segunda-feira, julho 31, 2006


MÁRIO FAUSTINO

Sinto hoje, no coração, um vago tremor de estrelas” (Lorca)

vida, amor e morte são temas capitais da poesia de Mário Faustino. Entrelaçados, esses elementos sustentam o seu timbre poderoso, erudito. A morte em Mário não é apenas um pretexto de escrita, uma vacilação. É anseio, pressentimento. A sua morte trágica em 27 de novembro de 1962, na explosão de um Boeing da Varig, confirmou a previsão de uma frenóloga de Nova York. Morreu aos 32 anos de morte anunciada e pressentida. Toda a sua obra é marcada de presságios, envolta numa aura dramática, tensa, onde a morte paira seu silêncio e vulto.
O poema Romance é exemplar dessa premonição. A respeito desta peça literária, a professora Albeniza Chaves, da Universidade Federal do Pará, se pronunciou: “O poeta experimentará situações místicas, pressentirá a proximidade do seu fim, sentirá, novo Cristo, o abandono e a traição, o peso e a ingratidão do mundo, fará, enfim, a sua via crucis sem conseguir resolver o enigma Vida-Morte, diante do qual seu sentimento é o trágico e o amor fati – aceitação heróica do destino”. Albeniza prossegue em sua análise: “Esse amor fati, ainda expressão de erotismo universal de Mário Faustino, tem algo de tragicidade inerente à atitude desafiadora do homem que procura uma estranha fé na Vida que a Morte revigora. É a confiança do ser desnudo, a fé na existência pela existência, que chega até mesmo a transformar a morte num acontecimento festivo, amado, esperado, como proclama a canção Romance: “Não morri de mala sorte/morri de amor pela morte”.
Poeta construtor, artífice, a mão suando cada verso, a palavra precisa em cada gesto, Mário – que também era jornalista – sabia das torturas que o poeta submete o vate desamparado. De nada adianta recorrer às musas simplesmente; é preciso pulsar a obra, concebê-la como universo a lapidar, suor, trabalho. Escrever – e escrever bem – é uma tarefa difícil, mas o poeta se atirou a essa penosa empreitada. Buscou em Eliot, em Pound, nos poetas da Antigüidade, as pilastras para a consumaSinto hoje, no coração, um vago tremor de estrelas” (Lorca)
Vida, amor e morte são temas capitais da poesia de Mário Faustino. Entrelaçados, esses elementos sustentam o seu timbre poderoso, erudito. A morte em Mário não é apenas um pretexto de escrita, uma vacilação. É anseio, pressentimento. A sua morte trágica em 27 de novembro de 1962, na explosão de um Boeing da Varig, confirmou a previsão de uma frenóloga de Nova York. Morreu aos 32 anos de morte anunciada e pressentida. Toda a sua obra é marcada de presságios, envolta numa aura dramática, tensa, onde a morte paira seu silêncio e vulto.
O poema Romance é exemplar dessa premonição. A respeito desta peça literária, a professora Albeniza Chaves, da Universidade Federal do Pará, se pronunciou: “O poeta experimentará situações místicas, pressentirá a proximidade do seu fim, sentirá, novo Cristo, o abandono e a traição, o peso e a ingratidão do mundo, fará, enfim, a sua via crucis sem conseguir resolver o enigma Vida-Morte, diante do qual seu sentimento é o trágico e o amor fati – aceitação heróica do destino”. Albeniza prossegue em sua análise: “Esse amor fati, ainda expressão de erotismo universal de Mário Faustino, tem algo de tragicidade inerente à atitude desafiadora do homem que procura uma estranha fé na Vida que a Morte revigora. É a confiança do ser desnudo, a fé na existência pela existência, que chega até mesmo a transformar a morte num acontecimento festivo, amado, esperado, como proclama a canção Romance: “Não morri de mala sorte/morri de amor pela morte”.
Poeta construtor, artífice, a mão suando cada verso, a palavra precisa em cada gesto, Mário – que também era jornalista – sabia das torturas que o poeta submete o vate desamparado. De nada adianta recorrer às musas simplesmente; é preciso pulsar a obra, concebê-la como universo a lapidar, suor, trabalho. Escrever – e escrever bem – é uma tarefa difícil, mas o poeta se atirou a essa penosa empreitada. Buscou em Eliot, em Pound, nos poetas da Antigüidade, as pilastras para a consumação de uma obra em vertiginosa ascensão.
Durante os anos em que editou a página Poesia Experiência, no Jornal do Brasil, mostrou sua verve crítica, a capacidade de reconhecer o verso preciso, a poesia fundamental em contemporâneos e avoengos. Comentava com precisão a metáfora ímpar e demolia sem titubear o texto empavonado e incompetente. Exigia dos autores o compromisso com a palavra, com a evolução da poesia. Exigia-lhes conhecimento do terreno, capacidade de superação.

O Mês Presente

Sinto que o mês presente me assassina,
As aves atuais nasceram mudas
E o tempo na verdade tem domínio
Sobre homens nus ao sul das luas curvas.
Sinto que o mês presente me assassina,
Corro despido atrás de um cristo preso,
Cavalheiro gentil que me abomina
E atrai-me ao despudor da luz esquerda
Ao beco de agonia onde me espreita
A morte espacial que me ilumina.
Sinto que o mês presente me assassina
E o temporal ladrão rouba-me as fêmeas
De apóstolos marujos que me arrastam
Ao longo da corrente onde blasfemas
Gaivotas provam peixes de milagre.
Sinto que o mês presente me assassina,
Há luto nas rosáceas desta aurora,
Há sinos de ironia em cada hora
(Na libra escorpiões pesam-me a sina)
Há panos de imprimir a dura face
À força de suor, de sangue e chaga.
Sinto que o mês presente me assassina,
Os derradeiros astros nascem tortos
E o tempo na verdade tem domínio
Sobre o morto que enterra os próprios mortos.
O tempo na verdade tem domínio Amen,
Amen vos digo, tem domínio
E ri do que desfere verbos, dardos
De falso eterno que retornam para
Assassinar-nos num mês assassino
Mário Faustino

E L M A T A D O R

H. DOBAL

empreendedor, uma arqueologia poética dos possíveis jogos intertextuais na obra de H. Dobal obriga-nos a arriscar conjecturas várias. O risco reside, sobretudo, no discurso difundido e publicamente aceito segundo o qual H. Dobal é um poeta intuitivo. A conclusão a que chegamos diante das contraprovas ora apresentadas é peremptória: a poética dobalina combina a consciência da intertextualidade ao conhecimento dos clássicos em língua original, o que nos permite derruir a hipótese doxográfica da intuição. Hindemburgo, fidedigno artífice do verso, elaborou sua poética com pleno domínio dos próprios propósitos estéticos. Não nos surpreende que tal leitura intuicionista seja exercida e reproduzida num ambiente literário estigmatizado pela negligência e pela recusa à erudição. Várias, as hipóteses suscitadas, como em toda arqueologia intertextual, incorrem no risco de apossar-se da voz do poeta, desnudando diálogos ocultos e sugerindo possíveis interpretações às colagens. A ousadia é válida uma vez constatada a impossibilidade de extrair do próprio poeta a veracidade das hipóteses, restando-nos especular na medida em que houver plausibilidade empírica das provas. Ademais, seria descabido perpetuar-nos na hipótese intuicionista sabendo ser Dobal o primeiro a traduzir cummings para a língua portuguesa, ainda em 1949 pelo Caderno de Letras Meridiano. Um poeta cuja publicação primeira tarda aos 38 anos de idade, é bem provável, aguardou conscientemente a hora de atingir a excelência.

