segunda-feira, abril 30, 2007

TU

Inquestionavelmente tu
Rosa sobre as outras rosas,
Que sol e vento beijam primeiro
Que à minha boca encanta logo
E os meus olhos, ainda longe
Te avistam e ficam loucos de alegria
Desta beleza soberba.
Quando te abocanho
Não vejo espinhos
Mas eles já estão mordendo a minha carne.
Trabalho de nada, coisa feita à toa,
De saborear teus lábios
Jamais desistiria,
Que assim a vida fica boa.
Fio mais, como diria qualquer poeta,
Cativo teu,
De toca-la enlevam minhas mãos ardentes
E te colho, lançando dentro de mim
Uma profusão de amor.

domingo, abril 29, 2007

COMEÇO

Dizer que é assim que se começa a poesia
Será criar a desordem na relação dos escritos
Como se encontra impresso nas pedras já do começo
Enumerar na ordem e a criar a desordem
Por a mesa depois do jantar e tirar o café.
Bom deixá-la sem começo
Ou num fim previsível como se bebe
A taça de vinho no reveillon.
Inédita, e o seu começo a se descobrir
Pelo seu fim, e sua finaldiade posta no começo.
Se insistes em ter um começo já começado
Vai ao fim do texto e de lá revolve, enrolado
O fio, a teia, que teceu a aranha
Como ela sobe e dece, desce e sobe,
O começo fica na posição do fim, do meio.
A mão em nada se envolve,
Também não se envolve o coração.
O começo é um aquecimento tático,
Um escrete enfilheirado em posição
De começar, no ataque ou na defesa
E nem nessas coisas tem começo
Vês como já se movimentam os leões
Antes de serem soltos na arena,
Assim o poeta se põe fazendo a poesia,
Mesmo quando está caçando o papel
.
QUISERA

Quisera dormir um sono solto
Encabrestado
Seguro em minha própria crina
E resvalar nas nuvens
Como ave leve
No levante do dia.
Ser teu amor nesta quimera
E cogitar sonhos na primavera
Vendo jardins inteiros
Entregando-nos roseiras,
De puras flores,
De vida e cheiro.
Caminharia contigo até
Nos cansarmos com o dia,
Até que ele pedisse uma parada,
E nessa distância
Fosse algum atalho
Rumo dos mesmos pontos
De onde houvesse largado
De tua mão a última ponta de dedo,
De uma vontade de não querer ir.
E nesse engano voltasse a partir
Pro mesmo sonho, a minha vida.

sábado, abril 28, 2007

Um oscar para ti..


e estas foram as minhas palavras ao descrever o teu blog:
" pela simplicidade com que fala do melhor sentimento do mundo; o amor! O Naeno é um amigo muito querido!
Um abraço do tamanho do mundo amigo:)
João JR
Blog que fazem pensar:
www.programadofaustão.zip.net.com
jornalनासिओनल.blogspot.com
O AMOR

Se o que falam do amor
Forem verdades,
Quantas mentiras
Terão me dito.
A mim só serve como chama
Para assar o tempo,
Coser meus pensamentos,
E acomodar-se labareda dentro
O meu coração aperreado.
Se essa brandura, que acalma
E se pendura como medalha,
Grudado nos seus regaços,
E se corteja, e beijam
Com seu gosto de zinabe.
Não é puro ouro
Nem coisa que o valha,
A laarva quente que se espalha,
Como escorre de um um vulcão,
Faz costuras de mim.
Mas se faz outro pelas bênçãos
Que lhes dão quando escorrente
Tapando todas as saídas,
E lá se detém,
Dono da casa,
Donatário da vida, nos seus pedaços.
Ah, deste amor, que não cheiro,
Que é incolor e não se serve a comer nem beber
É deste cozinhado prato a mais do tempo,
Que tenho falado mal.
E azar de quem fala bem.

quinta-feira, abril 26, 2007

CONTO

A poesia,uma irrealidade.
A pena, a que se sentencia,
Que movimenta-se pelo vento.
E há ventanias que se formam
De onde vêm.
É caso de se amarrar em tronco grosso
Porque o poeta come insosso
A carne o feijão e o prato.
Passa-se tempos cultuando a letra,
Passa-se nove meses a esperando
Pelo ventre liso
Para que surja uma rajada de raios,
E fagulhem os papéis
Marcando com ferro
De ferrar gado,
A propriedade do dono.

A poesia mentira
Tirada dos poros de um inventivo
Que qualquer calmante evitaria.
O nome que se dá a ela,
É talvez, o nome de um parente.

