quinta-feira, agosto 24, 2006


INDESJÁVEL

Tenho comigo uma hóspede indesejável,
é a saudade que comigo quer morar,
toda noitinha me chama prá umas conversas,
mas que palavras ela diz, são tão perversas.
Não sei porque perdo o meu tempo em lhe ouvir,
se o que ouço são coisas que não quero ouvir,
faz ela questão de retratar cada vereda,
lugares ermos onde eu costumava andar,
fala de quem Deus já chamou, e deixou-me falta,
meus personagens que eu já havia, trocado em outros,
tem a ousadia de falar sem nem me olhar,
e quando olha é para ver se estou morrendo, ou vou chorar.
Ela me diz sadicamente não tem planos,
não tem prá onde, meu peito é o seu lugar,
e eu quieto fico, um ouvinte, do que não quero
já disse a ela, tem mais dó, não te mais quero,
queria sim, fazer dos vultos que levantas,
vê-los comigo, nunca os tirei da lembrança,
tu já feristes demais meus corpo inteiro,
agora conta a tua aventura derradeira.
E ela debocha, dizendo, não é só hóspede,
é uma habitante com direitos, quais os meus,
pois que vivia longe, e eu tive o descanso,
agora não, por que tanto lhe chamei?
Não te chamei persona tão dispensável,
eu me lembrava das veredas sem ir vê-las,
não carecia eu tinha tudo em mim tão vivo,
cada deserto, cada palmo de caminho,
tinha retido nos meus olhos os paus d'arcos,
as cachoeiras, as ladeiras os riachos,
e tinha a ti, como correspondentes, fiel,
que me mandava essas notícias tão cruéis.
Agora vou, decididamente vou,
romper com as vistas que me trazem calmaria,
esquecer o tempo em que eu era so um menino,
e te mostrar que a entrada, é a mesma saída.


naeno:240806

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo poema. A poesia há de ser valorizada, lida.
Parabéns, mesmo!!!!!!!!!!!


Alexandre Novaes - poeta

TERESINA

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