As manifestações do intertexto dobalino ocorrem de duas formas: i) a interlocução com textos historiográficos, à guisa de Pound nos Cantares; ii) o diálogo poético propriamente, sobretudo com as tradições anglo-irlandesa — Yeats e T.S.Eliot — e latina, especificamente através da Eneida de Virgílio. Os diálogos historiográficos sugerem um estudo comparativo do método dobalino com o modelo matricial poundiano, o que nos revela alguns pontos comuns entre ambos, sobretudo quanto ao papel ético-cívico das narrativas que insuflam à educação moral através da memória cívica. O civismo heróico e anti-heróico transparece nas representações de Leonardo e El Matador, figuras cuja narrativa biográfica enfatiza os traços de caráter de maneira a torná-los arquétipos de uma moralidade pública a ser defendida e salvaguardada pela poesia. Dois poemas exemplares, porém pouco enfatizados — A França Equinocial e A Cidade Substituída — revelam um Dobal capaz de sintetizar através da colagem e do uso de substantivos próprios à trajetória histórica de uma província. Ei-los:


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uma poesia


OS AMANTES

Eis-me de novo adolescente.

Triste Vivo outra vez amor e solidão
Canto em segredo palpitar macio
De pétala ou de asa abandonada
Outro amor em silêncio e na incerteza

Oprime o coração desalentado.

Ó lentidão dos dias brancos quando
A angústia os deseja breves como um sonho.

Insidioso amor em minha vida
Reverte o tempo para o desespero,
A inquietação da adolescência
E o pensamento me tortura, prende

Como se nunca houvesse outro consolo
Que não é mais de amor. Porém de morte

,

domingo, julho 30, 2006

LOUVOR

Sê louvado, Senhor,
Sê louvado,
Pela vida nos ter preparado.
Sê louvado, Senhor,
Sê louvado,
Deus da Glória,
Sê Glorificado.

Eu louvo a Deus, meu Senhor
Pelo infinito aomor,
Que vem mudar minha vida,
Dar novo sentido
O caminho onde vou.
Eu louvo a Deus na oração
E sinto em meu coração,
Uma alegria imensa,
É a sua presença,
Seu toque de mão.

Eu louvo a Deus na alegria,
De ver raiar novo dia,
Exulto em sua presença,
E os meus sentimentos,
São todos de amor,

Louva a teu Deus, ó Sião,
Porque Ele te protegeu,
Teus filhos estão em casa,a
E a tua paz, de novo,
Ele te Deu.

Sê louvado Senhor,

naeno/1978
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São Francisco de Assis nasceu na cidade de Assis, na Itália, em 1181. Filho de um rico comerciante de tecidos, Francisco Bernardone, nome de batismo, tirou todos os proveitos de sua condição social vivendo entre os amigos boêmios. Tentou como o pai seguir a carreira de comerciante, mas a tentativa foi em vão.
Sonhou então, com as honras militares. Aos vinte anos, alistou-se no exército de Gualtieri de Brienne que combatia pelo papa, mas em Spoleto teve um sonho revelador.
Foi convidado a trabalhar para "o Patrão e não para o servo". Suas revelações não parariam por aí. Em Assis, o santo dedicou-se ao serviço de doentes e pobres. Um dia do outono de 1205, enquanto rezava na igrejinha de São Damião, ouviu a imagem de Cristo lhe dizer: "Francisco, restaure minha casa decadente". O chamado ainda pouco claro para São Francisco foi tomado no sentido literal, e o santo vendeu as mercadorias da loja do pai para restaurar a igrejinha. Como resultado, o pai de São Francisco, indignado com o ocorrido, deserdou-o.
Com a renúncia definitiva aos bens materiais paternos, São Francisco deu início à sua vida religiosa, "unindo-se à Irmã Pobreza". Fundou a Ordem dos Frades Menores, que em poucos anos se transformou numa das maiores da Cristandade. Fundou, com
Clara de Assis, o ramo feminino da mesma Ordem. Para os leigos que viviam no mundo, mas desejavam ser fiéis ao espírito de pobreza e participar das graças e privilégios da espiritualidade franciscana, fundou a Ordem Terceira.
A devoção a Deus não se resumiria em sacrifícios, mas também em dores e chagas. Enquanto pregava no Monte Alverne, nos Apeninos, em 1224, apareceram-lhe no corpo as cinco chagas de Cristo, no fenômeno denominado "estigmatização". Os estigmas não só lhe apareceram no corpo, como foram sua grande fonte de fraqueza física e, dois anos após o fenômeno, São Francisco de Assis foi chamado ao Reino dos Céus.
O amor de Francisco tem um sentido profundamente universalista. Ninguém como ele irmanou-se tanto com todo o universo: foi irmão do sol, da água, das estrelas, das aves e dos animais. O "Cântico ao Sol", em que proclama seu amor a tudo que existe, é uma das mais lindas páginas da poesia cristã. Canonizado em 1228 por Gregório IX, sua festa é celebrada a 4 de outubro.


:: Oração de São Francisco de Assis

Senhor,
Fazei de mim um instrumento de vossa paz !
Onde houver ódio, que eu leve o amor,
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvida, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.

Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz !
Ó Mestre,fazei que eu procure mais.
Consolar, que ser consolado.
Compreender, que ser compreendido.
Amar, que ser amado.
Pois é dando, que se recebe.
Perdoando, que se é perdoado e
é morrendo, que se vive
para a vida eterna !