A poesia é de outros entes,
E de todos, entre, os mais esvoaçantes
Pássaros que só se ouve o canto.
E o poeta, pobre contista,
De estórias, louco sofista,
Que já foi à marte,
Tocou nas estrelas,
Que diz com firmezas,
Elas são todas rosas.
Eu andei me roçando
Por dentro do jardim.
A lua é uma jardineira triste,
Que fica dias em riste,
E ela como alpiste,
Por ser um pássaro, o maior de lá,
Pra ter sustança nas horas de voar.

quarta-feira, abril 25, 2007

TEIA

Escolho ao acaso uma folha branca
Mas que podia ser verde, ou de outra cor.
A intenção é escrever o poema
E que ele saia nítido como este branco oportuno.
E escrevo, faço intercalações,
Faço a palavra que mais se adequou, distante,
E ponho um risco ligando ela ao nome.
Comecei por chamar saudade
Mas vi que o sentimento era outro,
E o nome obrigado teria
Que não se chamar saudade.
No meio da página a poesia quase enfeite,
Derramo café e espero secarem as idéias.
Ponho um preposto, entre o sentido e o fim,
E
pra quem vem lendo de lá,
A alfândega perde o pedágio
E a poesia ganha outro ditame.

O lápis num desencontro pára.
E a poesia silencia, quando afluíam
As falas, as almas, os encostos.
Aí me deito delgado, de cara pra cima,
E do teto a aranha tece sua nova roupagem,
O acabamento primoroso
Que se visse antes, teria usado na poesia.
RETRATO

Rasguei nosso retrato em bandas.
Numa ficou mais eu
Na outra ficou mais você.
Numa fiquei sozinho
Na outra ficastes sem mim.
Numa fiquei sem braço
Na outra fiquei abraçando
Numa ficastes sem pescoço
Na outra ficou minha mão.
Por esse aveso de coisas
Eu me assombro
Só de perceber
Quão forte é a liga dura
Que me une a você.
Rasguei o retrato
Tentando separar duas vidas.
Mas a nossa direção dividida
Cruza-se em toda frente,
Ou de todo atras.
Faces solitárias,
Mãos persistentes
Que não se separam.
É como um nó.

terça-feira, abril 24, 2007

SINTO

Sinto, e é bom que sinto
Os teus sentidos embaraçados.
Arenga de amor provocado.
Dói, e é bom que doa,
Assim não sinto voar
Para longe de mim este vendaval.
Sinto baterem em minhas costas
E eu vejo um amigo chegando,
Triscando-me pra ver se o olho.
E que se o olhe, talvez o note.
São suas esperanças.
E as minhas, sintomáticas
Que estou sentindo
Que estão doendo.
Lambe-me a face o tenpo visível,
Como um cão que crio
E que me sentiu ausente.
Ah, se o tempo pulasse sobre mim
Para uma luta de contas
E não lograsse o troféu.
Depois comesse em minha mão
Restos de bolachas caídos na mesa.
COMPANIA

Tudo chega ao mesmo tempo
À mesma hora.
Lembranças repetidas
Nas suas ordens de chegada.
Quando me quieto,
Depois do ritual de preparar-me
Para deitar.
Quando ponho a cabeça
E aqueço os panos por entre mim
Tudo chega,
Lembranças tuas, lembranças minhas.
Que vêm com pássaros buscando ninho
Quentar os filhotes
Que ao dia receberam visitas rápidas,
De borboletas, restos de insetos,
Que só receberam ao bico,
Mas nenhum beijo.
E tudo chega e todos se deitam.
A cama é estreita,
Faltam lençóis pra nós.
E eu vou pegar.
Se pelo menos eles dormissem
E me deixassem solta em sonhos
Ou pesadelos de os machucar,
Rolar por cima,
E sob o meu peso
Deles quebrarem-se
Sufocarem-se,
De desistirem e não mais voltarem.
E eles vem, instintivamente rindo,
Em todas as noites,
Quando da minha investida
De deitar sem ti.
De contar-me só, e poder dormir.
BICHO

Chamamentos de amor pelo silvo
Deixa o coração em polvorosa
Ficam os nervos de flor em pele
Com as mãos estiradas em oferta.
Uivos de amor, quando é saúdo
Um cio de fogos pelo olhar
Um raio imprevisto, o espanto
De não se querer acordar.

Amor será te amar, vitória
Ou se volta a mão sem nada
Ou se fica aí por dentro
Latejando desarmado.

