ESCALADOR
Quando eu era menino
Costumava escalar as pequenas costanerias
Das encostas da minha casa.
Depois procurei outras mais altas
E outras mais esticadas
Que davam pra ver as nuvens passando perto.
Isto nunca me deixou
E eu nunca deixei se perder
O meu aparato de escalador.
Um par de botas de soldado,
Uns fincadores de ferro feitos por meu pai,
E a coragem de um menino
Que sonhava com as alturas.
E fui ganhando mais gosto e audácia,
Subi o que tinha como desafio por perto,
E longe, em temporadas
Que as vezes duravam semana.
Minha mãe não aprovara
Tampouco meu pai, aquilo não rendia nada.
O que rendia era desmatar, roçar, encoivarar,
Queimar, limpar, plantar um campo
E enche-lo de arroz, feijão também.
Mas o que me mantinha quieto,
Era o arquiteto das montanhas
Habitado em mim.
E ficava dias planejando uma escalada
Que às vezes não me tiravam duas horas.
Até que chequei aqui, no meio dos luminares das estrelas,
Passeando por entre as galáxias.
A nuvem onde eu estou já a algum tempo,
Fica, em ponto, abaixo, muito abaixo,
Da Arca de Deus.
Lá é impossível chegar, dista muito do meu lugar,
No canto esquerdo de minha tenda
Estão, como novos meu par de botas,
O perfurante que meu pai me deu,
E alguns metros de corda de palha de tucum.
Mas nunca vi Deus, nen eu posso subir,
E ele parece não querer descer.
Ainda não deu pra vê-Lo.
Mas de vez em quando eu tenho sentido,
Um encosto leve como o vento da manhã,
Como a se roçar na superfície do meu coração.
Penso ser Ele, por que quando alguém se encosta em nós,
Um amigo, alguém que nos ama,
Se sente pelas costelas, pelas pernas, pela frente
Nunca pelo coração.
O coração recebe gratificado a entrada.
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