SALGADO MARANHÃO
Letrista.
Poeta.Ainda adolescente, mudou-se com os irmãos e a mãe para Teresina.Escreveu artigos para um jornal local e conheceu Torquato Neto, que o incentivou a ir para o Rio de Janeiro, o que fez no ano de 1972.Estudou Comunicação na Pontifícia Universidade Católica (PUC).Terapeuta corporal, foi professor de tai chi chuan e mestre em shiatsu.Inicialmente, teve seu nome vinculado em publicações como "Ebulição da escrivatura -Treze poetas impossíveis" (Ed. Civilização Brasileira, 1978, RJ), coletânea que reuniu diversos poetas, como Sergio Natureza (assinando Sérgio Varela), Antônio Carlos Miguel (sob o pseudônimo de Antônio Caos), Éle Semog, Mário Atayde, Tetê Catalão, entre outros.Publicou poemas e artigos na revista "Encontro com a Civilização Brasileira" (1978). Nos anos seguintes, publicou: "Aboio" (cordel/ Ed. Corisco -Teresina - 1984), "Punhos da serpente" (poesia/ Ed. Achiamé, RJ, 1989), "Palávora" (poesia - Ed. Sette Letras, RJ, 1995), "O beijo da fera" (poesia - Ed. Sette Letras, RJ, 1996) e "Mural de ventos" (poesia - Ed. José Olympio, RJ, 1998).Em 1998, ganhou o prêmio "Ribeiro Couto", da União Brasileira dos Escritores (UBE), com o livro "O beijo da fera". No ano seguinte, com o livro "Mural de ventos", foi o vencedor do "Prêmio Jabuti", da Câmara Brasileira do Livro, dividido com Haroldo de Campos e Geraldo Mello Mourão.Colaborou em várias publicações com artigos e poemas, como a revista "Música do Planeta Terra".Sobre ele, declarou seu conterrâneo Ferreira Gullar: "Salgado é um dos mais brilhantes poetas de sua geração e possui um trabalho de linguagem muito especial".

PARCERIAS

Acordei vadio (c/Carlos Pita) • Alguma coisa (c/Herman Torres) • Amorágio (c/Ivan Lins) • Apesar da solidão (c/Vital Farias) • Ave cigana (c/Zé Américo) • Calmaria (c/Zé Américo) • Caminhos do sol (c/ Herman Torres) • Choro da lua (c/Herman Torres) • Coração por dentro (c/Herman Torres) • Curral das maravilhas (c/ Vital Farias) • Diamante bruto (c/ Zé Américo) • Do princípio ao sem fim (c/ Zé Américo) • Eu pensei que você fosse a lua (c/Zeca Baleiro) • Feito passarinho (c/Paulinho da Viola) • Fogo (c/Carlos Pita) • Fundição federal (c/Wagner Guimarães) • Galope à beira-mar (c/Carlos Pita) • Lama das canções (c/Herman Torres) • Lençóis (c/Zé Américo) • Mistura (c/Xangai) • Um Aparte ao Apartheid (c/Naeno • O boi de prata (c/Mirabô Dantas) • Olhos acesos (c/Zé Américo) • Para alegrar coração de moça (c/Ivan Lins) • Peleja (c/ Herman Torres) • Pelo menos o fogo (c/ Vital Farias) • Penúltimo cais (c/ Wagner Guimarães) • Punhos da serpente (c/ Xangai) • Quem mata a mulher mata o melhor (c/ Ivan Lins) • Rapsódia (c/Rodney Mariano) • Recato (c/Elton Medeiros) • Revela (c/Moacyr Luz) • Tambor de crioula (c/ Zé Américo) • Táxi de estrelas (c/Carlos Pita) • Trapaças (c/Herman Torres) • Trem da consciência (c/Vital Farias) • Tributo a Bob Marley (c/Naeno) • Vôo livre (c/Ivan Lins

POESIAS (umas)

KUARUP

de seis milhões
em mil e quinhentos
restou apenas
uma legião
de vultos
soletrando
uma algazarra
zorra,
um kuarup de calça jeans.

os outros foram mortos
até os que estão vivos
até os que não nasceram.

De Palávora, 1995

PÓ & CIA


de vez em quando
a poesia
se insinua
para que eu a possua.

depois
arredia
desaparece
como se habitasse
a outra
face
da lua.

De Palávora, 1995

O VERBO

Passos da manhã
trazem-me o dia
a desovar enganos.

(O amor me busca
como um predador.)

No entanto
o verbo freme. Ateia
fogo aos abismos
reincide ao pó
e ao efêmero.

No entanto arrasto
o canto à borda
dos incêndios.

Ó caminhos que afundam
minhas rasuras!

O que é do tempo
é da terra
o que é da terra
é do ter.

Ó escudos de selva
e trilho!

Do que me atrevo
sobrevivo.





CATULO DA PAIXÃO CEARENSE

Ao se começar um levantamento da música nordestina dentro da indústria fonográfica nacional, nada mais justo que citar aquele que, além de violeiro, foi também poeta pioneiro do Nordeste a ter uma letra sua gravada em disco. Catullo da Paixão Cearense, nascido em São Luiz, em 8 de outubro de 1863, entrou definitivamente para os anais da música brasileira ao trazer o violão das rodas de seresteiros para os conservatórios de música em 1908.
O
registro de Talento e Formosura - sua e de Edmundo Otávio Ferreira- feito pelo cantor Mário Pinheiro em 1906, constitui-se num dos itens mais raros da discografia nacional. Verdadeiro marco na afirmação de uma identidade regional na embrionária indústria cultural brasileira, a gravação deste acetato de 78 rpm se deu graças à instalação do primeiro selo de música no Brasil: a Casa Edison.
É bem verdade que na época da gravação destas e de outras músicas, o compositor de Luar do Sertão já era um vate renomado, tendo suas audições de modinhas penetração nos saraus do Império, passando pelas primeiras décadas do século servindo de fundo musical à República Velha .
Mas a primeira música de tonalidades rítmicas regionalistas, lembrando os folguedos do "Norte" foi Caboca de Caxangá, gravado no mesmo selo em 1913 com a denominação de batuque sertanejo. O registro, feito pela dupla Baiano e Júlia Martins, constitui-se portanto no momento zero em que a incipiente indústria fonográfica categorizou um segmento musical com referência nítida à região de onde teria vindo.
Antes de se lançar no vôo desatinado de querer entender o artista puramente pela sua música, faz -se necessário que o leitor saiba um pouco mais sobre as
origens do poeta.


Letras Catullo da Paixão Cearense

CACÔCA DE CAXANGÁ

Laurindo Punga, Chico Dunga, Zé Vicente

Essa gente tão valente

do sertão de Jatobá

e o danado do afamado Zeca Lima

Tudo chora numa prima e tudo quer te traquejá

Cabôca di Caxangá (bis)

Minha Cabôca venha cá. (bis)

Queria ver se essa gente também sente

tanto amor como eu senti

Quando eu te vi em Cariri

atravessava um regato no Patau

e escutava lá no mato

o canto triste do urutau.