Quais das feras, a mais temida,
A onça no seu grunhido,
O cravo no escuro sumido,
Qual mais bota medo,
E quem mais tira
Da nossa coragem intrépida,
Dos nossos jeitos arquétipos,
Terá um mais presente e omisso,
Mas à mostra e invisível,
Com seus golpes imprevisíveis
Que o amor.
Que já vem cor seu ardor,
Uma dor que queima e abrasa,
Uma fera que não se cala
A ponta perto, do arpão.
Nenhuma das feras descritas,
Tem mais cicatrizes que feridas,
Que o amor, um conpulsor,
Que a ninguém tenha remido.

segunda-feira, abril 23, 2007

MORADA

Habito um lugar improvisado
Um fundo, um quarto
De janelas abertas,
Ao mundo todo em sentinela.
Durmo um sono provisório
Interrompidas vezes
Em que tento quietar os olhos.
Sonho um deserto,
Lugar melhor de se ficar
Como estou assim sem lugar,
Bem que os teus olhos me serviriam,
Como guias
Bem que tua boca me serviria
Do que comestes
Em teus acessos fáceis.
Vivo pobre condescendente
De outros tantos desprovidos.
Dormindo em lugares abertos,
Rezando um terço antes de partir.
Pro alto puxar o sono
Pelo canto baixo
Que lembra o amor
Numa noite de festa.
Mas não me avexo,
E a ti, faz como em mim...
A casa é tua, o céu é teu,
E todas as estrelas são
Bem dividias ao meio.
Metade minha metade tua,
É o que tenho,
Esta calçada nua,
Por onde ficarei,
Até que se cumpra o dia,
A hora, e o minuto.

sábado, abril 21, 2007

NÃO VIESTES

Naquele maio
De ventos leves
Demoramos, na tua espera.
E ficaram as flores quietas
De bordados de linhas coloridas
Com motivos de flores de primavera.
À tua chegada.
E fostes faltosa com nossos olhos.
Passastes apertados nós
Em nossas gargantas.
Por qualquer trincado
Um espanto, uma alegria subta
À tua espera.
A quimera, quisera, pousasse
Nas calçadas, nos batentes,
Nos frechais por onde entravas,
Fosse esso o sonho,
A realidde tornando-se.
Tu postas diante dos nossos olhos.
E não viestes no tempo em que rezamos
Novenas inteiras,
Missas, até se completar
O tempo que os Santos pediam.
Foi um longo tempo,
De esticada espera,
E não chegavas.
O tempo da primavera já se contava em fim,
E do começo todos ficamos assim,
Meio duvidosos,
Tristonhos demais.
As flores já se trocaram
O motivo agora era quietude, cautela,
E se vestiram de um branco,
Da fé, que veste este poema.
E pingaram pontos verdes
Reornamentando o corpo,
A esperança, prenunciada, tua vinda.
E não chegastes.
No desespero de espera, fomos
Como um batalhão para a messe,
À tua procura, certos, ao teu encontro.
O consenso entre os amantes teus,
Eu, as rosas, o tempo, o vento,
Chegamos por decifrarmos vários destinos,
O de te encontrar, formosa....
De não te avistarmos, de longe....
O de te socorrer aflita,
Refém de um destino vilão
Que te guardou todo o tempo
Chorando, enfurnada em algum porão.
E não te encontramos.
E boa parte do mundo,
Do que não pareceria mais mundo,
Andamos, vagos, e com a esperança,
Que nunca se desvanecera,
Estivemos o tempo, contadas as horas,
Quebrando gravetos,
Fazendo fogo, nas paradas,
Rezando terços, e orações improvisadas,
E Tu, não ouvistes, nem chegara.
Não sentistes nem procurara.
Voltamos, quase todos nus,
Sem esperança, foscos, encorpado,
Tirados os bordados, as flores.
Eram agora de outra época,
Em que não eram mais flores,
Em talos se vestiram, marrom.
E eu, pobre, de um coração calado,
Sem razão, não me viam a cara.

sexta-feira, abril 20, 2007

BOCA

A boca presume mentiras
Dos dentes que falam verdades.
Há um céu de bom descanso
Estrelas que ardem de brilho.
A boca se espanta com o beijo,
E beija as bordas do mundo
É ela que se faz distante e fecha-se
Numa soberba contração, dormindo.
Fico com a boca por uns dias, calada,
E fecho-me em meu coração
Clausura aberta,
Esperando que tua boca incerta,
Finque no fundo da minha.
O que regurgitas.
Amor, amor, amor,
Não queiras quem já andou perto,
De uma boca, do seu ventre quente,
Dizer não, porque coça o desejo
De um mergulho lá das estrelas,
E dividir bem no meio a terra,
Matar suas feras,
Pelos seus dentes.
Queda, boca ao meu destino
Aprofundo-te no silêncio,
Apenas, passando perto.

