
ANDO
Eu ando assim, a procurar no chão papéis de bala,
Imaginando qual deles tirastes o néctar que bebestes.
Eu ando assim, como um espantalho
Que só manda a roupa larga quando o vento lhe sopra,
Como uma formiga a catar migalhas
Por debaixo de tua mesa.
Eu ando assim, meio trôpego
Cruzando as pernas sem o menor pudor,
De que apareçam meus fundos,
O que tenho escondido e nem sei o mundo.
Pisando os chinelos, medindo errado
O tamanho das passadas.
Me apoiando em muros, pra sentir
A concretude do mundo, que não mais acredito.
Abordando as pessoas, procurando pelo lugar
Que ainda agora passei, e não te encontrei.
Eu ando assim, desconfiado que o universo,
E o Paulo Coelho conspiram contra mim.
Meio zonzo, do grogue de água, da fonte luminosa,
Eu ando agora assim, no presente,
E há um passado, que também piso nele,
Com a mesma desenvoltura já dita,
Um pé pra fora outro pra dentro.
Eu ando assim, meio e inteiro perdido,
Numa cidade que não se vê nem de baixo nem de cima.
Eu ando assim pra traz, e para frente
E vou ao mesmo lugar até a fundar o tempo
E deixar o número da sandália cravado na areia.
naenorocha