Como recompensa tive a malfadada
Espera, a reticência e a volta alargada.

Volto agora extremo e quase exangue...
Para que o mal de crer duro me puna,
Se estampa em mim o peito em fel, em sangue.

Conforta-me dos fados a dolência:
- Se me encontro mais pobre de fortuna
Muito mais rico sou de clemência.

TERESINA

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