E L M A T A D O R H. DOBAL
empreendedor, uma arqueologia poética dos possíveis jogos intertextuais na obra de H. Dobal obriga-nos a arriscar conjecturas várias. O risco reside, sobretudo, no discurso difundido e publicamente aceito segundo o qual H. Dobal é um poeta intuitivo. A conclusão a que chegamos diante das contraprovas ora apresentadas é peremptória: a poética dobalina combina a consciência da intertextualidade ao conhecimento dos clássicos em língua original, o que nos permite derruir a hipótese doxográfica da intuição. Hindemburgo, fidedigno artífice do verso, elaborou sua poética com pleno domínio dos próprios propósitos estéticos. Não nos surpreende que tal leitura intuicionista seja exercida e reproduzida num ambiente literário estigmatizado pela negligência e pela recusa à erudição. Várias, as hipóteses suscitadas, como em toda arqueologia intertextual, incorrem no risco de apossar-se da voz do poeta, desnudando diálogos ocultos e sugerindo possíveis interpretações às colagens. A ousadia é válida uma vez constatada a impossibilidade de extrair do próprio poeta a veracidade das hipóteses, restando-nos especular na medida em que houver plausibilidade empírica das provas. Ademais, seria descabido perpetuar-nos na hipótese intuicionista sabendo ser Dobal o primeiro a traduzir cummings para a língua portuguesa, ainda em 1949 pelo Caderno de Letras Meridiano. Um poeta cuja publicação primeira tarda aos 38 anos de idade, é bem provável, aguardou conscientemente a hora de atingir a excelência.
As manifestações do intertexto dobalino ocorrem de duas formas: i) a interlocução com textos historiográficos, à guisa de Pound nos Cantares; ii) o diálogo poético propriamente, sobretudo com as tradições anglo-irlandesa — Yeats e T.S.Eliot — e latina, especificamente através da Eneida de Virgílio. Os diálogos historiográficos sugerem um estudo comparativo do método dobalino com o modelo matricial poundiano, o que nos revela alguns pontos comuns entre ambos, sobretudo quanto ao papel ético-cívico das narrativas que insuflam à educação moral através da memória cívica. O civismo heróico e anti-heróico transparece nas representações de Leonardo e El Matador, figuras cuja narrativa biográfica enfatiza os traços de caráter de maneira a torná-los arquétipos de uma moralidade pública a ser defendida e salvaguardada pela poesia. Dois poemas exemplares, porém pouco enfatizados — A França Equinocial e A Cidade Substituída — revelam um Dobal capaz de sintetizar através da colagem e do uso de substantivos próprios à trajetória histórica de uma província. Ei-los:
__________________________________________________________________________ uma poesia
OS AMANTES
Eis-me de novo adolescente. Triste Vivo outra vez amor e solidão Canto em segredo palpitar macio De pétala ou de asa abandonada Outro amor em silêncio e na incerteza Oprime o coração desalentado. Ó lentidão dos dias brancos quando A angústia os deseja breves como um sonho.
Insidioso amor em minha vida Reverte o tempo para o desespero, A inquietação da adolescência E o pensamento me tortura, prende Como se nunca houvesse outro consolo Que não é mais de amor. Porém de morte
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2 comentários:
Me desculpe a silêncio mas faz um ano que não acesso aquela página no zip. Dei uma olhada no seu blog e percebi seu gosto requintado pela poesia. Eu, infelizmente, não tenho tanta sensibilidade para apreciar mas gostaria muito. Minha página atual é um pouco mais non sense e talvez não te agrade mas lá vc me acha.
Beiju.
Ps: apesar de não permitir comentários estou sempre no meu e-mail ou msn.
É sempre um prazer.
- Faltou especificar que o texto dessa postagem é de autoria de Ranieri Ribas.
http://www.revistaamalgama.hpg.ig.com.br/poesia_debate_dobal.htm
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