Cabôca, demônio mau, (bis),

Sou triste como o urutau. (bis)

Cabôca de Caxangá (bis)

Minha cabôca, vem cá (bis)

Há muito tempo lá nas moita Da taquara

junto ao monte das coivara

eu não te vejo tu passar

todo os dia até a boca da noite

eu te canto uma toada

lá de baixo do indaiá.

Vem cá, cabôca, vem cá (bis)

rainha di Caxangá (bis)

Da noite santa do Natal na encruzilhada

eu te esperei e descansei

Até o romper da manhã

quando eu saia do arraiá o sol nascia

e lá na mata já se ouvia/pipiando a acauã.


Cabôca, toda manhã som triste de acauã (bis)

Cabôca de Caxangá (bis)minha cabôca, vem cá (bis)


CINZAS


Álgida saudade me maltrata

desta ingrata

que não me sai do pensamento

cesse o meu tormento

tréguas à minha dor

ressaibos do meu triste amor.


Atro é o meu grande martírio

das sevíciasn'alma a cicatriz.

Deus, tem compaixão desteinfeliz

mata meus ais

por que sofrer assim

se ela não volta mais ?
Êsse pobre amor que um dia floresceu

como todo amor que é sem vigor , morreu.

Ai, mas eu não posso esquecê-la, não,

a saudade é enorme no meu coração.

Versos que a pujança deste amor cantei.

lira do poeta que a sonhar vibrei

cinzas, tudo cinzas eu vejo enfim

esta saudade enorme que reside em mim.


Morto ao dissabor do esquecimento

num momento evanizado da paixão

está um coração que muitas dores padeceu

um pobre coração que é o meu.


Dentre de minha alma que se aflige tem uma esfinge emoldurando muitas fráguas

Deus, por que razão que as minhas máguas/a minha dor/ não fogem de minha alma como fugiu o amor ?

APOTEOSE DO AMOR

Deus, só Deus

sabe que os olhos teus

são para mim

dois faróis clareando o mar

na fúria do mar

onde naufragauma barca que o leme perdeu.

Coitada, esta barca sou eu

a naufragar

na existência que é o mar

Socorre-me com a luz dêsses faróis

que sãosão teus olhos azuis .

São dois lírios os teus seios alabastrinos

quase divinos/parecem feitos para o meu beijo.

Muito almejo dos lábios teus

por um sompela glória do nosso amor.

Musa dos versos meus

inspira-me por quem és

minha alma, bendito amor

curvada aos teus pés

rosa opulenta

que o meu jardim ostenta

a queimar em dor

inspiração do meu amor.

Eu nem sei por que te amei

pois tudo em ti é formosura e singular.

Amei teu perfil

teus olhos azuis

eu amei teu olhar.

Por fim nem tens pena de mim

que sofro e choro

na ânsia de te amar.

Ah, triste de quem

vive a chorar por alguém




Luiz Gonzaga nasceu em Exu, Pernambuco, em 13 de dezembro de 1912. Foi um compositor popular. Aprendeu a ter gosto pela música ouvindo as apresentações de músicos nordestinos em feiras e em festas religiosas. Quando migrou para o sul, fez de tudo um pouco, inclusive tocar em bares de beira de cais. Mas foi exatamente aí que ouviu um cabra lhe dizer para começar a tocar aquelas músicas boas do distante nordeste. Pensando nisso compôs dois chamegos: "Pés de Serra" e "Vira e Mexe". Sabendo que o rádio era o melhor vínculo de divulgação musical daquela época (corria o ano de 1941) resolveu participar do concurso de calouros de Ary Barroso onde solou sua música “ Vira e Mexe” e ganhou o primeiro prêmio. Isso abriu caminho para que pudesse vir a ser contratado pela emissora Nacional.No decorrer destes vários anos, Luiz Gonzaga foi simbolizando o que melhor se tem da música nordestina. Ele foi o primeiro músico assumir a nordestinidade representada pela a sanfona e pelo chapéu de couro. Cantou as dores e os amores de um povo que ainda não tinha voz.Nos seus vários anos de carreira nunca perdeu o prestígio, apesar de ter se distanciado do palco várias vezes. Os modismos e os novos ritmos desviaram a atenção do público, mas o velho Lua nunca teve seu brilho diminuído. Quando morreu em 1989 tinha uma carreira consolidada e reconhecida. Ganhou o prêmio Shell de Música Popular em 87 e tocou em Paris em 85. Seu som agreste atravessou barreiras e foi reconhecido e apreciado pelo povo e pela mídia. Mesmo tocando sanfona, instrumento tão pouco ilustre. Mesmo se vestindo como nodestino típico (como alguns o descreviam: roupas de bandido de Lampião). Talvez por isso tudo tenha chegado onde chegou. Era a representação da alma de um povo...era a alma do nordeste cantando sua história...E ele fez isso com simplicidade e dignidade. A música brasileira só tem que agradecer...
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Por meu sentimento nordestino, amor à Luiz Gonzaga, compus três músicas em sua homenagem. Não fosse a auto-censura que me impus, muitas teria feito ainda.

LUA

Ele saiu quase com o raiar do dia,
pois decidiu que era hora de partir,
ele comprou uma passagem só de ida,
num pau-de-arara fez sua triste partida.

Agora tudo aqui ficou tão diferente,
o meu Nordeste ficou triste, de repente,
ninguém mais ouve aquele canto, aquela voz,
cadê o Lua que brilhava sobre nós.

Ele saiu quase com o raiar do dia...

O Assum Preto, agora, triste tá de luto,
o sabiá, não canta mais, se ficou mudo,
São Jõão na roça, ficou lá pro outro ano,
o meu roçado, a linda flor pernambucana.

Pois decidiu que era hora de partir...

Quem tira agora Carolina prá dançar,
quem se assujeita o Velho Lua imitar,
tá prá nascer outro caboclo cantador,
outra sanfona, outro fole gemedor.
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Forró no céu
letra de cruz neto

O Velho Lua clareou o céu,
em noite que nem era de São João,
quando encontrou Januário,
e mudaram o cenário,
tocando xote e baião.

E era gente chegando de todo lugar,
Bethoven pediu prá mais alto tocar,
e Mozart, ficou num dilema,
e falou vale a pena ficar neste lugar.

No forrozão, forró no céu, forrofiar
no forrozão, forró no céu, forrofiar.
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ESTRELA

Aonde é que vai Luiz,
com a sanfona do baião.
Aonde é que foi Luiz,
com a sanfona do baião.
Sem o Lua, haverá uma estrela,
que ilumine o meu sertão.

