
Vez por outra
Eu sinto no meu lado esquerdo
Bem lá no fundo do peito
Alguém juntando,
Entrouxando, dando nós apertados.
E eu fico como que um prisioneiro
Fora. E dentro o aperto de uma cela estreita.
Fico espremido
E por mais que eu tente
Afrouxar as cordas,
Ou as alças da colcha de cama
Onde rebolaram tudo dentro,
Esses meus intentos são todos vãos.
E me molham as mãos,
Um suor de quem lutara horas a fio,
Desliza em veios estreitos pelo meu corpo.
Cega-me as frentes, as ruas,
Os caminhos por onde ando buscando ar.
E o ar me comprime por dentro,
Por fora se esvai.
De vez em quando
Chega essa lavadeira,
Querendo esfregar-me como se meu peito
Fosse um matulão surrado, empoeirado.
E o que me aperreia não é a correia dobrada
Enfiada na carne.
É meu coração.
É dele minha pena e tormento.
Melhor seria deixá-lo quieto e solto,
E que ele pulsasse, bombeasse e batesse
Nesses seus algozes.
Ah meu coração solto,
Ah meu amor alforriado,
E que eu sentia do lado esquerdo do peito,
Era um vagão desocupado.