quarta-feira, abril 18, 2007

MAR MORTO

Na procela os ventos se quietam
E passam horários de ponteiros livres,
Rodopiam as horas porque o tempo embala
O mar bravio que se separa.
Deixando à tona superfície velhos lunáticos
Com talheres de ouro, candelabros de prata.
No mar das tormentas
Temperou-se o vento
E não quebram ondas
Por sobre os rochedos,.
E virão peixes à superfície,
Entregar-se aos pesqueiros
Como no milagre.
E serão partidos ao meio
E o resto será jogado
Pra que outros peixes comam,
Na confortável areia.
Rompeu-se o mar,
E o farol faz um rastro fino
Que agora é um caminho
Não marés, não mares, não águas.
As praias serão habitadas
Por pássaros silvestres amazônicos,
Ou babilônicos que aportarão aqui.
Calma demais caminhará a onda
Porque sabe, vem e não volta mais.
Aqui há sede, a sede dela,
Onde se perpetua um deserto calmo,
De cá agora se vê Portugal.
GUERRICA

Com a investida das feras
E a procissão silenciosa das formigas
O predaor toma distância de proximidades.
Esperneia,
Faz como quem vai desistir,
Hiptoniza.
E já se aproxima de mim
Sou um Colizeu, só ruínas
De espada e esporas,
E um lastro podre sob os pés.
O inimigo é uma fera larga
E eu prentenso em minha defesa
Não o olho, estou na luta.
Nas tendências de gestos, embaraçosos.
Na fricção do joelho na outra perna,
O lamento do golpe acertado.
E o tempo conta. Desce a linha da sombra
E vai o rival crescendo e eu descendo.
Pobre de mim, tudo que vem é contrário,
É doloroso, é arbitrário.
Armas que não se negociou,
Surgem de todos os lados do meu escudo,
E se renova o seu fulgor,
E eu me abato, e saio,
Caçando becos, olhando lados.
E não feri, mais que em mim dói.
É preciso lutar contra este deus mortal,
Que não se cumpre, por gestos nem palavras.
O que faz de mim,
Ou o que permite que dele, faça.
Somos dois exaustos
Escorados pelas cabeças,
Pelas tabelas. E a prenda bela,
A recompensa, saiu pra retocar o rosto,
Enquanto o díspare roedor,
Deu mais uma volta
E volta foi, de não voltar. Foi lavar-se na foz da rua.
Eu marquei o chão com a minha cor.
E o devaneio por embates,
De ser guerreiro embainhado, escudado,
Piorado em meus prós e contras.

terça-feira, abril 17, 2007

VOLUNTÁRIO

Por um momento que durou sua vida toda
Ele foi do voluntariado de cuidar de tudo,
Passava à vista toda manhãzinha
As borboletas que nunca as alcançava dormindo
E saudava com o olhar mais venturoso,
Cheio de saudade, audácia e cor,
Os canários pousos nos fios da rua.
E visitava de fora, o casulo no seu tempo
De rebento. Fazia emendas nas asas dos passarinhos
Triscadas pelos helicópteros invasores dos seus espaços.
Ia aos lixões demarcar pontos para os urubus,
E lhes dava conselhos, quão perigoso é o sul.
Fazia festa e quermesse para os beija-flores
E lhes beijava o bico, provando do néctar.
Dava nome e sobrenome a todos os outros,
Quem não era parente seu, era do seu amor
E assim amava o tempo, que não se ver
Só por querer criar condições lá dentro
Para que lhe fosse surpresa todo dia, a aurora.

segunda-feira, abril 16, 2007

AMOR, A MORTE

Águas de enxurradas do amor, quem se arrisca,
A segurar garrancho e se assentar em lodo,
Rio sem futuro, que depois da chuva, a vista,
Não terá mais rumo, o que se ver de novo.

Bate o vento trazendo a chuva que tudo traz,
Uma esperança, o amor, lembrança de se agarrar,
Uma vontade espessa, algo que nos faz,
Pensar eterno, desejar os restos que se assentarem.

Águas corredias, no sentido contrário,
O amor nos conduzindo pra de novo se largar,
E tomar o leito revertendo, o horário,
Quando mergulhamos loucos por lhe abraçar.