Cuidado, lá vem Luiz,
Cuidado, Luiz chegou.
Ê sanfoneiro do Céu,
um verdadeiro cantador,
Ê sanfoneiro do Céu,
o verdadeiro tocador.



JACKSON DO PANDEIRO

Nasceu em Alagoa Grande, Paraíba, em 31 de agosto de 1919, com o nome de José Gomes Filho. Filho de uma cantadora de coco, Flora Mourão, que deu a ele o seu primeiro instrumento: o pandeiro.
Seu nome artístico nasceu de um apelido que ele mesmo se dava: Jack, inspirado em um mocinho de filmes de faroeste, Jack Perry. A transformação para Jackson foi uma sugestão de um diretor de programa de rádio. Dizia que ficaria mais sonoro e causaria mais efeito quando fosse ser anunciado.
Somente em 1953, já com trinta e cinco anos, foi que Jackson gravou o seu primeiro grande sucesso: "Sebastiana", de Rosil Cavalcanti. Logo depois, emplacou outro grande hit: "Forró em Limoeiro", rojão composto por Edgar Ferreira.
Foi na rádio pernambucana que ele conheceu Almira Castilho de Alburquerque, com quem se casou em 1956 vivendo com ela até 1967. Depois doze anos de convivência, Jackson e Almira se separaram e ele casou com a baiana Neuza Flores dos Anjos, de quem também se separou pouco antes de falecer.
No Rio, já trabalhando na Rádio Nacional, Jackson alcançou grande sucesso com "O Canto da Ema", "Chiclete com Banana", "Um a Um" e "Xote de Copacabana". Os críticos ficavam abismados com a facilidade de Jackson em cantar os mais diversos gêneros musicais: baião, coco, samba-coco, rojão, além de marchinhas de carnaval.
O fato de ter tocado tanto tempo nos cabarés aprimorou sua capacidade jazzística. Também é famosa a sua maneira de dividir a música, e diz-se que o próprio João Gilberto aprendeu a dividir com ele.
Já com sessenta e três anos, sofrendo de diabetes, ao fazer um show em Santa Cruz de Capibaribe, sentiu-se mal, mas não quis deixar o palco. Já estava enfartado mas continuou cantando, tendo feito ainda mais dois shows nessas condições, apesar do companheiro Severo, que o acompanhou durante anos na sanfona, ter insistido com ele para cancelar os compromissos: ele não permitiu. Indo depois cumprir outros compromissos em Brasília passou mal, tendo desmaiado no aeroporto e sendo transferido para o hospital. Dias depois, faleceu de embolia cerebral, em 10 de julho de 1982
.
_________________________________________________________________________
"Quem deixou de ter contato com o baião, falo na intimidade, deixou de conhecer as melhores vozes da mpb, como quem não foi de perto ver um desses espetáculos de forró, sim, por que o forró de alguns anos atras era um show, também deixou de ver e ouvir os maiores rimistas de que este País tem notícia. Jackson cobria as duas vertentes, tinha uma das vozes mais surpreendentes. Sobrava-lhe ar no diafrágma e disso ele criou o que chamo sincopado. Só ele e o assum-preto possuem. Jakcson criou escola e alguns dos alunos, como João Gilberto, Gilberto Gil, Alceu Valença, Lenine, João Bosco, Luiz Melodia, Crmélia Alves, Jonnie Alf, Elba Rmalho, Zé Ramalho da Paraíba, entre tantos, o ajudam mantê-lo pulsante ainda entre nós. No pandeiro, que deu codnome a ele, sua performance não suplantava muita gente da época.
Falando em outras vozes,... quem não viveu com o baião de a pouco tempo atras, sob o mesmo teto, não ouviu LIndu, a mais forte, mais tocante voz do Baião. Fazia parte do Trio Nordestino.
Impressionante, também nisso tudo, é que, por escolha, estes dois grandes artistas, faziam tudo o que eu falei (sendo os melhores) acompanhados de quase nada. Nada é fraqueza de expressão por que, no caso de Lindu que tinha à sua direita Cobrinha um ritmista sem escola, dos mais fenomenais, do direito Coroné, outro pré-histórico (só prá não chamar de monstro das batidas descompassadas). Jackson do Pandeiro dispensa comentário. Era ele e o pandeiro dele. Viva o Brasil por estes dois de quem falei. Rezemos pra que eles caiam novamente na forma de Deus, e saiam outros iguais, em tudo, a ELES".
naeno rocha

MARIA BONITA

A primeira mulher a participar de um grupo de cangaceiros. Assim foi Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Bonita. Nascida em 8 de março de 1911 (não por acaso o Dia Internacional da Mulher!!) numa pequena fazenda em Santa Brígida, Bahia e filha de pais humildes Maria Joaquina Conceição Oliveira e José Gomes de Oliveira, Maria Bonita casou-se muito jovem, aos 15 anos. Seu casamento desde o início foi muito conturbado. José Miguel da Silva, sapateiro e conhecido como Zé Neném vivia às turras com Maria. O casal não teve filhos. Zé era estéril. A cada briga do casal, Maria Bonita refugiava-se na casa dos pais. E foi, justamente, numa dessas “fugas domésticas” que ela reencontrou Virgulino, o Lampião, em 1929. Ele e seu grupo estavam passando pela fazenda da família. Virgulino era antigo conhecido da família Oliveira. Esse trajeto era feito com freqüência por ele. Era uma espécie de parada obrigatória do cangaceiro. Os pais de Maria Bonita gostavam muito do “Rei do Cangaço”. Ele era visto com respeito e admiração pelos fazendeiros, incluindo Maria. Sem querer a mãe da moça serviu de cupido entre ela e Lampião. Como? Contando ao rapaz a admiração da filha por ele. Dias depois, Lampião estava passando pela fazenda e viu Maria. Foi amor à primeira vista. Com um tipo físico bem brasileiro: baixinha, rechonchuda, olhos e cabelos castanhos Maria Bonita era considerada uma mulher interessante. A atração foi recíproca. A partir daí, começou uma grande história de companheirismo e (por que não!) amor. Um ano depois de conhecer Maria, Lampião chamou a “mulher” para integrar o bando. Nesse momento, Maria Bonita entrou para a história. Ela foi a primeira mulher a fazer parte de um grupo do Cangaço. Depois dela, outras mulheres passaram a integrar os bandos. Maria Bonita conviveu durante oito anos com Lampião. Teve uma filha, Expedita, e três abortos. Como seguidora do bando, Maria foi ferida apenas uma vez. No dia 28 de julho de 1938, durante um ataque ao bando um dos casais mais famosos do País foi brutalmente assassinado. Segundo depoimento dos médicos que fizeram a autópsia do casal, Maria Bonita foi degolada viva.


