quarta-feira, agosto 09, 2006

A pique ainda das lamentáveis conseqüências de sanguinolenta guerra civil, que rematara ininterrupta série de sedições e revoltas, emergentes desde os primeiros dias do novo regime, a sociedade brasileira, em 1897, tinha alto grau de receptividade para a intrusão de todos os elementos revolucionários e dispersivos. E quando mais tarde alguém se abalançar a definir, à luz de expressivos documentos, a sua psicologia interessante naquela quadra, demonstrará a inadaptabilidade do povo à legislação superior do sistema político recém-inaugurado, como se este, pelo avantajar-se em demasia ao curso de uma evolução vagarosa, tivesse, como efeito predominante, alastrar sobre o país, que se amolentara no marasmo monárquico, intenso espírito de desordem, precipitando a República por um declive onde os desastres repontavam, ritmicamente, delatando a marcha cíclica de uma moléstia.Os governos civis, iniciados em 1894, não tivera a base essencial de uma opinião pública organizada. Encontrara o país dividido em vitoriosos e vencidos. E quedara na impotência de corrigir uma situação que, não sendo francamente revolucionária e não sendo também normal, repelia por igual os recursos extremos da forca e o influxo sereno das leis. Estava defronte de uma sociedade que, progredindo em saltos, da máxima frouxidão ao rigorismo máximo, das conspirações incessantes aos estados de sítio repetidos, parecia espelhar incisivo contraste entre a sua organização intelectual imperfeita e a organização política incompreendida.De sorte que, lhe sendo impossível substituir o lento trabalho de evolução para alevantar a primeira ao nível da última, deixava que se verificasse o fenômeno inverso: a significação superior dos princípios democráticos decaía - sofismada, invertida, anulada.Floriano PeixotoNão havia obstar essa decepção. O governo anterior, do marechal Floriano Peixoto, tivera, pelas circunstâncias especialíssimas que o rodearam, função combatente e demolidora. Mas, no abater a indisciplina emergente de sucessivas sedições, agravara a instabilidade social e fora de algum modo contraproducente, violando flagrantemente um programa preestabelecido. Assim é que, nascendo do revide triunfante contra um golpe de Estado velador das garantias constitucionais, criara o processo da suspensão de garantias; abraçado tenazmente à Constituição, afogava-a; fazendo da legalidade a maior síntese de seus desígnios, aquela palavra, distendida à consagração de todos os crimes, transmudara-se na fórmula antinômica de uma terra sem leis. De sorte que o inflexível Marechal de Ferro tivera, talvez involuntariamente, porque a sua figura original é ainda um intricado enigma, desfeita a missão a que se devotara. Apelando, nas aperturas das crises que o assoberbaram, incondicionalmente, para todos os recursos, para todos os meios e para todos os adeptos, surgissem de onde surgissem, agia inteiramente fora da amplitude da opinião nacional, entre as paixões e interesses de um partido que, salvantes bem raras exceções, congregava todos os medíocres ambiciosos que, por instinto natural de defesa, evitam as imposições severas de um meio social mais culto. E ao debelar, nos últimos dias de seu governo, a Revolta de Setembro, que enfeixara todas as rebeldias contrariadas e todos os tumultos dos anos anteriores, formara, latentes, prestes a explodir, os germens de mais perigosos levantes.Destruíra e criara revoltoso. Abatera a desordem com a desordem. Ao deixar o poder não levaram todos os que o haviam acompanhado nos transes dificílimos do governo. Ficaram muitos agitadores, robustecidos numa intensa aprendizagem de tropelias, e estes se viam contrafeitos no plano secundário a que naturalmente volviam. Traziam o movimento irreprimível de uma carreira fácil e vertiginosa demais para estacar de súbito: dilataram-na pela nova situação adentro.Viu-se, então, um caso vulgarismo de psicologia coletiva: colhida de surpresa, a maioria do país inerte e absolutamente neutral constituiu-se veículo propício à transmissão de todos os elementos condenáveis que cada cidadão, isoladamente, deplorava. Segundo os processos instintivos, que lembra na esfera social a herança de remotíssima predisposição biológica, tão bem expressa no "mimetismo" psíquico de que nos fala Cedeu Sibile, as maiorias conscientes, mas tímidas, revestiam-se, em parte, da mesma feição moral dos medíocres atrevidos que Edis tomavam a frente. Surgiram, então, na tribuna, na imprensa e nas ruas - sobretudo nas ruas -, individualidades que nas situações normais tombariam à pressão do próprio ridículo. Sem ideais, sem orientação nobilitadora, peados num estreito círculo de idéias, em que o entusiasmo suspeito pela República se aliava a nativismo extemporâneo e à cópia grosseira de um jacobinismo pouco lisonjeiro à história - aqueles agitadores começaram a viver da exploração pecaminosa de um cadáver. O túmulo do marechal Floriano Peixoto foi transmudado na arca de aliança da rebeldia impenitente e o nome do grande homem fez-se a palavra de ordem da desordem.A retração criminosa da maioria pensante do país permitia todos os excessos; e no meio da indiferença geral todas as mediocridades irritadiças conseguiram imprimir àquela quadra, felizmente transitória e breve, o traço mais vivo que a caracteriza. Não lhes bastavam as cisões remanescentes, nem os assustava uma situação econômica desesperadora: anelavam avolumar aquelas e tornar a última insolúvel. E como o exército se erigia, ilogicamente, desde o movimento abolicionista até à proclamação da República, em elemento ponderador das agitações nacionais, cortejavam-no, captavam-no, atraíam-no afanosa e imprudentemente.Ora, de todo o exército, um coronel de infantaria, Antônio Moreira César, era quem parecia haver herdado a tenacidade rara do grande debelador de revoltas.O feiticismo político exigia manipansos de farda.Escolheram-no para novo ídolo.
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meu ponto de vista