Uma cuspideira, sujeira do mar,
O amor assim quase sempre nos traz,
Já perdido o fôlego, a visão, o ar,
Dá-nos sua boca como um salva vida, só isso faz.

domingo, abril 15, 2007

DESCOMPENSA

Pena que de tudo ruim
Nem tudo evapora.
E resta a auto-proteção
De tapar os poros,
Inutilizar as mãos.
E o bom, o que a gente ver
E se apetece
O peito o coração,
Essas se verão direito.
Andando loucas na contra-mão.
Algo terrível lhes disseram.
E tudo que é belo é sensível,
Fragiliza-se diante de uma mentira.
E nos deixaram faminstos
Com o coração e o peito a roer.
Sem olhar que tudo ruim,
O indesejado
Que nunca se evapora,
Deixa um pó
De quem ainda vamos nos defender.
Ai os bons dias voláteis,
Vão às distâncias encantados,
Cantando, a canção de esquecer,
Esquecendo, o bem de fazer
E fazendo, quem os amava, sofrer.

sexta-feira, abril 13, 2007

EU E ELA

Lá fora o luar continua
Sinal de que as nuvens
Amanhã ganharão um dia.
Mas só amanhã.
Hoje ainda correm frescos
Esses faaróis perfurantes.
E o dia e a noite
São de nós.
Eu aproveito a lua
Para ser romântico
E lunático.
Uivo como lobo,
Um lobo estático
Sobre um cume quieto
Um cupinzeiro deserto.
Eu aproveito o dia
Para por em dia
A noite indormida,
Dos sonhos com crocodilos
Uma ameaça distante,
Que é só do inverno.
Mas eu antecipo as chuvas,
Para não fazer de dia
O que se mais detesta,
Tomar café,
Sentar no alpendre,
Ir para o almoço
Fazer a cesta.
E quando eu olho
Para o relógio incerto,
Vejo que ainda há tanto tempo
Pra que a noite venha,
E eu me junte a ela,
Amaciando ela,
Tropeçando nela
Me roçando nela,
Andando por ela
Por fora e por dentro.
E pedindo que ela
Não durma,de bela!

quinta-feira, abril 12, 2007

DE MENTIRA

Leia a poesia
E chore e ria.
Leia a poesia
Quando o poeta mentia.
E prantei avassalado,
Transpassado por uma dor
Indescritível
Que só aos queixumes
Do inaudível
Mentor das palavras,
Ela não tem sentido.
Chore a poesia,
Molhe a poesia,
Acalme-a
De um choque térmico,
Leve-a ao coração ardendo,
Traga-a ao peito no inverno.
Cale a poesia
Feche-a em seguida.
Siga os mesmos caminhos idos,
Idade é que não se conta,
Todo coração suporta
Ver morta a poesia.
TEAR
Enquanto eu faço um poema
E te descrevo
Como se não te conhecesse
E meus olhos pregados em ti.
Tudo eu lamento na minha poesia
E tudo sai na alegria
De tua boca rindo.
Queres uma prova de amor?
Eu ando sobre as brasas,
Te ver na minha frente
O papel já pega fogo.
A caneta dança uma interminável valsa,
E de nós quem rodopia,
Quem tem a autonomia nos pés
És tu. Professora de tudo que aprendi.
Enquanto sonho tu acordas
Para fazer de mim teu mimo
Teu cãozinho novo, tua maquiagem.
E eu aprendi o que me ensinastes,
Nnunca olvidar aprendi também.
Graças a ti, poesia feita agora,
Minhas verdades de outrora,
Meu aval inconteste,
A vida contigo, pode dizer-se eterna.
Sem ti é tudo um desmantelo.
Enquanto eu teço o verso
Tu urdes em minha cabeça
Um templo de bombardeios,
Das tantas guerras,
Que comemoramos o seu final.

quarta-feira, abril 11, 2007

ORIGENS
Não pule da árvore
A onda passa com um milhão de anos
Agora é só areia laminada pelo trator
Agora e só a dor de um despejo pesado.
Meu coração anda a mil
Voltando e embaraçando a mola
Que impulsiona a vontade
E se bate frente ao tempo.
E força a fechadura da distância
E entra. E sai aterrorizado
Com as condições do assoalho,
Sujo e cheio de deformidades.
Grita meu peito ressonante
Um barulho misto de wats e potência
Que da esquina, em meia volta,
Se anda a quadra inteira
Ouvindo o alarido do meu coração.
Quero silêncio, calma, paciência,
Quero a certidão de que tudo anda certo.
A volta do tempo,
O primata e a árvore,
Que não houve nada,
Tudo foi passado.
QUINTANA

Escrevo olhando para o céu,
O papel é da mesma cor azul,
Verde, a caneta, da esperança escrita.
E desenho um pássaro voando ao léu.

Estou curioso por ver a paisagem enfeite
Misturo tons que me arregalam a visão,
Buscando sempre as mesmas descobertas,
O céu, é inútil querer dar-lhe outros efeitos.

Brinco com a luz incidente na folhagem,
Que pinto e bordo, da cor e do cortado,
E que propunha, a poesia, enfeita-se
Desses desmandos de nova linhagem.