Aqui se conta a história de Lampião, o famoso capitão Virgolino Ferreira, também conhecido como o "Rei do Cangaço". Não toda ela, pois não é fácil abranger de forma completa a saga de um brasileiro que pode ser equiparado, em fama e feitos, aos famosos personagens do velho oeste americano. Para facilitar o entendimento, ainda que parcial, é necessário situar a história e seu personagem principal no meio físico em que nasceu, viveu e morreu.
Descrever o nordeste, por onde andou Lampião, sem entrar na costumeira lista de nomes de vegetais, tipos de solo e outros detalhes semelhantes, é uma tarefa ingrata. Resultaria desnecessária para quem já conhece a região e incompleta para quem nunca esteve lá.
Embora aparentemente agreste o nordeste é de natureza rica e variada. Ou talvez seja melhor dizer que é um misto de riqueza e pobreza, com imensa quantidade de espécies em sua fauna e flora, embora de clima seco durante a maior parte do ano. Chove muito pouco, o chão é seco e poeirento. A vegetação é rasa e, na maior parte do ano, de cor cinza. De vez em quando surgem árvores cheias de galhos, também secos, frequentemente cobertos de espinhos que, se tocarem a pele, ferem. Raramente se encontra um local onde haja água, mas onde ela se apresenta a vegetação é muito mais verde, apesar de não radicalmente diferente de no restante da região. Saindo da planície e subindo para as partes mais altas, atingindo as serras e os serrotes, o ar tornar-se mais frio e as pedras desenham a paisagem.
Não há estradas, só caminhos, abertos e mantidos como trilhas identificáveis pela passagem dos que por ali circulam, geralmente a pé.
Em breves palavras, esse era o ambiente em que Virgolino Ferreira passou toda sua vida. Pode-se dizer que muito pouco mudou desde então.

LAMPIÃO E SUA HISTÓRIA


Versos de Gonçalo Ferreira da Silva, do cordel "Lampião - O Capitão do Cangaço":

O século passado estava
dando sinais de cansaço,
José e Maria presos por matrimonial laço
em breve seriam pais do grande rei do cangaço.
No dia quatro de junho de noventa e oito,
a pinoestava o Sol, e Mariadava à luz
um meninoque receberia o nome
singular de Virgulino


Lampião

Minha boca ataca

todo verso e toda prosa

e quem fizer no meu baião,

alguma modificação,

Nordeste, o cabra ruim já nasce morto,

baião nunca puxou meu boi,

se é prá fazer canção,

aqui tem tema de mandar pro diabo.

A gente se lembra do rei Lampião

então se pega um violão,

se é prá fazer canção,

aqui tem tema demandar pro diabo

versos de naeno rocha

sábado, julho 29, 2006

Passarinho

Não diga nada,
não fale nada,
não vale nada
o que você tem prá me dizer
eu, virei um passarinho,
ando por outros destinos
que não se cruzam com os teus.

Eu morri e foi só de saudade,
nem falo de felicidade,
nunca tive e nem você.

Pergunte ao tempo,
se em algum momento,
eu fui feliz, de se notar,
Eu agora sou um passarinho,
voando por outros caminhos
que não se cruzam com os teus.

Eu, morri e foi só de saudade,
nem falo de felicidade,
nunca tive, nem você.
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música para o meu pai

Do lado da sombra


Do interior vem este costume: as pessoas constroem suas casas do lado da sombra. Isso é, do lado que o sol se ponha por traz da casa. É um alívio poder sentar no terreiro, esperar os amigos que sempre aportam e se sentam, geralmente num banco comprido que toma quase toda a frente da casa. Esses que chegam só saem à noitinha, depois do café com bolo de tapioca, um taco de rapadura. É comum também os homens se juntarem para jogar baralho, nisso o tempo levado é muito maior, geralmente começam manhãzinha e corre até o anoitecer. Durante o tempo que toma a brincadeira, eles mudam de lugar várias vezes durante o dia: começam debaixo do pé de pitomba; lá para às dez, já estão no beiral da casa, e tomado uns dois bules de café, fumado um purrilhão de cigarros, enquanto o jogo anda, e a gritaria pela paz daquele dia, porque é sábado ou domingo, porque o arroz vai vem, o feijão nasceu e o solo ainda tem água acumulada, porque a novilha pariu pela primeira vez e está com saúde junto com a bezerrinha. Ao meio dia, já estão dobrando a casa pelo lado direito, lá o sol permite montar a mesa com sombra para todas as cadeiras. Quando pende o sol mais um pouquinho já estão do outro lado da casa, na frente, onde encontram sentados outros com outras pretensões. A conversa, o café, o beiju.
Tudo isso vi e experimentei. Nem de tudo participei porque menino não tem muita chance com os homens do interior. Maravilhoso interior, onde deixei fincado o meu umbigo, meus acalantos mais saudosos, parentes que ficaram por lá, um pé de manga que eu mesmo plantei, e muita, muita saudade; tanta que ainda hoje consumimo-nos um ao outro, sem um fim anunciado para que um dê trégua ao outro. "Saudade, palavra triste, em perfumados lençóis; Ter saudade é ser proibido, de escutar tua voz, e nem ver o paraíso, que já reinou entre nós".
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sodade, meu bem,sodade. Sodade do meu amor. Foi imbora, não diche nada, nem uma carta deixou


MANERA JACKSON
(música em respeito ao que representa Jackson do Pandeiro para a música brasileira)

Segura Jackson,
esse forró da Paraíba,
arribalá longe, eu canto
e tudo começou,
lá pro pé-de-serra,
onde vai meu amor.

Manera Jakcson,
com esse compasso,
não faz brincadeira,
tà sobrando breque
prá nego dançar,
tá ficando difícil me acompanhar.