Boa parte de minha vida de estudante eu confundia, enquanto não conhecia, pelo nome, quase similares, duas das maiores obras literárias que já se fez no Brasil. Refiro-me "Os Sertões" de Euclides da Cunha e "Grandes Sertões Veredas" de Guimarães Rosa. Na época, a obra de Os Sertões foi alvo de bons comentários, vindos de todas as elites literárias do País. No entanto, esquecida rapidamente, em função da procura por parte do público. O seu lançamento coincidiu com a grande conquista diplomática , envolvendo questões de terras e divisas com o Paraguai, uma proeza do Barão do Rio Branco, este, o maior e mais atuante embaixador brasileiro. Ele convenceu os signatários e membros da ONU de que o Brasil, deveria incorporar para si toda a extensão territorial que nos colocam hoje, como o quarto país em extensão territorial.
Passada a euforia da chegada e consolidação das estratégias do nosso Diplomata, o povo, ainda impulsionado pelos bons relatos em torno da obra do grande escritor, o livro Os Sertões passaram a ser vendidos de forma considerável.
Eu não preciso dizer porque poucos brasileiros não sabem que Euclides da Cunha em sua obra, considerada, vejam bem: por mim a maior obra literária de todos os tempos, no seguimento prosa, de que Euclides da Cunha mostrou-se, além de escritor um conhecedor profundo do Brasil, por ele mesmo. O Jornalista, vamos dizer assim, enviado pelo comando presidencial do Brasil, para fazer a cobertura da maior chacina de que já tivemos conhecimento, fugiu ao tema de seu dever, e passou, a analisar a vida do povo sofrido do nordeste: seus costumes, suas crenças, seus valores, suas idolatria. E deduziu por si próprio de que aquele povo, comandados por uma pessoa que julgou "insana", pelo seu comportamento. Atrevia-se se apresentar como um profeta, líder de um bando de desvalidos, que tinham na imagem dele, pelo grau de ignorância que imperava na época, e ainda hoje. Teve o Escritor em vez de ira, e provocação com relação ao movimento, comoção. E isto é relatado no seu livro.
Fico a pensar às vezes, a forma como o presidente da república, o ministério do exército, recebeu o relato do jornalista Euclides da Cunha. Sobre isso nada ouvi ou li.
O paralelo, semelhança, confusão que fiz por muito tempo das duas obras "Os Sertões" e Grandes Sertões Veredas “, devia ser pelo fato de as duas tratarem do tema Sertão, um tema rico para quem mergulha nesse mundo de contradições, imutabilidade, com o tempo. Aqui as coisas ainda ocorrem, em grande parte como no tempo de Canudos”.
Enquanto Euclides da Cunha mostrou habilidade científica, ao mostrar-se conhecedor profundo da vida do nordestino, sendo ele um sulista, Guimarães Rosa, valeu-se da pesquisa em campo, visitando, por anotações/indicações, pessoas que considerava pitoresca. Desses o autor tirou todo o palavreada, os causos, o modo de se vestirem, cuspir, andar, fazer cigarro de palha de milho, enfim, tudo. De posse deste fardo de informações, depoimentos, e com a idéia do que iria fazer, postou-se frente ao mar de Copacabana e, lá, montou a sua obra genial.
Eu chamo atenção para as diferenças de procedimentos, coragem, reconhecimento, paradoxo, que um e outro demonstrou. Nisso a erudição de Euclides da Cunha foi mais valiosa, sua obra, é mais prima, que a de Guimarães, que hoje podia iniciar-se sendo apresentada como uma tese de pesquisa sobre o modo como vivem os nordestinos/mineiros, brasileiros.




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TERESINA

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