quarta-feira, maio 30, 2007

ACOCHO

Vez por outra
Eu sinto no meu lado esquerdo
Bem lá no fundo do peito
Alguém juntando,
Entrouxando, dando nós apertados.
E eu fico como que um prisioneiro
Fora. E dentro o aperto de uma cela estreita.
Fico espremido
E por mais que eu tente
Afrouxar as cordas,
Ou as alças da colcha de cama
Onde rebolaram tudo dentro,
Esses meus intentos são todos vãos.
E me molham as mãos,
Um suor de quem lutara horas a fio,
Desliza em veios estreitos pelo meu corpo.
Cega-me as frentes, as ruas,
Os caminhos por onde ando buscando ar.
E o ar me comprime por dentro,
Por fora se esvai.
De vez em quando
Chega essa lavadeira,
Querendo esfregar-me como se meu peito
Fosse um matulão surrado, empoeirado.
E o que me aperreia não é a correia dobrada
Enfiada na carne.
É meu coração.
É dele minha pena e tormento.
Melhor seria deixá-lo quieto e solto,
E que ele pulsasse, bombeasse e batesse
Nesses seus algozes.
Ah meu coração solto,
Ah meu amor alforriado,
E que eu sentia do lado esquerdo do peito,
Era um vagão desocupado.

terça-feira, maio 29, 2007

DORME AGORA

Dorme enquanto eu choro
Que agora te vejo cintilar
Como a luz embasada
Pelas minhas lágrimas.
Cada um olha os seus momentos.
Há aqueles que só vêem rosas
E outros, forragens indo ao vento.
No teu sono também enxergas,
A mim nesta barulhenta
Correnteza sem rumo e tempo?
Como eu corri pelo vento!
Dorme que eu adormeço assim
De olhos velando os teus,
Quieta, não me olhes mais
Os teus olhos já são meus.
Notícias boas que trouxe
Longínquo campo de estio
Pra lá levarei teus olhos
Pra ver se clareia o dia.
O dia que esconde o rio
Que se veste e outros risos,
Nunca iguais ao teu,
Que quando vejo, eu rio.
Dorme que eu luto,
Contra as feras do sono
Contra os amores sem nome,
Que fazem teu sono confuso.

sábado, maio 26, 2007

MATULÃO
Vivo das lembranças
De levantar do chão meus pés andarilhos.
Nessas investidas, quase muito eu vi...
A florada no seu tempo certo,
E vi errado o argumento dos homens
Duvidosos das chuvas, de língua seca.
Morro das lembranças
Eu apanhando do chão
Meu matulão cansado da estrada
E eu um homem desertificado,
Orado, rezado, benzido pelas sombras boas.
Cacho de alecrim, pra espantar mutuca,
E deixar um cheirinho
Que a gente logo abusa
E de noitinha ouvir a sinfonia mais desencontrada
Da saparia escondida nas locas.
Arengas na estrada de cobra e lagarta,
Araras no topo jogando migalhas,
Que até eu, com a fome no estômago, alimentada,
Pegava e comia, essas lembranças do chão।
Adoeço só de ver essas estradas raspadas,
E um céu descoberto, nem uma nuvem que se pise
Quanto mais me disto desses lugares meus.

domingo, maio 20, 2007

AMANDO

Amor é recompensa de quem caçou
Por todos os cantos da cama,
Que se parece um campo largo,
Passando por cada pelo a luz dos olhos.

É este amor, que se ganha, cego,
Uma recompensa do fim do mundo
Passantes trovões que não enfeiam
As tardes, em tempo, DE verão.

O que vale o preço e a pena,
Pelo, segundo, contado das horas,
Arrepiado furor, que já se espera,
Amando, amado, pela boca.

Amor é o que se colhe
No ínfimo tempo. Tempo de choro,
Tantos riem também da mesma dor,
que se puxa, pelos olhos do amor.

sábado, maio 19, 2007

GINA

A quem saber se eu amo
Amo que sinto desando
Gosto de ter em meus braços
Sempre minha flor dormindo.
Ela é um capricho que impus
A roseira quando inda estava plantado
Que venha o que deseja agora
Acochado o meu coração.
Primeiro veio o botãozinho
Logo se abriu num soninho
Minha delicada tão mínima
Todo diamante é assim
Porque não haveria de ser
O amor todo mais queridinho
Ela não passa de gente
Por aí é flor só do batente
Pra dentro e casa é dos meus braços
Pra onde ela pousa subindo
Amo esta mulher pequenina
Como já a botei em minha sina
Amo esse anjo encantado
Amo essa força de cima
E para que todos sabem
Desse amor que a mim anima
O nome dela confesso
Eu mesmo não sei qual daria
Mas quando a viram no galho
O mais alto da rosa-mimo
Já foram logo chamando
O meu amor de GINA.