Pinica, aqui, de cá,
menina puxa lá,
é num forróque a gente vai se acabar
Pendura aqui, me dá,
um beijo, um apertão,
só fica bom quando a gente cair no chão.
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Biografia


Nascido no interior da Paraíba, sua primeira vontade foi tocar sanfona. Mas, por ser o instrumento muito caro, os pais deram-lhe um pandeiro. A mãe era cantadora de coco, tocava zabumba e ganzá. Aos 13 anos mudou-se com a família para Campina Grande, onde teve diversos trabalhos e começou a prestar atenção nos cantadores de coco e violeiros das feiras. Foi nessa cidade que surgiu seu primeiro nome artístico, Jack, por influência dos filmes norte-americanos de faroeste a que assistia no cinema. Nos anos 40 transferiu-se para João Pessoa, onde tocou em cabarés e emissoras de rádio. Mais tarde foi para Recife, e foi lá, na Rádio Jornal do Comércio, que adotou definitivamente o nome Jackson do Pandeiro. Em 1953 gravou seus primeiros sucessos: "Sebastiana" (Rosil Cavalcanti) e "Forró em Limoeiro" (Edgar Ferreira). Três anos depois casou-se com Almira, que se tornou sua parceira nas apresentações. No mesmo ano foram para o Rio de Janeiro, e Jackson foi contratado pela Rádio Nacional, onde foi um sucesso de público e crítica por sua maneira de cantar baiões, cocos, rojões, sambas e marchinhas de carnaval. Sua influência é até hoje sentida em artistas que regravam as músicas que Jackson celebrizou, como "O Canto da Ema", gravada por Lenine, "Na Base da Chinela", por Elba Ramalho, "Lágrima", por Chico Buarque, ou "Um a Um", pelos Paralamas do Sucesso. Compositor inspirado e instrumentista de raro talento, popularizou outros clássicos da música nordestina, como "Chiclete com Banana" (Gordurinha/ Almira Castilho), "Xote de Copacabana" (José Gomes), "17 na Corrente" (Edgar Ferreira/ Manoel Firmino Alves), "Como Tem Zé na Paraíba" (Manezinho Araújo/ Catulo de Paula), "Cantiga do Sapo", "A Mulher do Aníbal", "Ele Disse" (Edgar Ferreira) e "Forró em Caruaru" (Zé Dantas). Em 1998 foi o grande homenageado no 11º Prêmio Sharp de Música

LINDU

Toda paixão recomeça,
Num fio, na festa de um coração.
Toda tristeza se acaba,
E o cabra nem sabe o destino da mão.
De novo rir para o vento,
Espora o jumento, e toca pro sul.
No peito bate um zabumba,
Chora com a sanfona, e E a voz de Lindu

E sem nem saber, porque chorou, do seu amor
é mais um que vive,que sabe, não se matou
e o seu coração sabe da reza,
reza pra viver com a mesma dor.

Toda paixão um dia acaba,
Ai não valeu nada ter suado a mão,
o amor está por um tio,
,já raiou o dia pro seu coração.
Agora tão pouco importa,
São tantas estradas que dão para o sul
e no seu peito choroso,
escuta a sanfona e a voz de Lindu.
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Cantor. Compositor.

Em 1960 foi para o Rio de Janeiro e passou a atuar juntamente com Cobrinha e Coroné, na segunda formação do Trio Nordestino. Em 1964, no primeiro LP do Trio Nordestino, teve gravado o coco "Retrato da Bahia". Em 1974, suas composições "Vou ver Luzia", parceria com Antônio Barros e "Pedido de (...)
Arte culinária (c/ Pinto do Acordeom) • Baiano bom era meu pai (c/ Toninho) • Cadeira de balanço (c/ Assisão) • Don Francisco, Dom Tomé (c/ Assisão) • Eu te peguei no fraga (c/ Genival Santos) • Forró desarmado (c/ Cecéu) • Menina apimentada (c/ Assisão) • Menina da noite

TRANSBORDA

Dentro do meu coração,
tem um rio
e uma ponte que ameaça ruir.
Eu vejo o perigo de não
me salvar nessas águas.

OH,meu amor
nunca queira me amar como eu,
oh.meu amor nunca queira
me amar como eu te amo.

O sofrer do amor,
é o da dor mais profunda
e nem toda chaga
que existe no mundo
faz tantos olhos chorarem
e tantos penares.

sexta-feira, julho 28, 2006

Santa Rita de Cássia é considerada a santa das causas impossíveis. Seus pais, apesar de muito pobres, conseguiram dar-lhe uma boa educação. Quando criança, já revelava grande devoção pela Virgem Maria, João Batista e Santo Agostinho. Seu desejo era de entrar na Ordem Agostiniana, mas, obedecendo às regras da época, seus pais a prometeram em casamento, o qual ela aceitou a contragosto. Permaneceu muitos anos casada ao lado de um homem chamado Paulo Ferdinando; este, no início, mostrou-se bom caráter, mas, com o tempo, foi se tornando infiel, violento e irascível. Com ele teve dois filhos gêmeos. Após vinte anos de matrimônio, enviuvou; seu marido, foi assassinado e os gêmeos, contando com catorze anos queriam vingar a morte do pai. Rita não aceitou a idéia de que seus filhos se tornassem assassinos. Em oração pediu que, se eles continuassem com a idéia de vingança, preferia ter seus filhos mortos. Conta-se que ambos adoeceram e morreram em seguida. Muito triste e desolada, foi procurar a Ordem das Agostinianas, mas não pôde ser admitida, uma vez que a virgindade era um dos requisitos exigidos para tal. Mesmo assim trabalhou exaustivamente para ingressar na Ordem. A paranormalidade estava presente em sua vida e muitos acontecimentos foram atribuídos a ela. Meditava sobre a paixão de Cristo, chegando a ter na fronte um sinal (uns dizem ser a coroa de espinhos, outros afirmam tratar-se do sinal-da-cruz). Na arte, é representada com o crucifixo nas mãos. Morreu de tuberculose em 1457, aos setenta e seis anos. O Papa Urbano VIII a beatificou em 1627 e Leão XIII a declarou santa em 1900. Comemoração: 22 de maio.

ORAÇÃO

Santa Rita, padroeira das causas impossíveis.
Obrigado pela proteção poderosa, a mim concedida.Realiza o meu pedido,Que para muitos é considerado impossível.Santa das urgências,atende às Palavras proferidas de Meus lábios. Deus,Que a preveniu com todas as bênçãos escolhidas,Que colocou em tua cabeçaUma coroa de ouro puro, atende-me.(dizer o que precisa) Santa Rita, intercede junto a Deus Que prolongou teus dias E tua santidade séculos afora. Graças a teu auxílio, Santa Rita, Concede-me a glória de ter meu pedido realizado.De grande majestade e esplendor, O Senhor te revestiu. Para todo o sempreSerás a santa dos jovens.Desejo ser objeto de todas as bênçãos.Enche-me de alegria com tua presença e proteção. Eu confio na ação da amada Santa Rita.Por tantas graças,Sempre serei grato,Hoje e sempre. Mostra-me tua força para celebrarmos, juntos, minha vitória! Assim seja!Amém.

Kenneth Garrett, via Associated Press.