Ando volátil como o ar fugido,
Que acolho e beijo em minhas mãos aos poucos
E me permito voar com ele aos pedacinhos
Aí nessa folha como tenho sido.

terça-feira, abril 10, 2007

A BOCA DA LOBA

O que a boca fala
Com a cumplicidade dos dentes
Porteiras de saídas e de entradas,
O coração se atemoriza.
E rebate na palavra, esgrima.
A boca não tem a contensão
Do coração.
De ficar calada,
Quando sente o gosto bom
E ácido que leva o fermento dentro.
Bocas que eu beijei,
E as que só sonhei beijando,
Pintaram-me dentro e fora,
Na alma e na gola.
Com marcas de ferros,
Quando dobraram a minha vida.
Sonho com cada uma
E sofro por todas elas,
Sinto os sabores dessas bocas
Em minha língua provadora.
Ah, tua boca, a minha boca agora.
Puxo pela memória,
Mas eu nunca senti nenhuma
Doce como a tua,
Dos formatos da lua,
Quando está cheia,
Quando declina minguando,
E quando vai se levantando
Pros meus olhos escurecerem.
TODOS SOBREVIVEM

Este momento, todo um nada,
Um arquétipo no escuro.
Mas minha alma
De semente boa,
Qualquer hora poderá ser tudo.
E à minha volta
Virão mais comigo
Os que adestrei,
Que dei abrigo.
Pensar bom nesses momentos é bom
É bom construir amigos

Erguer abrigos.
Subir à proa das barcas já imergidas,
Que alguém toca
Em conduzi-la no desafogamento.
E botar força, ajuda-los na vencida,
Pra depois vencer, ganhar o troféu erguido.
E já levantadas almas,
Cantam hinos da procissão sumindo,
A canção da vida, a superfície calma.
E já de novo cortam-nos desafios,
Em leves embarcações de arrimos,
Agora, com a cara suja do lodo,
Cabe escolhermos: Ou o desfrute
Da serenidade do andar erguido,
Ou do que sabemos ser perigoso,
Mas contornável, e removível.

segunda-feira, abril 09, 2007

VIDA

Porque falamos tanto na vida
Se ela nunca nos diz nada,
E que se falasse não confessaria pra nós,
De seus interesses suspeitos.
Não nos seria clara, aberta não se daria.
Quem sabe apenas gesticularia,
Sobre aquilo que já passamos, e é sabido.
O que pretendemos quando ingenuamente a culpamos
Pelos agravos recebidos,
Se ela terá um argumento pronto,
E dirá, se resolver o impossível: também fui vitima.
Não saberá que somos farinha do mesmo saco,
E que às vezes torna-se este saco mais visível e pesado,
Quando sobrecarregas-nos suas falhas e fraquezas.
O que queremos perdendo tempo e parte da vida,
Que boa ou ruim é feita sob a medida do destino,
Dos desafios diários, dos intentos, malogrados.
A vida dá-se em presente não por força do seu querer,
Ela já se vem, quando vimos, e ela também vai
Quando não sabemos, só sentimos sua ausência.
O que queremos da vida a não ser vivê-la plena,
Dar forma ao que nos interessa e ela tem,
Tem momentos de dores e de gozo supremo.
Eu já me calei diante dela. Agora somos como
Adão e Eva sem a iniciativa de quem um ao outro vai procurar.
Quando a procuro, procuro por saber dela,
Sem esperar, contudo a resposta, que muito difícil dirá.
A cada um cabe aceitá-la, dormir a seu lado sem evitar.
Tocá-la, arrancar seus beijos, seus afagos,
Quando temos a mesma vontade o mesmo facho.
Pois, sendo boa ou má companhia a vida é ela,
Distante de tudo e perto do mundo onde nos cabe,
Colada em nós como couro na carne,
A vida, coitada também se abate,
Diante das dores que nossas dores passam.

domingo, abril 08, 2007

TEMPORAL
meu filho pedro num ritual medieval

E nos odiosos olhos dos murais
Por fim descubro quem procurava
Não és tu, Poesia, velha arma
Pura enganação, da minha
Nem tu, Amor, meu, de aventura,
Às encostas me empurrando depois da luta.
Rondava-me a mim, e então me vês
Numa miragem, nos olhares tensos
De vago que me arrastam contra o muro
E a anistia do meu canto.
Sobre o luarRentes mãos que escrevem numa estranha,
Já extinta língua estas palavras
Que por fim compreendo: a vida toda
É real. É bela. Envolvente e raro, e fulgaz.
É o tempo eu não serve mais à vida,
Achado e valoroso.
Mas me refiro
Em mim a minha calma final.
Metade covarde de homem beija os pés da outra
Rainha metade, enquanto esta se declina
E retribui, com humildade o gesto.
A cobra tritura o próprio rabo,
A rodilha de fogo se destrói,
Puxa-se o morto bem ferido
Para fora do tablado:
Este cheiroso holocausto,
Faz-se minha vida.

