PASSADO

Alimento em meu presente, de ira e desprezo,
um passado, que em tudo, tudo, é o meu,
de marcas identificadas, sem dúvidas, é o meu.
Que voltou ou que chegou, em hora inoportuna,
pois nem havia ainda desfeito os talhos,
as cicatrizes nem se mostravam lisas,
e ele chegou por saudade, ou pelos meus rastros
deixados, como a caçar-me qual cão faminto,
ou que só de mim vivia, e sentia-se acalmado.
O que queres de mim ó meu passado,
se o presente ainda não me acostumei,
E tendo os dois o tempo todo, ao futuro não chegarei.
É certo que todos tem um passado,
Mas passado é passado, o nome que ele escolheu,
O tempo que ele escolheu, para ser chamado.
Não vou chama-lo presente, a quem sequer conheço,
Futuro, muito impróprio, terei de saltar o tempo,
E cair onde não conheço, e certo me perderei.
E o que fazer do meu passado, convence-lo agora,
ou conduzirei o despejo, acusando-os de suas inglórias,
pela falta de coragem, fomos o tempo todo plantas,
fincadas sem raízes, sem adubo, nem saímos,
nem andamos pra cima. Quieta-te em ti passado,
tempo largado, estou em litígio com o presente.
naeno:211006