Runeberg . . . admitiu que Jesus, “que dispunha dos consideráveis recursos que a Onipotência pode oferecer”, não precisava de um homem para redimir todos os homens. Rebateu, depois, aqueles que afirmam que nada sabemos do inexplicável traidor; sabemos, disse, que foi um dos apóstolos, um dos eleitos para anunciar o reino dos céus, curar os doentes, limpar os leprosos, ressuscitar mortos e tirar demônios (Mateus 10:78; Lucas 9:1). Um homem a quem distinguiu assim o Redentor merece de nós a melhor interpretação dos seus atos. Imputar o seu crime à cobiça (como fizeram alguns, alegando João 12:6) é resignar-se ao móvel mais torpe. Nils Runeberg propõe o móvel contrário: um hiperbólico e até ilimitado ascetismo. O asceta, para a maior glória de Deus, vilifica e mortifica a carne; Judas fez o mesmo com o espírito. Renunciou à honra, ao bem, à paz, ao reino dos céus, como outros, menos heroicamente, ao prazer. Premeditou com lucidez terrível suas culpas. No adultério costumam participar a ternura e a abnegação; no homicídio, a coragem; nas profanações e blasfêmia, certo fulgor satânico. Judas elegeu aquelas culpas não visitadas por nenhuma virtude: o abuso de confiança (João 12:6) e a delação. Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor (I Coríntios 1:31); Judas buscou o inferno, porque a felicidade do Senhor lhe bastava. Pensou que a felicidade, como o bem, é um atributo divino e que não devem usurpá-lo os homens.
[...] A fins de 1907 Runeberg terminou e revisou o texto manuscrito; quase dois anos transcorreram sem que ele o entregasse à imprensa. Em outubro de 1909, o livro apareceu com um prólogo (morno a ponto de ser enigmático) do hebraísta dinarmarquês Erik Erfjord e com esta pérfida epígrafe: No mundo estava e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu (João 1:10). O argumento geral não é complexo, se bem que a conclusão é monstruosa. Deus, argumenta Nils Runeberg, rebaixou-se a ser homem para a redenção do gênero humano; cabe conjecturar que foi perfeito o sacrifício obrado por ele, não invalidado ou atenuado por omissões. Limitar o que padeceu à agonia de uma tarde na cruz seria blasfemo. Afirmar que foi homem e que foi incapaz de pecado encerra contradição: os atributos de impeccabilitas e de humanitas não são compatíveis. Kemnitz admite que o Redentor pudesse sentir fadiga, frio, turvação, fome e sede; também cabe admitir que pudesse pecar e perder-se. O famoso texto brotará como raiz de terra sedenta; não há bom parecer nele, nem formosura; desprezado e o último dos homens; macho de dores, experimentado em quebrantos (Isaias 53:23) é, para muitos, uma previsão do crucificado, na hora de sua morte; para alguns (verbi gratia Hans Lassen Martensen), uma refutação da formosura que o consenso vulgar atribui a Cristo; para Runeberg, a pontual profecia, não de um momento, mas de todo o atroz porvir, no tempo e na eternidade, do Verbo feito carne. Deus totalmente se fez homem até a infâmia, homem até a reprovação e o abismo. Para salvar-nos, podia eleger qualquer dos destinos que tramam a perplexa rede da história; podia ser Alexandre ou Pitágoras ou Rurik ou Jesus; elegeu um ínfimo destino: foi judas.
Jorge Luis Borges . . .
Parte de um plano secretoamigo fiel de Jesuseu fui escolhido por elepara pregá-lo na cruzCristo morreu como um homemum martir da salvaçãodeixando para mim, seu amigoo sinal da traiçãoe
Raul Seixas . . .
Ao contrário da versão dos quatro Evangelhos oficiais, o texto em questão indica que Judas era um iniciado que traiu Jesus a pedido dele próprio, e para a redenção da Humanidade. A principal passagem do documento é atribuída a Jesus, que diz a Judas: "Tu superarás todos eles. Tu sacrificarás o homem que me cobriu."
. . . já sabiam
disso.
PS: A tradução do trecho de "Tres versiones de Judas", de Jorge Luis Borges, é de minha responsabilidade. Só a tradução.
fonte secundária: Biscoito Fino
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UM POEMA PARA OLGA BENÁRIO - o resto não presta.

Desde o começo,
eu sabia de ti,
sob o sol,
como um profeta,
falando tão só.
Como uma imagem,
que é a falsa imagem,
no grande deserto.

E eu te buscava,
com toda certeza,
porque eu estava certa.

Só não sabia,
que era tão longe,
a imagem, o sonho,
nós dois e o deserto.

MEU MEDO


O meu medo começa,
é na estrada que já passei,
com o mesmo sentimento
de não te achar.

Eu sei outros rumos existem,
e em cada um brilha uma luz,
a que treme mais,está na minha mão.

Nas matas desertas não te encontrei,
em mares profundos eu naufraguei.
Sem ver o teu olhar senti,
não poder andar, aí me perdi.

naeno/1989


MEU AMOR


Eu, com o meu amor,

serei muito mais.
Eu serei a estrela,
e ele brilhará,
eu serei a nuveme,
e ele choverá.

Eu com o meu amor
seremos um,
e se um for nada,
seremos nenhum.
E se de tristeza,
eu precisar chorar,
são seus olhos meus,
que lhes vão molhar.


quinta-feira, julho 27, 2006


MILAGRE NA TERRA

Um vento forte passou por aqui,
catou do chão meu pranto que caiu,
deixou alívio no meu peito, que
só era dor antes dele zunir.

Foi correnteza que aumentou riacho,
foi enchente sem se prevenir.

Deixou angústia e muita gente só,
pegou surpresa, a posição do sol
desvirginou toda nuvem do céu,
irreverente, levou meu chapéu.

Não deixou planos para o ano que vem,
foi definido para o que convém,
não aceitou a imposição do céu,
e foi lavrado um milagre na terra.

Foi correnteza que aumentou riacho,
foi enchente sem se prevenir.












VALHA-ME DEUS

Ouvi um ronco lá na mata,
aprontação de quem morreu,
vi os estragos no retrato,
figura inerte de museu.
O passo lento de armaduras
de romanos e judeus,
o diabo só podia andar,
por lá, prá se na no que deu.

Eu vi outro raio cair,
vi outro Deus aparecer,
outro Cordeiro Imaculado,
outro mistério prá saber,
E enquanto des mil mandamentos
não bastava pro poder,
eu vi quem queria da guerra
uma trincheira prá morrer.

Galo cantou ao meio-dia
quando o luar cruzava o sol,
quando murchava a hortaliça,
o mata-pasto e o gira-sol.
Eu gritei alto por teu nome
eu me vi pouco, me vi só,
a cama toda balançava
e eu me molhava de suor.
naeno/88

TERESINA

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