sábado, abril 07, 2007

SILÊNCIO BREVE

Eu nunca mais vou dizer que te amo
Porque sei que o tempo urde
Contra nós, porque te conta
Como dele.
E eu sou um operário calado
Uma abelha que não zumbe
Mergulhado todo na flor.
Darei-te o néctar que encontrar,
Isso eu te dou.
Porém minha palavra não ouvirás.
Não que a mantenha num calabouço
Desnecessário é repetir o que é.
Tantas vezes disse,
E tanto sei,
Que me investi assim, calar,
Não mais dizer que te amo.

sexta-feira, abril 06, 2007

CURTO

O que me faz contar em versos
Ser este prospecto que ninguém ler todo,
É uma pressa que conta a minha alma, em desassossego
É medo de perder-me enquanto me alongo,
Fazendo um simples ponto curvar-se em circunferência.
É um temor cruel de que ninguém me entenda,
Mesmo que não estenda ao que quero dizer,
E disso mais, sendo uma sinopse
Escrita, me utilizando do que de bom aflora.
Agora mesmo não saberia contar,
Que estes versos são escorridos dos dedos,
Que a maravilha perdeu-se com ele,
Pro fundo foi, na areia se escondeu.
Eu escrevo coisas curtas, mas que não são breves,
E elas se alteram conforme anda o mundo,
Nesta marcha lenta, que a todos engana,
E mais faz motivos, e mais guarda lembranças.
Quando escrevo torno na margem da direita,
Não é temendo um louco desgovernado, vesgo
Que do outro lado rasga-se e buzina
É que ser preciso nos dois sentidos impossibilita,
As palavras cruzarem o tempo e a vida.

AS HORAS

Enquanto passam-se as horas
Os dias vão se acumulando despejados,
Os anos que conto, são por ali separados.
Os minutos vão-se como penas ao vento,
Deles nada escrevi, não tomei nenhum assento.
Enquanto as horas se apressam,
Eu junto tudo com lentidão.
Tudo quer estar disposto em seus lugares.
A minha cadeira de balanço
O pêndulo onde eu tenho montado
Contanto horas,
Contando tempos,
Contado dias,
Remando com o pé nos pedais,
Indo contra e a favor das marés
E o que passa, que eu conto,
Ninguém vê, nem sabe o que é,
A ânsia da espera, o medo da cara aberta,
Cabelos que não sei a cor,
Olhos, que imagino claridade.
E a minha idade, alguém contou,
Todos os segundos
E a hora por chegar...
Por que contaram de mim
Assim, desanimado?

quinta-feira, abril 05, 2007

MEU MENINO
O menino que fui está distante
Andando sobre algum lajedo,
Vendo o resto de água acumulada em poças
Poças que ainda cabem peixes,
Proporcionais ao buraco, ao tamanho de mim.
A essas horas.
Falo das poças dos peixes de ornamento
Querendo saltar o menino, que por aí chora.
E tudo eu faria para ir buscá-lo,
Ter sua companhia, minha que falta
Um pedaço que ficou, melhor
Do que o que se ajoelhou , rezou e partiu.
Eu queria o menino aqui comigo,
Mas como reverter as luas, transgredir as estrelas,
Os invernos que começaram e findaram,
Tantos peixes que no fim morreram.
Mas eu, se me conheço,
Não me dei tempo, e assim mereço.
O menino chora, a essas horas,
Em que as cigarras cantam pro além,
Cantam pra ninguém,
Ninguém quer escutá-las.
Onde pisam aqueles pés riscados de urtigas,
Onde anda o menino, que a mim fustiga,
Sua desaparição, seu conforto de algodão,
Suas conversas longas e boas,
Tempos sorrindo à toa.
Com quem ele parece com as mudanças
Que à ele não se assentaram,
É do mesmo rosto, dos mesmos olhos,
É dos mesmos dias, que não se passaram,
Dos mesmos sonhos que não aconteceram.
As estacas de unha-de-gato
Devem estar ainda encostadas no pequizeiro,
Definhadas.
Não suportam mais a casa que sonhávamos fazer,
Uma morada de quinze palmos de largura
E nove mãos de altura.
Lá íamos morar agregados de meu pai.
Mas quem para me ajudar agora,
Cavar, fincar estacas, subir a cumeeira,
Bater o piso de malho.

