terça-feira, agosto 15, 2006






PARA O MEU PAI


O vazio de uma caverna longe,
de um balde boca prá baixo,
de uma boca sedenta,
de um coração despezado,
de um poço renegado,
de uma construção à noite,
dos riachos no verão,
das igrejas fechadas,
de um túmuloo recém cavado,
da panela de um faminto,
dos olhos da tristeza,
dos que não sabem o que dizem,
dos açudes sem chover,
do cárcere do fugidio,
da casa abandonada,
dos vales distantes,
das vidas indiferentes,
da cova sem a semente,
da semente que não germina,
das horas de solidão,
da hora de sol a pino,
do céu pelo mês de agosto,
da cama, onde Ele dormia,
da capoeira queimada,
da barriga da mãe recente,
do caderno de folhas virgens,
das ruinas pelo sertão,
do sertanejo calado,
da boca desdentada,
do estômago em jejum,
da lata sem uma oferta,
de um buraco na estrada,
de um curral, gado fora,
não se comparam ao vazio
que desocupa meu peito agora.

naeno:160806

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu sei o que é perder um pai. É uma dor indescritível, a gente chora até por ver alguém na rua que tenha um pouco de sua aparencia. Em casa a desolação é imensa. Lamento Naeno, por ti. Teu poema é muito delicado, faz a gente de longe chorar também.

Margô
Teresópolis

TERESINA

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