quarta-feira, maio 16, 2007

ACASO
Acaso esquecestes as mãos
Que te abençoavam do regaço à boca.
Nutrindo-se do pó da pele
Que o teu corpo quente espalhava
E lhes revolviam o vento.
Acaso esquecestes o dorso largo
Do benfazejo amor
Que te conduziu onde bem quisestes,
Às estrelas lá no seu cume,
A lua no seu retorno.
Quem te apontava o céu
E não te deixava solta,
Enquanto não chegava a aurora.
Acaso esquecestes
Das noites mais turvas,
Dos olhos sem rumos,
Dos braços laçados
Por te bem querer.
Acaso não lembras o nome,
Sequer os traços do rosto,
De quem te amou com o gosto
De quem come a fruta
Que mais eu desejei.

segunda-feira, maio 14, 2007

DEUS

Deus o ser invisível que se põe entre nós e os nossos olhos
Uma nascente borbulhante que levanta a areia da profundidade
Um silêncio que se ouve com a quietude do coração
Olhos atentos que nos conta um a um na escuridão, sem velas
Que a todos se revela pela bonificação de acréscimo do seu amor
Um rebento que chora ao ver-Se sair de suas próprias entranhas
E que em nós se acomoda calmamente, comendo e dormindo
Dos mesmos hábitos dos quais já somos costumeiros fazer.
Deus que se perpetua por cada momento, desses mesmos começos,
E que não se finda, mas que se renova todos os dias, nas manhãs
Que ele mesmo traz com o zelo por haver criado.
Deus que na sua magnitude, infinitude, criou um fim imprevisível,
Que a nenhum cabe conhecer. Só o começo, só o meio
Porque o fim, disto de Deus, foi criar-nos uma perfeita obra
Na complexidade de seres humanos. Amados pro Ele incondicional.
Deus que viver não é morrer, mas consubstanciar-se Nele,
E de uma entrega, quase sempre dificultosa, por não sermos
De sua mesma matéria. Relutamos às vezes acreditar Nele
Que vemos, sem precisar dormir para sonhar. Porque Deus
Não é sonho que se conte. E se alguém pensou assim.
Verdadeiramente O viu, e em vendo-O, voltou confuso
Da procura. Que pode ser longa, demorada e curta,
Porque Ele depende de nossa fé, de nosso acreditar dormindo.
E enquanto dormimos Deus, vela nosso sonho
Com o zelo do artista que aprecia as minúcias agora percebidas,
Na obra que criou. E que quanto mais olha mais fica orgulhoso.
Deus é assim, um presente que se abre todo dia e não se amontoa
Sobre nossa cama, porque a cada dia só temos um, o mesmo,
O Deus inigualável, o Deus inavaliável, o Deus que se dá mais.
Muito mais... Distando, do que recebe de nós.

domingo, maio 13, 2007

O AMOR ESTA AQUI

O amor está aqui com a quietude
De não se ver ninguém.
A bordo do meu do meu coração, imerso
E sigo lambendo a proa
Sabedor.
De que o amor por tudo quieta-se
E dorme até de pé
Encostado no tempo,
Porque todo tempo tem contra
Que lhe segura
E todo tempo, também, tem a favor
Que lhe faz sentir o fôlego.
O amor está aqui,
No convés do meu corpo,
Um barco exausto
Que faz um passo a cada eternidade.
E disso o amor se aproveita
Para estar em toda parte
Em todo rumo,
Se quem ama anda sem prumo,
Encalhado em seus caminhos,
Ele se apossa dos ninhos,
Que encontra com ovos dentro.
O amor está aqui. E agora?
Agora é muito tempo para tecer
Planos para no futuro ter,
A casa boa, o amor em paz
Convicto de que o trabalho é seu.

sexta-feira, maio 11, 2007

ROSAS DO CAMINHO

Hoje eu dei para a moça que trabalha no banco
Onde eu não mantenho conta corrente,
Uma rosa de oito pontas.
Era uma rosa singela, tirada de um jardim
Do caminho da agência bancária.
Ela que andava esquecida de mim,
Com os olhos mais displicentes,
Que tiveram antes sobre mim, mais atentos,
Não como os olhos que vislumbram algum perigo,
Antes um abrigo, para os meus tão buliçosos.
E por este gesto senti que ela ficou
De novo me vendo.
Olhando a mim e a rosa.
Ela não tinha lugar para colocar a rosa,
E eu sugeri seu cabelo
Ela disse que não, que estava em serviço.
Ai meu coração falou: é isso, é isso,
Sugeri que ela a pusesse no decote.
Pior ainda.
Ela sorriu a fechou na mão e disse
Vou mergulhá-lo na água enquanto espera
Eu chegar em casa.
Tenho um vaso esperando por ela,
No criado mudo ao lado de minha cama,
É um vasinho, onde antes de dormir
Faço dormir o meu coração.

