domingo, agosto 27, 2006

Ê SODADE

Eu venho de onde os pés de ipê,
enchem, no mês de setembro,
o vaão de sertão inteiro, de flores,
de cores, que se alastram
por toda a extensão da mata,
em roxo, brancos, amarelos.
Eu venho de onde a saudade,
deu partida e juntou~se a mim,
e viemos, como intinerantes,
pro meu peito para enfim morar,
na figura de um menino,
bem boliçosa, traquina,
pela viagem e aqui,
deu-me trabalho, a focar.
Eu venho de outras entranhas,
não me comporta, este sol estranho,
eu ainda não tenho o tamanho,
prá tanta tristeza guardar.
Eu sou lá desses lugares,
a eles, todo, pertenço,
e se pudesse voltar, voltaria,
fugir daqui, sou pretenso.
Cadê as palmeiras frondosas,
a oiticica no inverno, cadê,
meu cavalinho de carnabeira,
o galho da imbaúba, de onde o longe eu olhava.
Cadê os tetos dispersos, de palha de babaçu,
o mel que ainda sinto o gosto, de abelha uruçu.
Cadê meu bezerro marcado,
com a primeira letra do meu nome,
menino fui fazendeiro, homem perdi o lume,
do vagalume pontilhando a noite escura,
cadê, na frente da casa, de aroeira a grossa cruz,
que protegia minha gente,
meus imrãos, minha mãe, meu pai,
e gente assim confiava,
que dela até o terreiro, só entrava caminheiro,
que Deus, garantia chegada.
Cadê a panela farta de carne de bode novo,
pudesse eu os teria num cofo,
por que me fazem mais falta,
do que as lembranças que trouxe,
do que as promessas de um dia
poder rever, beijar, rezar,
em cada casa, com o povo.
Pessoas, que cada nome, não esquecei, e conheço,
os apelidos, rostos, rastros, sabia o pé.
Quem desse voltar,
se o tempo assim permitisse,
saia de mala e cuia, inusitado,
voltar lá para o meu começo.

SAUDADE PALAVRA TRISTE,
EM PERFUMADOS LENÇÕIS,
TER SAUDADE É SER PROIBIDO,
DE ESCUTAR TUA VOZ,
E NEM VER O PARAISO,
QUE JÁ REINOU ENTRE NOS.

naeno:120503

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bonito o que você diz. Tem a ver comigo, e, com certeza da maioria dos que não são hipócritas.


Nacy

TERESINA

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