quarta-feira, abril 04, 2007

DEVOÇÃO

Eu vi da estrela onde fiz o pouso
Rastros dos pés, de manhã cedinho,

E no Carmelo sempre te beijava as faces
Em pano de enxugar impresso.
Da estrela vi que outras tantas têm
De latejo o pecado que de mim também
Faz seus estragos nas noites em que durmo
Como um escravo açoitado, mudo
Dorme a tranqüilidade,
Dorme o bordão de Deus,
E a música que mais vejo,
Com meus arpejo, e choro,
Lágrimas só de desejo।
E as alturas, as alvuras luas,
Uma descendo e outra já subindo,
Conrastes de tudo aquilo que vejo,
Minha janela dá para o paraíso.
Contorno a estrela, grão pequeno,
Um oceano que elas empurram,
Rumo à distância da longínqua trégua
Meu coração não se aquieta.
Rezo aos santos torturados,
Os que têm passado os mesmos desenganos,
E amo a cruz, escapa-me a espada,
Cravo em meu peito um amor de luz.
Ave cheia de graça,
Amor que tivestes, juras se faça,
Piedade clama contra o amor, chama
Que queima, santifica e mata.

terça-feira, abril 03, 2007

PELO AMOR DE DEUS
Pelo amor de Deus
Não vês que alguém cantando
Está espantando os males seus.
E de cantar quando se cansa,
Seu olhar se escureceu.
Que Deus criou homem e a mulher
À sua imagem e diferenças
E há quem veja o que não é.
Que nem todos os ritos de joelhos,
Doem mais que um adeus.
A Deus isso não é bom,
Mas a gente gosta de infringir o que Ele fez.
Maltratar alguém, ferindo os seus,
Dando à distância um definitivo adeus.
Pelo amor de Deus,
Não vês é necessária a paz,
Unir a todos no que é seu
Querer a paz para o amor,
Que não separe nunca um adeus.
Que os bichos, abjetos
Diante a formosura humana,
São mais ajuizados
E nunca desprezam os seus,
Nem sabem nem falar,
E não tem vontade de sair
Falar adeus.
Pelo amor de Deus,
Não vês que o pranto é um canto
E quem canta ver a Deus.

segunda-feira, abril 02, 2007

CAFÉ

Aquém foi pra mim uma xícara
Que pus no pires, que pus café
E conversei comendo bolachas,
Tomando café, apressado para ficar.
Alguém por mim, limpou a mesa
Catou os farelos de bolacha,
Juntou os utensílios,
Depois beijou a minha lembrança.
Um retrato, que nem mais era eu.
Esse alguém mora comigo
E a dez anos a gente conversa
Todas as manhãs, durante o café.
O resto do dia caca um sabe quem é,
O que fazer. Eu faço intrigas
Comigo e o meu retrato,
Que lembra-me noutro tempo
Um momento em que éramos iguais.
A pessoa que mora comigo
Faz do seu dia mais venturoso,
Limpa as gavetas, vai às lembranças
Uma criança deixada só.
Faz o que come, pega o que bebe,
Prepara a cama, e se deita solta.
Dorme sozinha, vai aos seus sonhos,
Sonha comigo, e arruma a cama
E põe dois travesseiros.

domingo, abril 01, 2007

DE DIA

Tarde demais para acostumar-me com a sombra.
Eu que venho por todo o dia tangendo a claridade
Vendo brotarem flores novas nos escombros,
Cativa-me o medo da noite agora, e fico só,
Desterrado do teu regaço, posto solto,
Como um menino que larga o peito, e agarra o mundo.
Não tinha planos para as estações,
Em todas plantei, e depois desenterrei todas as sementes,
Foi uma brincadeira de menino, uma experiência de nascer.
E morri, quando os teus olhos se fecharam,
Não te via mais, em vez de tu não me enxergar.
Cedo demais para outra coleta entre os que já deram
Ninguém saiu, são os mesmos rostos de ainda pouco,
E tudo o que eu tinha entreguei em troco,
Ao sol, que reneguei, ao dia que decepei,
Da noite que fez dos meus quereres tardios.
Agora é o mesmo tempo de todo o tempo,
Nada serviu a aplacar em mim a réstia
Que persuadiu-me e dormi com ela.
Veio pela janela, insistente o dia, repelido,
E se insinuava como uma amante afogada
Em amor querendo dar-se, alforriada.
Agora que sabes que não me atormentam as nuances do dia,
O tempo, comigo tem sido um elástico tenso,
Que ora está aqui, mostrando-me os taciturnos gestos,
Ora se afugenta, talvez medo de mim, talvez medo dele.
E só Deus saberá contar as horas em que me larguei daqui,
Saí sorrateiro pela lateral do terreiro e nunca mais me vi.
Vi uma sombra calcada sob meus pés, derrotada,
E nada de mim, nem do dia, nem de nada mais restava.

TERESINA

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