CARRUAGEM
Debruço-me sobre uma mesa de vidro
E vejo a vida passar em fragmentos por sob meus olhos,
São formigas catando migalhas de comida que a vassoura não levou,
São os ladrilhos do assoalho velho, partidos em pedaços disformes.
Cada quadrado, dependendo da massa que os cola ao chão,
De menos, do lado esquerdo, se mais do lado direito,
São rachados desproporcionais do lado esquerdo,
E se menos do lado direito e mais do lado esquerdo,
Às vezes quebram ao meio, na mesma deformidade.
E a vida vai passando conforme o sol se deita sobre a mesa,
Iluminando acima e abaixo, ou por todos os lados e corpos,
Da mesa que de vidro é liquida, de mim que me espojei pra isso.
Enquanto não mudo a posição dos olhos,
A vida é mesma e corre na sua normalidade, e não se estanca,
E se me viro, buscando uma posição confortável para os meus olhos,
Que já estão inchados só em observar o labor das formigas famintas,
As trincas nos ladrilhos do assoalho, um desenho sem nexo,
A vida já tem passado cenas que não vi, que não li no seu rodapé.
Perdi o enredo, e até me concentrar de novo,
Tenho de encontrar o tijolo onde meus olhos dormiam,
Identificar a formiga que levava um pedaço de macarrão maior que ela.
E cadê ela, ou sumiu, ou dividiu como outras o fardo bom,
E o ladrilho cuja rachadura fazia um y, era do lado esquerdo ou do direito.
Perdi de olho a vida, e ela está sob o vidro, ou dentro dele,
Já mortificada e embalsamada, com o rosto coberto de flores.
2 comentários:
Não creio que perdeste a vida de vista. Foi apanas a massaentre os ladrilhos que mingou.Com forças, ela se restabelece.
Tu, a cada dia se supera. Estás se mostrando um baita poeta.
beijos!!!
Marta
Na maioria das vezes, em nossa vida, assim como a formiga achamos que estamos corregando um fardo bem maior do que suportamos. O negócio é saber enxergar além e se descobrir nessa limitação superando barreiras.
Bjo.
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