domingo, setembro 10, 2006



FAZENDEIRO

Meu pai tinha alguma gebas de terras no interior,
pequeno quinhão de herança, ninguém queria em penhor.
Eu que nasci com a sina, de menino bom, ser sempre,
meu esburacava o chão e eu jogava as sementes.
Aquele pedaço pequenode agreste, dentro do mundo,
foi lá onde vi tudo, aprendi pouco,
a cavar covas profundas, para enterrar o que via,
do que morria: gado encontrado, perdido pelas capoeiras,
morto por pela brava, que ali campeava, impiedora,
ou por picadas de cobras em espreitas, de mordida precisa.

Enquanto meu pai campeava,minha mãe se santificava,
cuidando de sete filhos, sete redes amarradas,
umas doso lados das outras,
corria a epidemia de gripe africana, tosse braba,
o tempo desse tormente, ela nem um só momento passava
que não fosse ali, postada, metendo o rosto nas redes,
em cada um testava o quente, o chiado no peito,
recorria a minha mãe do que disponível tinha,
chás de erva cidreira e outras tantas mesinhas,
carinho, e muitos, muitos, em sobra, beijos,
e de suas mãos benfasejas, saíamos todos curados.
Eu fui um fazendeiro; lá nas contagens do tempo,
hoje conto, nos meus sonhos, trago nos meus pensamentos,
cada cabrito nascido, cada pé de guabiraba,
se eu voltasse a ser menino; não era pra mudar de sina,
era para estanar, fazer calar-se de vez, ela, esta saudade danada.

naeno:apamhado

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TERESINA

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