segunda-feira, janeiro 29, 2007

MÃOS VAZIAS

Passo a mão dentro do mundo,
Como quem vai pegar um mosquito,
Às vezes fico entretido pensando
Haver ficado algo preso entre os meus dedos.
E vou abrindo devagarinho,
Como quem abre um presente, agradecendo,
E não vejo nada contido,
E começo a lavar meu rosto,
Para semtir minhas mãos cheias
E o que levo aos olhos é pouco.
E ao descer a mão à pia,
Nada restou, tudo escorreu pelos dedos.
A vida a assim corre, um afluente,
De queda livre, uma corrente,
Onde a gente mete as mãos,
Enche-as, sente-as cheias
E se leva a boca e quase tudo escoa,
Que para nos banharmos completo,
Tantas vezes teríamos de exercitar o braço,
Num sobe e desce, e traz não traz,
E o que resta quando chega ao cabelo,
Não é suficiente para molhar.
O vácuo, o enorme campo,
Por cima das clareiras, das arvores altaneiras,
Das ervas repisadas, corre a vida,
Um rio que não se vê, um mar que não se vislumbra,
E quando esse depositário, um turbilhão,
Passa por dentro da gente,
É tudo o que não podemos pegar,
E se juntamos é pouco, talvez dê para um almoço,
Mas não dá até o jantar.

Um comentário:

Irritadinha disse...

Simplesmente lindo.

beijo

TERESINA

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