INDESJÁVEL
Tenho comigo uma hóspede indesejável, é a saudade que comigo quer morar, toda noitinha me chama prá umas conversas, mas que palavras ela diz, são tão perversas. Não sei porque perdo o meu tempo em lhe ouvir, se o que ouço são coisas que não quero ouvir, faz ela questão de retratar cada vereda, lugares ermos onde eu costumava andar, fala de quem Deus já chamou, e deixou-me falta, meus personagens que eu já havia, trocado em outros, tem a ousadia de falar sem nem me olhar, e quando olha é para ver se estou morrendo, ou vou chorar. Ela me diz sadicamente não tem planos, não tem prá onde, meu peito é o seu lugar, e eu quieto fico, um ouvinte, do que não quero já disse a ela, tem mais dó, não te mais quero, queria sim, fazer dos vultos que levantas, vê-los comigo, nunca os tirei da lembrança, tu já feristes demais meus corpo inteiro, agora conta a tua aventura derradeira. E ela debocha, dizendo, não é só hóspede, é uma habitante com direitos, quais os meus, pois que vivia longe, e eu tive o descanso, agora não, por que tanto lhe chamei? Não te chamei persona tão dispensável, eu me lembrava das veredas sem ir vê-las, não carecia eu tinha tudo em mim tão vivo, cada deserto, cada palmo de caminho, tinha retido nos meus olhos os paus d'arcos, as cachoeiras, as ladeiras os riachos, e tinha a ti, como correspondentes, fiel, que me mandava essas notícias tão cruéis. Agora vou, decididamente vou, romper com as vistas que me trazem calmaria, esquecer o tempo em que eu era so um menino, e te mostrar que a entrada, é a mesma saída.
naeno:240806 |
Um comentário:
Lindo poema. A poesia há de ser valorizada, lida.
Parabéns, mesmo!!!!!!!!!!!
Alexandre Novaes - poeta
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