quarta-feira, maio 09, 2007

ABRIGADO

O que me faz sentir as contrações de amar
É o externado amor, batizado assim,
Com este nome.
E não é mulher nem é homem
É uma dor de fazer.
Não é um esforço de expelir,
Nem botar pra dentro,
É um desejo ferido de perpetuar-se
Profundo onde ninguém me ache,
E eu me encontre amando.
Barriga aconchegante,
Ó casa quente,
E o inverno com seus ventos,
Não me balançam os cabelos.
Assim me dou e tenho
Abrigo, luz, e gozo.
E me sinto protegido,
Sendo eu também protetor.
Ó casa aconchegante.
Quando entrei, passante,
Atormentei-me querendo,
O prazer de novo,
Reentrar o ventre,
Puxar-me à delícia
Dos teus caprichos,
Entrar pra morar de novo.

segunda-feira, maio 07, 2007

MEDO

Já é como está vendo. Esta chuva que se promete,
Anunciada por nuvens espessas, me arremete,
A outras chuvas, por outros umbrais, e me mete
O mesmo medo de trovões, de fogo e perigo perto.

As chuvas e os meus medos, entrelaçados, lavoura,
Covas rasas, covas funda, plantando esperança de novo,
Esquivo de muito barulho, que quanto mais, menos ouço,
E meu coração se confunde com jatos de água em meu dorso.

É como que está sentindo, a chuva que vai caindo,
Me levará brutalmente, aos perdidos estreitos caminhos,
Do tempo que um operário fazia de tudo, menino,
E caçava o tempo com pedras pisoteando caninhos.

As trovoadas, as pancadas dos pingos pela calçada,
Que batiam e voltavam de novo, a casa ameaçada,
O tempo dessas invernadas, a morte já anunciada,
De qualquer coisa, qualquer gente, eu acorria abraçado.

domingo, maio 06, 2007

DECERTO

Vi a terra toda cavoucada
Em todos os seus sentidos perdidos.
Vi a semente aflita
Como um filho faminto em seu berço,
Boiando como peixe sem vida.
- Aditem-se contra os posseiros
Essas calamidade que me doem os olhos.-
Que nas suas investidas,
Nas veredas que dão adiante,
Adiantam-se sem saídas.
Alternam suas porteiras,
Empunham suas foices
Num dizimar sem limites.
Vão-se urubus,
Acabou tudo, a terra estica
A morte que prenunciada,
Hoje é notícia.
Mexeram na terra de Deus,
Mexeram com os calos seus.
Virá agora tudo de vez,
Melancias cairão do céu,
Suas rameiras cobrirão a visão
Do Paraíso.
Pra que chapéu,
Não tem mais sol,
Nem virão mais chuvas.
Tudo esvaziou-se como carcaça de boi morrido.
Como um distúrbio
Da mente, um pesadelo da gente,
Acabou-se terra natal.
Ninguém nasceu aqui,
Nestes buracos sem fundo,
E nestas intermináveis brechas,
Acaba-se por enterrar o mundo.

sexta-feira, maio 04, 2007

CAMINHO

Molhada, gosto deste cheiro da terra
Cheiro de folhas quaradas,
Tempo passado do tempo...
Estirões sombreados das encostas
Absoluto, desacompanhado, e nada.
Cintilo de areias calcadas
Sabor de folhas das formigas,

Boca sem voz de fado...
Entupo o peito com a madrugada
De alimento, por nada.
Aquele instante arredava o alvor
Dos descampados cobertos da chuva
Solitário e exalando odores...
Já mostrando a flor serena
Com a vertigem dos olhos parados.
Tudo estava em seus lugares
Mas foram lá meus pensamentos
Por onde caminha a saudade?
E era um céu espesso
Arrastado pelo vento.

terça-feira, maio 01, 2007

EU E DEUS

Se me lembro alguma coisa pedi a Deus,
Que me deu a boca e antes de abri-la prometeu
Que quem pedir mais leva os cofos
Que se teceu.

Se me anina essa proximidade dele,
Muito mais me santifica pisar seus rastros,
E, quando só, penso estar distante dEle,
Eu me aceno, na pressa de Deus.

E o que me anima é o mesmo acima.
Autoriza o sonho, relaxa com a rima,
Deixa-me à vontade, para ser saudade.

Para ser da terra, o passo que eu escolher
Se quero viver, terei de morrer.
Se faça valer a Sua autoridade
.
FAROLEIRO

Eu faço versos como quem
Num farol, um plantonista,
Vê o céu muito além
E perto de mim uma vista.

Se vestem meus versos de espumas,
Uma nudez quase mostrada,
E os barcos que olho enfumam
Suas velas na alvorada.

Quanto mais claro vejo o amor,
Quanto mais densa a letra escoa.
Amor tem de ser motivo, uma dor.

Quanto mais turvo olha-me o vazio,
Mas me transformo em amor,
Meus poemas são desvarios.

TERESINA

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